George mal acordou, sentiu o frio subindo por suas pernas e sem nem ao menos abrir os olhos já sabia onde estava. O quarto.
Quatro paredes com pintura velha e descascada, alguns quadros de paisagens desconhecidas, algumas teias de aranhas nos cantos. No chão de madeira, um tapete velho e empoeirado faz companhia pra alguns papeis amassados sem valor, algumas roupas velhas emboladas nos cantos e alguns arranhões. Em uma das paredes, ao lado da porta, uma janela colonial com um dos vidros quebrados era tapada por uma cortina desbotada que mais parecia uma toalha. No canto esquerdo do quarto um velho armário de madeira com as portas escancaradas e um espelho, no direito a cama em que George passa as noites e ao lado dela uma mesinha com alguns objetos sem valor e um banquinho. Este era o universo de George.
O menino abre os olhos e suspira ao se deparar com o mesmo teto, nada havia mudado. Então ele senta na cama e procura seu par de chinelos com o pé, em vão. Ele coça os olhos e boceja, logo depois tenta se concentrar no próprio reflexo no espelho. Lá estava ele, o menininho magro e loiro de traços europeus, vestindo a mesma blusa branca suja e amassada e o mesmo calção verde musgo.
George então se levantou, foi até a janela pra ver como estava o tempo. "Ainda frio?!" pensou ele, ao se deparar com mais nada além de uma arvore desfolhada coberta de neve, juntamente com um nevoeiro tão intenso que nada mais poderia se enxergar.
Ele sabia que o dia seria o mesmo, sabia que não haveria novidades, mas algo dentro dele queimava mais forte que os dias passados, algo que lhe dizia que o dia de hoje seria diferente. Por um minuto, George pode sentir a mudança batendo dentro de seu peito como se ela fosse o seu próprio coração, aquilo dava ao menino uma coragem que espalhava por suas veias, "Eu consigo sentir que hoje vai ser diferente, eu preciso mudar." Pensou o menino. Então, num ato de coragem, o pequenino menino loiro caminhou até a porta, colocou suas mãozinhas na fria maçaneta de ferro e fez o movimento para que a porta abrisse, foi ai que para a surpresa de George, a porta se movimentou. Ele havia conseguido o que nunca tentou desde que entrou para o quarto, a porta finalmente havia sido aberta. George sentiu dentro de si uma felicidade que nunca havia sentido antes, e sem pensar duas vezes puxou a porta para saber o que havia do outro lado.
O menino então se assustou, ao invés de se deparar com o enorme nevoeiro que via da janela, o que aquela porta tinha em seu outro lado não lhe era nada excitante muito menos desconhecido, pelo contrario, George conhecia bem aquele cenário. Dando seus primeiros passos para o outro lado, logo ele pode ter certeza do que lhe esperava ali. Ele estava de volta ao mesmo quarto. Nenhuma diferença se quer, nem mesmo a aranha que ficava no canto esquerdo do teto entrelaçada em suas teias, nada havia mudado. Ele tinha saído de seu quarto, para entrar em seu quarto. Era frustrante.
Sem entender bem o que havia acontecido, o menino então caminha até a sua cama, se assenta, abaixa a cabeça e começa a chorar. Ele não entende como ainda estava ali, existia algo nele que o dizia que hoje seria diferente, ele realmente havia acreditado no que estava em seu peito.
George então seca as lagrimas de seus olhos ainda com a cabeça abaixada, e assim que consegue focar em algo com a visão, vê um papel meio amassado no chão. "O que esta em seu coração lhe esquentará no frio" era a mensagem contida naquele papel. O menino então pega o papel, coloca no bolso de seu calção e ergue a cabeça, "Hoje será um dia diferente" ele pensou, reacendendo em si a chama que ele havia sentido mais cedo.
Então ele olha pra sua mesinha, e logo percebe que lá havia algo diferente, em cima dela, no meio dos objetos sem valor, um pequeno frasco era a novidade. George nunca havia visto aquilo ali antes, mas por algum motivo sabia quem havia colocado aquilo ali, mas isso pouco lhe importava. Ele então pega o frasco para tentar saber o que tem ali dentro, e quando ele lê o rótulo se depara com as seguintes frases: "O remédio não lhe entrega a chave, não te cura do frio, não lhe entrega a vida. O remédio apenas lhe devolve as formas e lhe pinta um sorriso". Não lhe pareceu convincente, mas ser convencido não era o que George queria no momento, ele sabia que o tal remédio era a novidade em seu quarto então, sem pensar duas vezes, ele abriu o frasco e tomou o liquido amargo guardado ali dentro.
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Algumas coisas soltas, tipo a mente.
FantasyEntão, eu vou postar algumas coisas aqui de vez em quando pra ter um lugar pra manter guardado, tipo poemas, contos, textos e etc. É isso ai beijo amo voces.