Amanda vivia com os seus pais numa humilde casa na zona do Alentejo, Portugal. Tinha 19 anos, era uma simpática rapariga, adorava dar longos passeios pela praia, era o que mais a fazia feliz. Os seus pais controlavam-na muito, não porque não confiavam nela, mas sim porque Amanda tinha um problema, uma doença. A sua família e amigos não falavam nisso e conviviam normalmente com ela, de maneira a que esta se sentisse normal.
Num dia de Outono, depois do seu passei matinal na praia, chegou a casa e avisou os pais que tinha um comunicado a fazer à família e alguns amigos e que convidassem todos para um almoço. Assim os pais fizeram, não fazendo ideia do que a filha ia fazer.
Nesse mesmo dia se realizou o almoço. Depois de almoçarem, Amanda sentou-se entre a mãe e o pai, e preparou-se para fazer o comunicado.
Disse:
“ Todos vocês são de importantes para mim, de uma maneira que ninguém pode imaginar. Todos sabemos que o dia se está a aproximar, não vos quero ver a sofrer nem fazer sofrer, mas ao mesmo tempo eu também não quero sofrer numa cama de hospital, quero ser feliz durante os últimos momentos que me restam. Ao longo dos anos fui poupando dinheiro, ao inicio não saia para que, mas com o tempo apercebi-me. Em Junho, antes do inicio do Verão, partirei para a Califórnia, ficarei numa casa de praia. Vou estar só, mas feliz, a fazer o que gosto, passear na praia, ver o pôr-do-sol, fazer surf, entre muitas coisas. Quero que saibam que irei ser feliz até ao último dia. E não vou mudar de ideias. Devem estar a pensar que esta decisão é injusta, visto que vocês cuidaram de mim, desde o dia em que nasci. Mas acreditem que é uma decisão que vem do coração, não pensem que faço isto porque não vos amo, coisa que não é verdade, mas sim faço isto porque vos amo, e não vos quero fazer sofrer, mais do que já fiz. Peço desculpa por todo o sofrimento que vos causei, mas obrigada por todos os sorrisos, os momentos, e principalmente obrigada por me fazerem a rapariga sorridente que sou hoje. Eu só não quero que me vejam a sofrer nos últimos momentos, quero que se lembrem de mim, como a pessoa feliz que sou agora e que sempre fui. Obrigada”
Todos protestaram, mas como ela tinha dito, ninguém a ia fazer mudar de ideias, e assim foi. E tal como disse, passou o Natal com a família, a passagem de Ano, a Páscoa, os aniversários, com a família. No inicio de Junho partiu. Despediu-se da sua família e amigos e só dizia: “Não é um adeus, mas sim um até já.”
Ninguém chorou perante Amanda, mas assim que entrou no carro e afastou-se todos choraram. A única e verdadeira amiga de Amanda estava lá, tentava consular os pais de Amanda. Dizia: “ Ela vai ser feliz, mas desta vez sem nós.”
Aquela partida estava a custar a todos, inclusive a Amanda, que se controlava para não chorar. Já no interior do avião deixou cair umas pequenas lágrimas que a fizeram ter noção do quanto gostava daquelas pessoas que tinha acabado de pôr fora da sua vida.
Mas essas lágrimas também a fizeram perceber que tinha tomado a decisão certa, deixá-los antes de ela começar a sofrer, e aproveitar os últimos tempos da sua vida.
Amanda tinha uma doença grave, que lhe iria tirar a vida mais tarde ou mais cedo, podia ser no fim do Verão (passado uns meses), ou podia ser passado um ano. Mas Amanda tinha a certeza de uma coisa, ia sofrer, com o passar dos dias iria ficar mais fraca, até que acabaria por deixar de se conseguir levantar, ou mesmo conseguir fazer a sua vida. Por isso ia para longe dos que amava, para não sofrer ainda mais, ao ver sofrer as pessoas que ama, por causa dela. Não fazia intenções de se apaixonar, muito menos de encontrar o amor da sua vida. Tinha noção de que ia para um local diferente, pessoas um pouco diferente e maneiras de ser diferentes. Amanda nunca tinha passado mais de dois dias longe dos pais, por isso iria ser difícil. Mas tinha a vontade, a força e a garra para sobreviver sozinha, estava preparada psicologicamente para tudo, fisicamente era outra história. Amanda não era gorda mas sim magra, mas era uma criança, os pais sempre a protegeram de tudo. Amanda não sabia o que era ter um namorado e muito menos o que era sexo.
Amanda nunca se sentira confiante para ter um namorado, nem com o incentivo da amiga. Estaria preparada para o perigo da vida? Nunca soube, não podia contar com ninguém, só com ela própria, e nem ela tinha a certeza se poderia contar com ela mesma. Partiu de um mundo que conhecia que se adaptava relativamente bem, para um desconhecido, sem ninguém para lhe amparar a queda.
Isso era o que mais a preocupava.
[[ Hey, hey. Aqui está o primeiro capítulo. Espero que gostem
Maffs ]]