Prólogo

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Escolhas, dizem que a vida é feita delas. Não concordo com isso, aliás, acredito que é inescrupuloso um individuo acreditar que tem o pleno controle de sua vida ao ponto poder fazer escolhas.

Não escolhemos quando nascemos ou como morreremos. Não escolhemos a família a qual pertenceremos, nem se teremos posses ou seremos despidos de riquezas. Não escolhemos sequer a cor de nossos cabelos, pele e olhos. Somos mandados para cá da maneira que somos, sem direito algum de escolha quanto à aparência ou posição social. Tomamos decisões com base nas opções previamente nos oferecidas, nada além disso.

Quando eu tinha sete anos, não escolhi a morte como o destino de meus pais. Frederick não se tornou rei porque estava pronto para isso, nem se casou com Lady Eleonora tendo total certeza de sua felicidade. Meu irmão tinha a opção de tomar ou não o trono; de seguir ou não com o legado da família, levando Autumn Leaves à prosperidade. Já casar-se com Lady Eleonora já estava em seu destino desde o dia em que a tatuagem surgiu em seu pulso esquerdo. Não foram escolhas, foram opções. Tenho certeza que se Frederick, meu amado irmão, pudesse escolher algo em sua vida, teria escolhido a floresta como morada e teria como companhia unicamente a solidão da sua alma.

Eu, Rosalie, princesa do Reino de Autumn Leaves e primeira na linha de sucessão, pelo menos até Lady Eleonora nos agraciar com a chegada de um herdeiro, escolheria a liberdade. Abdicaria dos títulos e talvez escolhesse crescer como uma criada em algum canto longínquo do reino. Poderia andar com os pés enterrados na terra e correr livremente pelos campos sem jamais precisar ouvir Lady Lena Rosemberg me repreendendo a cerca do meu comportamento inadequado para alguém de minha posição.

Mas a única escolha que tenho está a cerca das cores dos meus vestidos. Usar ou não anáguas e espartilhos não está em discussão. Posso escolher entre bordar, costurar ou tocar algum instrumento; jamais entre andar a cavalo ou passear desacompanhada pelos bosques em busca de frutas exóticas.

Não escolhi me afastar de meu irmão quando os meus pais morreram: Frederick escolheu por mim, dizendo que Lady Lena seria uma referência muito melhor para mim do que ele ou, até mesmo, Lady Eleonora, que estava se adaptando aos seus novos deveres como rainha de Autumn Leaves. E não escolho, agora, retornar. Novamente, Frederick escolheu por mim.

Retornar me deixa apreensiva, sobretudo, porque completo dezesseis anos hoje e, como reza a tradição, as letras negras amanheceram gravadas na minha pele, à ferro.

Eu não deveria estar tão assustada encarando a palavra que tinha se formado sobre a minha costela esquerda, afinal, Frederick casou-se com Eleonora assim, do mesmo jeito que meus pais e todas as gerações que vieram antes de nós. Não havia nenhuma explicação plausível para o acontecimento, embora nossos meistres dissessem que se tratava de uma magia mais antiga que a criação do nosso mundo, executada para garantir o nosso mundo como o conhecemos.

Conta-se que antigamente as pessoas apaixonavam-se por conta própria, sem o auxilio da magia, o que fazia com que dois homens pudessem se apaixonar pela mesma mulher e vice-versa. Essa situação gerava tamanho sofrimento que as fadas protetoras, cansadas de tantas almas infelizes e solitárias, criaram o feitiço. Desde então, cada pessoa do reino de Autumn Leaves – e, aparentemente, além dele, como acabo de descobrir – acorda no seu aniversário de dezesseis anos com o nome de sua alma gêmea tatuado em alguma parte do corpo.

Frederick mandou me chamar de volta para a corte por isso. Meu aniversário de dezesseis anos chegou e, com ele, a tatuagem, um pequeno fragmento do que eu poderia esperar para o futuro. E, consequentemente, do que o reino poderia esperar.

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2016 ⏰

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