Saudade. Mamíferos tendem a sentir esta síntese de sentimentos.
O ser humano, em algum determinado momento, sente saudades da infância. Aquela época que não se tinha preocupações no cotidiano. Quando não parava para pensar no mundo em que estava vivendo. Ou, dizendo de uma forma habitual, aquela época de brincar na rua, sem hora para sair de lá e/ou de roubar alguma fruta na casa do vizinho.
Era aquela época de achar tudo fantástico, de hiperbolizar tudo que era uma novidade para aquele mente jovial.
Era aquela época que eu lembro do dia de ir ao parquinho. Não apenas, o parquinho. Era O Parquinho. Um território místico onde se localizavam o invertebrado trepa-trepa, e o anti-solidão, a gangorra. Mas o faraó daquele reino era o balanço. Dizia-se, que só os fortes, os semi-deuses (leia-se: alunos do fundamental I), poderiam balançar tão forte, que poderiam voar (leia-se: saltar do balanço, e aterrissar no chão)!
Era uma época de uma desprendida imaginação. De cães com capas voando por ai até ficar, literalmente, pulando de planeta a planeta, nesta galáxia.
Isopores. Aquelas coisas, aquelas fôrmas eram o cenário perfeito para filmes, sempre compostos pelo mesmo elenco de bonecos, com muita aventura!, tiroteios, perseguições que extrapolariam um orçamento modesto e dramas pessoas comoventes. A perfeita combinação de elementos que levaria um prêmio da Academia.
E tudo isso era apenas numa fôrma que vinha numa caixa de papelão.
Como todo texto que faz referências a infância, não poderia faltar aquelas aventuras perigosíssimas na sala de estar. Não haviam aliados. Não haviam equipamentos para ajuda. Haviam apenas os sofás. Sem eles, era morte na certa. Ou vocês cairia na neve e ficava eternamente congelado ali, ou você caia na água e morreria afogado (por favor, não me venha dizer que você sabe nadar! Assim você tira a tensão da aventura), ou ainda por cima!, você cairia naquela areia movediça e caia sabe lá aonde!
Mas assim como está em nossas cabeças que o planeta Terra é azul (e nada podemos fazer), o cenário campeão dessas aventuras nos sofás, era a ardente lava mortífera do fogo do inferno católico!
Modesta parte, o autor que vos escreve era o "diferentão": nada de lava ou água, eu estava mesmos em montanhas e as almofadas eram os pedregulhos!
Mas a vida segue, seguiu e seguirá.
As pessoas tem saudades de muitas coisas, entre elas, da infância. Aquela época de simplicidade e irreverência. Uma época em que não se imaginava que o mundo o qual acabará de nascer, irá lhe trazer responsabilidades. Além de, claro, um sistema que lhe fará como um escravo, lhe tirando o que era para ser sua vida (não no sentido biológico, mas aquela vida). Mas isto já é outra história...