A possessão de Helena foi um caso não divulgado pela mídia em geral.
Todos os dias, a zootecnista caminhava até as cocheiras para verificar os cavalos e éguas, assim como cuidava de todos os animais da fazenda "Raio de Sol", no interior de São Paulo. Acostumada ao trabalho pesado e com o contato com os animais, nunca tivera problemas relacionados ao seu comportamento impulsivo.
Porém, certo dia, aconteceu que um dos cavalos mais dóceis tornou-se agressivo e começou a correr a galopar desesperadamente pelo pasto. Sem controle, o animal não admitia ser tocado nem qualquer aproximação humana.
Helena não se desesperou, apenas pensou que o animal estivesse com algum trauma por ter sofrido algum ataque por parte de outros tratadores.
Conforme os dias passavam, todos os animais se revoltavam contra Helena, fugindo e a atacando. Foi assim com as éguas, com as vacas e até com os cães e gatos que ficavam na outra parte da fazenda.
De repente, os olhos se tornavam brancos, depois ensanguentados. De suas bocas jorravam sangue negro e, subitamente, a morte os golpeava como um chicote impiedoso.
Helena, assustada, procurou a igreja para que orassem pelos animais, procurou um médico veterinário para descobrir que doença era aquela e até foi expulsa do emprego, pois, a culparam por envenenar os animais para lucrar com o tratamento.
Injustiçada, Helena foi embora, triste porque amava os animais.
Voltando para casa, ela reencontrou os seus próprios animais, que a encararam com olhos arregalados, assustaram-se, arranharam-na, correram e morreram da mesma forma, com olhos que jorravam sangue.
Ao encontrar um novo emprego, Helena caminhou até o local onde deveria cuidar de um cavalo em estado crítico. Ao aproximar-se dele, o animal se desesperou e ela afastou-se novamente frustrada. E então, um garotinho com síndrome de down, filho do dono do cavalo da nova fazenda, disse em alto e bom tom: "a culpa é do homem que está atrás de você..."
Helena virou-se e, pela primeira vez, pode ver a criatura de preto que caminhava em suas costas e tinha os olhos que pareciam ser feitos de fumaça e cheios de sangue.
Os olhos de Helena foram queimados e assim, ela também morreu.