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MEU NOME É AUGUSTUS GLOOP E DETESTO CHOCOLATE! Quando era criança achei um bilhete dourado para uma tour pela Chocolate Factory. Eu era um garoto obeso com pais imigrantes da Alemanha, que quase sempre estava comendo chocolate e era muito prazeroso. Na tour havia mais quatro crianças: Violet Beauregarde, Veruca Salt, Mike Teavee e Charlie Bucket.  Durante a tour cai em um rio de chocolate onde fui sugado por um cano no qual fiquei entalado por quase 24 horas. Esse incidente me rendeu anos de pesadelos onde retornava para a fabrica e virava o ingrediente principal de chocolate feito 100% de Augustus Gloop. 

   Nesse instante, estou olhando para a primeira barra de chocolate Wonka que vejo em vinte anos. Foi deixada de forma sutil na porta da minha casa.  Como eu disse, detesto chocolate e estava prestes a joga-lá no lixo quando percebi que estava aberta e que havia um brilho dourado reluzindo de dentro da embalagem. Abri, joguei o chocolate fora e li as letras no papel laminado:

ME ENCONTRE NO RESTAURANTE DO HOTEL ... NO DIA 29/12 ÀS 19:00. 

TENHO ALGO A DIZER QUE PODE TE INTERESSAR.

ATENCIOSAMENTE, CHARLIE BUCKET.

   Rasguei a porcaria do convite e joguei os pedaços no lixo. Aquilo despertou em mim traumas de infância, coisas que queria esquecer. Naquela noite, quando fechei os olhos pude escutar os Oompa Loompas entonando seus cânticos ritualístico e seus sorrisos macabros de ponta a ponta dos seus rostos. Estavam nus, dançando em torno de uma fogueira enorme, rezando aos seus deuses misteriosos que lhe proviam o cacau. Acordei suando frio e não consegui mais dormir.

* * *

   No dia e na hora combinada cruzei a porta giratória rumo ao restaurante do hotel em que Charlie havia marcado. Estava nevando do lado de fora e o calor do hotel era reconfortante.  O maître se aproximou:

   — Posso ajudá-lo?

   — Estou procurando por Charlie Bucket.

   — Ah, sim. Estão todos esperando você chegar.

   — Como assim todos?

   O maître me conduziu até uma grande mesa em um canto afastado do restaurante. Na mesa haviam quatro pessoas: uma mulher violeta usando roupas amarelo mostarda, uma mulher elegante fumando como uma chaminé, um homem de óculos e cabelo repartido iluminando com pequenos pontos de luz e um homem com um terno roxo elegante com o W bordado. Era obvio quem eram: Violet havia comido um chiclete experimental com um efeito colateral que tinha transformado em uma amora gigante, foi exprimida e ficou permanentemente violeta. Veruca era uma menina mimada que foi atacada por esquilos que a jogaram por uma calha que conduzia a um incinerador. Mike havia sido teletransportado para dentro de uma TV onde encolheu, foi dolorosamente esticado e convertido em pontinhos luminosos. E Charlie, um garoto pobre que havia ganhado a fabrica de chocolate do Sr. Wonka.

   — Augustus! — Charlie se levantou e me cumprimentou. — Fique a vontade. Deve estar morrendo de frio, vou pedir chocolate quente para você...

   — Não, obrigado! — Sentei em uma cadeira e esfreguei as mãos. — Detesto chocolate.

   — Ah, claro. Entendo. Todos estão se reconhecendo?

  —Sim. Violet, Veruca, Mike e Charlie.

   — Como você está, Augustus? — Violet perguntou.

   — Estou bem.

   — O que faz da vida?

   — Sou nutricionista.

   — Olha, que legal! — disse, entusiasmada. — E você é casado?

   — Pelo amor de Deus, Violet! — Veruca derrubou cinzas do cigarro. — Será que não podemos ter uma conversa sem que você tente conseguir um marido?

   — Quero ver você arranjar um marido quando se é violeta da cabeça aos pés! — Depois alfinetou Veruca: — É um milagre você ter conseguido arranjar um com esse seu medo de esquilos.

   Veruca empalideceu depois que Violet disse "esquilo".

   — Por favor, parem de brigar... — Mike falou tão baixo que tive que fazer leitura labial para entender. Os pontinhos luminosos que formavam seu corpo estavam entrando em estática, igual a uma televisão. — Preciso tomar meu remédio.

   — Podemos por favor nos focar no que importa aqui? — Charlie falou, interrompendo a discussão.

   — Eu não estaria violeta se não fosse pelo Sr. Wonka! — Violet disparou — Deveria processar sua ridícula fábrica de chocolate...

   — Todos nós já tentamos... — Veruca falou enquanto estava se recompondo. — Mas o desgraçado do Sr. Wonka pensou em tudo.

   — Amigos — Charlie cortou a conversa — Vocês não entendem! — Charlie estava ficando alterado, quase desesperado. — Eu preciso fugir do manicômio que é aquela fábrica!

   Um silêncio caiu sobre a mesa.

   — Quando me tornei aprendiz do Willy, ele me disse que nós não precisamos do chocolate de verdade, que era uma droga extremamente viciante que fazia com que as pessoas comessem mais e mais até morrer e que ele detestava dedicar cada dia da sua vida a fazer aquilo. Achei que ele estivesse brincando. No leito de morte, Willy me disse para tomar cuidado com os Oompa Loompas. Todas as noites os Oompa Loompas acendiam uma fogueira onde dançavam entonando suas canções e em êxtase faziam seus rituais que para mim eram incompreensíveis. E então os Oompa Loompas vieram atrás de mim e eu pedi para que parassem, que me deixassem em paz, mas eles não me deixaram sair da fábrica e nem manter contato com o mundo exterior. Eu detesto essa merda e sou forçado a comer e a tomar todo dia! — Charlie estava com as mãos nos ouvidos enquanto balançava a cabeça. — Tentei fugir de todas as formas possíveis, mas eles estavam sempre um passo a frente. Quando perguntei o motivo de me manterem em cárcere privado eles disseram que eu era o coração da fábrica, assim como Willy havia sido e que precisavam de alguém para elaborar doces para que a população continuasse comendo o chocolate. Willy passou a vida toda tentando revelar isso ao mundo, foi por isso que ele enviou os bilhetes dourados, para poder atrair a atenção da imprensa, mas os Oompa Loompas foram mais espertos e  disseram que matariam as cinco crianças se ele tentasse bancar o esperto. Mas eles sabiam que Willy estava ficando velho e precisavam de alguém para substitui-lo e decidiram que seria o que sobrasse por último. Então, há três dias algo estranho aconteceu: eles começaram a hibernar. Consegui sair da fábrica e enviei os chocolates com os convites para vocês. E agora estamos aqui e precisava contar isso para alguém.

   Estávamos todos de queixo caído. Charlie tremia agora. Não parecia mais bonito e elegante e alegre, mas sim agitado, cansado e meio paranóico.

   — Você está tentando nos fazer de bobos? — Mike perguntou quase sussurrando, o corpo recuperando a forma após tomar o remédio.

   — O quê? — Charlie estava confuso. — Não, não. Juro que é tudo verdade.

   — Pra mim já chega — Mike se levantou e se retirou do restaurante.

   — Você enlouqueceu! — Foi a vez de Violet se retirar.

   — Não acredito que remarquei com minha psicóloga pra ouvir essa bobagem — E Veruca também se retirou.

   Charlie estava descabelado e com o olhar vago. Me levantei e estava prestes a sair, mas algo me manteve ali. Foi a lembrança do que havia acontecido na fábrica, os sorrisos maldosos e assustadores que os Oompa Loompas me deram enquanto o cano me sugava.

   — O que você vai fazer? — perguntei.

   — Quero que ela arda em chamas.

   — Infelizmente não posso te ajudar a fazer isso.

   — Eu entendo. Você acredita em mim?

   — Acredito.

   — Então isso já basta. Obrigado por vir.

   Voltei pra casa com algumas garrafas de cerveja, bebi e apaguei. No dia seguinte estava na manchete dos principais jornais:

INCÊNDIO DESTRÓI A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE. MILHARES DE OOMPA LOOMPAS FORAM MORTOS CARBONIZADOS. POLÍCIA INVESTIGA SE É CRIMINOSO. NÃO ACHARAM O CORPO DE CHARLIE BUCKET.

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⏰ Última atualização: Jun 30, 2016 ⏰

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O Que Aconteceu Depois de Willy Wonka e a Fábrica de ChocolateOnde histórias criam vida. Descubra agora