Como Morreu O Amor

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Prelúdio

 Aiki estava sentada na areia quente, observando a paisagem desolada. O deserto duro e cinza se estendia até o horizonte, sem grandes alterações de relevo, espaçadas entre si podiam-se ver árvores nuas e secas que deprimiam ainda mais o lugar, o ar parecia pesado e carregado de um odor acre, bastante comum a Cidade dos Espectros, mas que naquela tarde vinha acompanhado do cheiro doce de cerejas e o “céu” – um teto abobadado cinza, como uma pedra que recebera fuligem suficiente pela eternidade – estava de um cinza róseo. Como um pôr-do-sol impossível, já que estavam bem mais a fundo do que os tradicionais 7 palmos de terra. Com as pernas cruzadas e de costas para o Castelo das Almas e para o Rio Estige, Aiki não percebeu a aproximação da Dama do Destino, sorrindo enquanto caminhava. Aiki tinha longos e sedosos cabelos negros,e sentada daquele jeito o cabelo cobria suas costas e repousava em dobras pelo chão, pegando poeira, era difícil lhe adivinhar a beleza pelas costas, mas era facilmente indicável o mistério que a cercava. Um homem sem excessiva beleza, magro e alto para um japonês correu ao seu lado vindo do que parecia ser ‘lugar nenhum’ e deu-lhe sem dizer uma palavra uma manta, uma linda maçã e um cantil e se foi tão rápido quanto veio. Assustou-a um pouco. A Dama do Destino também sorriu ao vê-lo, não parecia surpresa.

Ao chegar contemplou a beleza de Aiki. A própria Dama do Destino era uma mulher belíssima, uma versão luxuriante da Branca de Neve, com a pele alvíssima, os cabelos de um negrume aterrador, caindo em cachos ao redor de seu rosto perfeito, onde destacavam-se os olhos azuis safira e os lábios de um vermelho Ferrari. O corpo era escultural, mas vestia-se com modéstia, um vestido limpo, cinza, com pequeninas flores estampadas, um corte meio antiquado e sem mais atrativos, usava chinelos nos pés. Ela cheirava a água corrente. Mesmo assim sua beleza evanescia diante da pequena mocinha.

Aiki, por sua vez, era estonteante. Seu rosto oriental clássico, com os olhos puxados, o nariz delicado e a boca pequena tinha um constante rubor infantil, uma franja bem cortada lhe escondia a expressão, o corpinho de uma criança saudável de não mais que 5 anos inspirava a imagem de querubins. Ela parecia suave ao toque, despertava o instinto maternal em qualquer mulher e cheirava a cerejas frescas, tinha uma voz doce e melosa, poderia ser enjoativa se muito ouvida, mas Aiki raramente falava demais. Mas esta tarde ela tinha o rosto muito sério e pensativo para tão jovem criatura e seus olhos, de um negro inescrutável, podiam ser assustadores se observados assim. Você se sentiria como se não houvesse mais motivos pra viver quando eles caiam sobre você daquela maneira, um cuidado que a Dama do Destino tomou, chegando por trás.

- Aiki? É fácil descobri-la por aqui. Todo o lugar responde a sua mera presença. Gostaria de conversar?

- Sobre o que minha nobre Dama do Destino?

- Oh, bem, diga-me você. O que lhe consome desta maneira?

- Nada minha senhora,  não sou digna da sua atenção.

A Dama do Destino sorria, inundada de boas lembranças.

- Minha criança, você é digna de tudo que há para se dignar nesta existência.

- Se deseja que eu lhe fale...

- Sim.

Suspiro. – Dama do Destino, eu não sei se consigo, eles esperam tanto de mim, eu mal sei quem eu sou e eu não tenho ninguém... Eu... Eu...

Lágrimas escorriam pela face da doce criança.

- Oh querida. Não chore. Você pode não saber quem é, mas eu sei quem você é. E não há neste mundo uma criatura mais querida, desejada e amada que você.

- Como, Dama do Destino? Como eu posso ser... Ela!

- Você já foi antes, voltará a ser no tempo apropriado.

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⏰ Última atualização: Oct 20, 2013 ⏰

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