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Estava terminando de ler a última frase de As Crônicas de Nárnia, que se tornaria um dos meus preferidos livros, quando ouço uma voz leve me chamar:

-Angelina...!

Me viro automaticamente em direção à voz, fechando o livro sobre a mesa de mogno da biblioteca.

-Sebastian -sussurro para mim mesma.

-Ange, me desculpe por mais cedo; sabe, é impossível pensar que você não é mais minha.

-Nunca fui e nunca serei sua -digo secamente, levantando com o grosso exemplar em perfeitas condições em mãos.

Ele me seguiu com o olhar levando o livro para o balcão onde uma senhorinha de meia idade jazia em frente ao computador.

-Outro livro terminado a tempo -ela sorri.

Eu assinto e coloco outro livro cujo eu precisava terminar de ler em casa nas mãos dela. Entrego meu cartão da biblioteca onde havia uma foto minha sorrindo.

Wanda sorri me entrega um papel juntamente com o cartão, carimbado.

-Consegue ler em quatorze dias, Ange? -pergunta ela com seu tom amigável e gentil.

-Mas é óbvio! Quatorze dias é mais do que suficiente! -enfio os objetos devolvidos no bolso de minha calça jeans e seguro o livro com as duas mãos, olhando para Sebastian, apoiado na mesa.

Ando apressada até as portas da biblioteca e corro em direção para minha casa.

{•••}

Destranco a porta e entro com cuidado em casa, meu padrasto estava jogado no sofá com duas latinhas de cerveja ao lado dele, uma caixa estava na mesa de centro de herança de minha avó, que em parte valia uma fortuna e era simplesmente bela, ao lado dos pés dele.

Minha mãe estava na cozinha, preparando a janta para seu marido e filha presunçosos. Marie é, infelizmente, minha irmã de consideração presunçosa. Tem minha idade, quinze anos, e mal serve para cortar uma cenoura, diferente de mim, que trabalho, estudo e ajudo minha mãe no que for.

Ando até minha mãe e lhe dou um abraço apertado.

-Oi, mãe -digo pegando um avental do balcão.

-Oi, querida, como foi o seu dia?

Olha para seu rosto magro e cansado, com uma pequena mancha roxa feita por Wallace Blanc, meu padrasto.

-Foi bom -oculto meu sentimento de raiva por Sebastian dela, quero que ela fique despreocupada do que se trata de meus problemas. -Deixe que eu prepare o jantar; você precisa se deitar um pouco.

Ela sorriu e me deixou sozinha na cozinha.

Lembro-me da época que a família Leroux era feliz na França. Eu, meu pai e minha mãe, felizes num apartamento amarelo em Paris, até que meu pai morreu; acidente de carro. Foi horrível, minha mãe perdeu o chão e eu também, então ela encontrou Wallace, o seu possível amor eterno depois de meu pai. Se casaram, viveram um ano felizes, foi quando ele nos obrigou a mudar para a Inglaterra, por sorte eu aprendia inglês na escola onde eu estudava e tinha um interesse fantástico pela literatura inglesa e norte-americana; mas por causa dos caprichos estúpidos de Wallace não vivemos felizes desde então.

E nunca mais viveríamos.

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