Uma cara de tacho olhando um quadro:EU.

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Eu acho que eu escutei a voz fina e irritante da minha professora me chamando,"Hermod,venha cá!"Mas eu não consegui lhe dar a devida atenção. Não podia fazer mais nada,se não olhar o quadro. Era ela,eu tinha certeza de que era ela!Mas como eu contaria isso pra professora?Ela sem dúvida iria me dar uns dois séculos de suspensão pela "mentira",provavelmente ela me mandaria para outro orfanato em outro país...ou me deixaria trancado no banheiro até a faculdade!

Começou quando o "Lar da Sabedoria para Jovens desamparados",o orfanato onde eu morava,foi visitar um museu.A mala da professora que iria nos acompanhar me enfiou no ônibus como se eu fosse um pacote amassado e me ordenou com um olhar:"Se sair daí você está morto". Morto ou não eu não via diferença,visto que eu estava bêbado de sono. Enquanto o ônibus seguia seu caminho até o museu fui me lembrando...do meu passado. Minha mãe,bem,eu ainda me lembro dela. Até os três anos de idade ela cuidou de mim,como uma mãe normal. Não tão normal,vai,ela tinha o estranho hábito de sair de madrugada todas as sextas-feiras e retornar apenas aos sábados de manhã.Mas não me lembro muita coisa,apenas de seus olhos que eram cor de violeta,olhos muito luminosos,dos quais nunca me esqueci.

Bem,meu pai é aquela coisa:nunca conheci,nunca vi nem uma foto,nem tenho uma lembrança sobre ele. No momento em que minha mãe me largou no mal dito "Lar da Sabedoria para Jovens Desamparados" eu perdi todos os meus vínculos com tudo e decidi amar apenas ao meu nome:Hermod,muito prazer.

Descemos do ônibus e entramos no enorme salão que era o museu da cidade. Um frio desgraçado,que quase congelava meu nariz a cada lufada de ar.

Andamos em grupo pelo enorme museu,eu,minha professora e as dezenas de crianças fazendo enorme barulho. Pimpo,um menino ruivo cheio de sardas estava passando mal,com o rosto verde de enjoo,graças a viagem de ônibus. Pimpo teve uma ânsia de vomito bem perto de um antigo vaso preto do museu,mas a professora encarou-o com um olhar que significava "Se você vomitar em cima de um vaso desse,eu faço você trabalhar o resto da sua vida em uma mina de carvão para pagar!!" E ele,com medo de sujar algo,se virou na minha direção e despejou seu vomito nojento e mal cheiroso na minha camisa. ECA!

---Me perdoa?-Perguntou Pimpo,sorrindo para mim.

Sem duvida que eu não perdoei o Pimpo!Sai fora,meu!!Vomitar na minha camisa ,é brincadeira?Eu pareço um vaso sanitário?Xinguei o Pimpo de tudo quanto é nome e depois falei que "agora eu entendia porque a mãe dele tinha o abandonado",mas aí me arrependi. Quando toquei no assunto "abandono" Pimpo fechou a cara em uma careta de tristeza. Me lembrei que ele era como eu,um órfão abandonado pela família. Isso fez uma parte da minha raiva passar,mas não toda ela.

Minha professora,vendo que eu estava quase para socar a cara do Pimpo com toda a força,disse:

---Pro banheiro,os dois,vão se limpar e não demorem se não eu largo os dois nesse museu! Não que eu me importe.

Eu e o Pimpo andamos pelo museu a procura de um banheiro. As pessoas olhavam de vez em quando minha camisa cheia de vomito e arregalavam os olhos,como se eu fosse exposição do museu.

---Eu acho que tem um banheiro pra lá,Hermod.-Me falou Pimpo.

---Esse lugar é muito grande,vamos acabar nos perdendo!-exclamei,quase esquecendo minha camisa vomitada.

Depois atravessamos um salão coberto de peças de ouro muito antigas e velhas..."como a diretora do orfanato",sussurrava Pimpo,arregalando os olhos.

Eu estava encarando uma joia de ouro cravejada de pedras vermelhas e pensando como ela deveria ser valiosa,no que eu faria se tivesse tanto dinheiro...quando Pimpo me chamou:

---Hermod!!Achei o banheiro!!

Segui a voz dele e fui parar em um salão oval totalmente empoeirado. Havia uma porta velha coberta por teias de aranha e com um estranho símbolo entalhado na madeira. esse símbolo parecia um ponto de interrogação,mas era mais torto e rebuscado.

Eu não entraria ali nem que uma montanha de ouro me esperasse por lá. Mas o sem noção do Pimpo já havia entrado e eu tinha de acompanhá-lo.Era entrar lá ou explicar pra minha professora que eu perdi meu amigo.

Soltei um palavrão quando entrei no lugar que Pimpo confundiu com um banheiro. era na verdade um enorme salão todo pintado de preto,sem janelas e com o símbolo parecido com um ponto de interrogação na parede esquerda...lugar estranho!Com aquelas paredes pretas e sem janelas deveria fazer calor,mas pelo contrário, estava um frio desagradável e sombrio.

---Definitivamente isso aqui não é um banheiro...-sussurrei.

---Tem uma coisa pendurada na parede!!-Exclamou Pimpo.

Fomos até a parede negra e enxergamos uma pintura linda,emoldurada em ouro,que retratava um grupo de pessoas. Homens e mulheres,vestindo uma toga preta no estilo padre. Mas seriam padres muito estranhos. Com desenhos antigos nas roupas e misteriosos demais para celebrarem uma missa.

Bem, Hermod, seja bem-vindo ao terror! eu disse a mim mesmo.

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⏰ Última atualização: Nov 18, 2016 ⏰

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