Vroom! Vroom!

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Para tudo há uma probabilidade. Mais de uma, na verdade. Por exemplo: se você tem olhos castanhos, e seu cônjuge tem olhos verdes, seu filho tem 50% de chance de ter olhos castanhos como os seus, 37,5% de chance de ter olhos verdes como os de seu par, e 12,5% de ter olhos azuis como os de nenhum de vocês dois.
Enfim, para tudo uma probabilidade. Ou umas probabilidades. E a probabilidade de alguém que nasceu na minha família não se tornar um enfermeiro é igual a probabilidade de alguém que tem olhos azuis e casou-se com alguém de olhos verdes ter um filho de olhos castanhos - e apesar de que quando o parceiro número um tem olhos castanhos ele pode ter um filho com olhos azuis como eu falei no início, quando se troca o castanho pelo azul, como nesse caso, a probabilidade é zero. Zero chances de ser jardineira, zero chances de ser jornalista, zero chances de ser dançarina de ballet, zero chances de ser... piloto.

Lembro-me como se fosse ontem. Eu não posso esquecer. Voltava da escola naquele dia normal, mas invés de ir para a creche, fui para o trabalho de minha mãe. Sempre fui uma criança alegre, mas qual criança não é? qual criança não se esquece das marcas vermelhas que ganhou após desobedecer os pais quando vê um brinquedo que gosta, ou o seu desenho preferido? Eu não deveria ter tanta razão quanto a isso, é claro que sempre haverá uma criança a se pronunciar. Ou duas. Ou mais. Mas eu, pelo menos eu, era assim.
Nesse dia como em todos os outros, eu levei meu brinquedo favorito para escola, porque apesar de haverem vários brinquedos lá disponíveis, eu não conseguia ficar sem meu carrinho vermelho. Lá naquele tapete daquela enorme sala fria eu mais uma vez brincava com ele. Nunca cansei de apenas movê-lo para frente e para trás, sentindo prazer em ouvir o som de suas rodas girando no chão. Era sempre mágico. Sempre. Correr com ele pela casa como se tivesse foguetes na traseira, fazê-lo correr pelos móveis como numa grande aventura onde estivesse fugindo de algo muito perigoso e tivesse que pular o enorme sofá para se salvar... Ele era o meu maior prazer, meu melhor amigo, meu sonho.
Minha mãe entrou na sala em que eu estava e dirigiu-se a uma mesa.
- Vroom! Vroom! - Eu fazia enquanto brincava com o carro, que agora já voava comigo pela sala - Mamãe, quando eu crescer, quero ser uma piloto! - Falei indo até ela.
- Tsc, isso é besteira. - Foi como cortar de uma só vez um fio de elástico esticado, uma corda que segurava alguma coisa, ela foi fria ao falar isso. Não estava zangada, só indiferente.
Eu parei, a olhei. Pequena, tentava ver seu rosto, mas não conseguia ver seus olhos.
- Como se houvesse escolha. - Na mesa, ela pegou uma bandeija com uma esfera vermelha e branca e saiu. Ela nunca esteve assim antes. Sempre sorrindo e gentil, ali parecia triste e amargurada. Aquilo me deixou pensativa. Sentei-me e olhei fixamente para o meu carrinho.
Percebi que foi apenas aquele momento, logo a vi simpática como sempre ao ajudar um treinador que vinha atrás de socorro no centro médico de Vermillion.

Quando cresci, eu entendi.
Não há escolha.
Não há probabilidade alguma de alguém conseguir mudar essa verdade.
Nosso mundo não é cor-de-rosa. Que ironia, não?
Somos assim.
Nascemos para ser isso.
Seremos para sempre isso...
Ou morremos.

Na verdade, todas nós temos um sonho, mas somos amaldiçoadas. Deus, o que fizemos? Temos que viver isso e ver com os próprios olhos pessoas seguindo seus sonhos todos os dias, sendo felizes e se realizando.
E atendê-las com um sorriso no rosto.

Pokémon Dogma Cor-De-RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora