Capítulo 1

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Já era de noite na cidade de Tóquio. Acabei o serviço no Nakano b-kyuu, o restaurante onde trabalho. Retirei o avental preto e caminhei pelo corredor até á sala de empregados, onde encontrei a Cana, a minha colega de trabalho.

-Cana, sabes que não é correto consumires bebidas do Nakano sem pagar.- avisei cruzando os braços e contendo um sorriso.

Ela tomou um susto e encarou-me com uma expressão indiferente. Depois poisou a caneca grande de cerveja no comprido banco de madeira onde se encontrava sentada e encolheu os ombros.

- Trabalho cá tal como tu, Heartfilia.- uma alta gargalhada.- Acho que no mínimo a velhota da Akemi devia permitir aquilo que quiséssemos fazer. Ganhamos muito menos que figurantes de um filme! E temos muita mais ação que eles, se reparares.

Revirei os olhos e abri o meu cacifo, retirando as minhas roupas de lá. A Akemi é a nossa patroa. Para mim pode ser um doce, mas sei que não trata a Cana com o mesmo carinho. Afinal, ela quase esvaziava o depósito da cerveja, há duas noites atrás, sem contar com as outras asneiras realizadas por ela ao longo do ano.

-Amanhã é o primeiro dia de aulas, Cana. Imagino que não queiras ir para a primeira aula de ressaca.- brinquei.

A Cana e eu temos a mesma idade e iremos frequentar ambas o famoso colégio de nome Fairy Tail. Falaram-me muito bem dele, reforçando com a informação de os professores serem exigentes para com o sucesso escolar dos alunos. Mal posso esperar!

- Já agora. Chegaste a avisar a Akemi dos novos horários de trabalho? É que agora com as aulas, não vamos poder trabalhar tantas horas ao dia, Lucy.- lembrou a Cana levando a caneca de cerveja aos lábios.

Congelei e caminhei pelo espaço nervosa. A senhora Akemi já tinha ido para casa há uma hora!

- Respira, miúda. Tratei de a avisar por ti também. Já sei que és uma cabeça de vento. Só pensas nas tuas novelas lamechas televisivas.

- Obrigada! Pela primeira vez és útil!- ri com a expressão indignada da Cana enquanto vestia a minha camisa axadrezada e ajeitava a saia preta.

Prendi o cabelo num rabo de cavalo apertado no cimo da cabeça e calcei as minhas botas de cano alto pretas.
Levantei-me agarrando na mala e arrumei o uniforme do trabalho no cacifo. Olhei mais uma vez para a Cana, que brincava com a alça do sutiã azul turquesa bem visível, devido às suas curtas roupas. Sorri e coloquei a mão no seu ombro.

-Até amanhã!

-Até amanhã... se eu for, claro.- ficámos em silêncio e ela soltou uma gargalhada alta.- Brincadeira. Mais uma coisa, Lucy. Eu pedi á Akemi que não te descontasse as horas que não vais trabalhar do teu ordenado. Sei que precisas imenso de dinheiro.

A minha expressão tornou-se séria e apenas assenti.

-Devo-te uma. Obrigada. A sério...

- Vai lá embora. Ainda tenho de limpar os balcões antes de ir embora. Vai descansar, porque bem precisas... sejamos honestas. Tu trabalhas o triplo do que eu trabalho.

Sorri de leve e saí do restaurante. Caminhei pelas ruas com pouca iluminação ainda a pensar no que a Cana tinha dito. "Sei que precisas imenso de dinheiro". Descendo de uma família muito rica, como sabem. Era feliz, mas com a morte da minha mãe, o meu pai tornou-se frio e mal sentia emoções calorosas como de antes. Começou a mal tratar-me e não me dava um pingo de atenção. Para mim foi a gota de água e fugi de casa sem ele saber. O dinheiro que consegui trazer era muito pouco e mal deu para o primeiro mês sozinha. Para ser sincera, viver com o meu pai ou sozinha é praticamente a mesma coisa. Sabem aquela sensação de sermos invisíveis? Já sabem como me sentia ao pé dele.

Com as lembranças passadas da minha vida, principalmente o assunto da morte da minha mãe, emocionei-me e mal consegui conter algumas lágrimas. A verdade é que sentia falta de tudo e todos, mas segui com a vida. Esta é a primeira vez que frequento uma escola pública e mista. O meu antigo colégio era só de raparigas e o melhor do país. Acho que o meu pai sempre pensou que com dinheiro de consegue tudo, mas não é bem assim. Ele não podia comprar a minha felicidade, muito menos atenção paternal fingida da parte dele.

Enxuguei os olhos levemente e passei por um dos campos de treino da cidade, voltando a derramar algumas lágrimas. Ouvi risos altos masculinos, mas ignorei. Não estava com qualquer disposição.
Foi nesse instante que senti uma pontada de dor na parte de trás do pescoço, empurrando o meu corpo para a frente. Acabei por cair de joelhos, apoiando-me com as duas mãos para a frente..

- Loirinha, estás bem?- uma voz engraçada e meia arranhada surgiu atrás de mim e senti uma mão forte poisar na minha nuca.

- Que vida de treta!- gritei rabujenta.

Levantei-me num salto já a fumegar e coloquei a mão na zona dolorida.
Olhei para o rapaz moreno que sorria com uma bola de bascket nas mãos e ainda fiquei mais corada, de tanta vergonha... Tinha uma bela constituição física e os cabelos rosados... espera! ROSADOS?!

- Desculpa. Acho que estou a ficar com sono. Devo ter confundido essa cabeleira loira com o cesto, só pode.- ele olhou para mim com um sorriso de esguelha e esperou por algo em silêncio. Talvez que eu me risse...- Vá lá! Tem piada, Lucinda.

-O quê?- semicerrei os olhos já incomodada. Lucinda?!

-Ah, desculpa. É que pensei que Lucy fosse uma espécie de diminutivo...

Mal posso acreditar que isto me esteja a acontecer... Respirei fundo e baixei a cabeça.

-Olha... essa coisa que tens colada na tua roupa com o teu suposto nome é mesmo necessário?- ele olhou para mim totalmente inocente.

-Sim... só nas horas de trabalho.- respondi depressa e arranquei a minha identificação da camisa.- Bem agora vou embora.

Virei costas, mas o rapaz rosado segurou o meu braço.

-Queres jogar um pouco de bascket?

Olhei para ele ainda mais indignada e levantei a sobrancelha.
Ele começou a driblar a bola em tom de desafio e sem querer, bateu com ela no chão de força, fazendo com que a mesma fosse direita á sua face.
Contive o riso e voltei a caminhar depois de o ouvir gritar com vozinha aguda e soltando alguns palavrões pelo ar.
Que rapaz... inocente.

Cheguei rápido a casa, trocando as minhas roupas formais, por uns calções curtinhos e um casaco de pelo castanho com umas orelhas muito fofas de ursinho.
Fui para a minha pequena sala com um balde de pipocas e liguei na minha telenovela predileta. Tinha mesmo de arrumar a casa, mas como estava meio sem tempo, iria deixar isso para o fim de semana.

Depois de imensa choradeira á custa de um trágico episódio da novela, acabei por adormecer, acho eu.

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Daqui é a Mary, pessoal! Só queria informar que esta fanfic é minha e da Luiza e, como sabem, eu sou portuguesa e ela brasileira. Não achem estranho o facto de existirem capítulos em português brasileiro e outros apenas no português (como estou a falar para vocês neste momento), porque tal como eu disse, partilhamos tudo nesta conta! Obrigada pela atenção e espero que estejam a gostar desta introdução de "Apenas Amigos".

Bjos,
Das amigas Mary e Luluh ^_^

Apenas Amigos - Fairy Tail - "Um Garoto Popular, Uma Garota Tímida"Onde histórias criam vida. Descubra agora