Back to the hell

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Depois de meia década naquela prisão, não sei por onde continuar, no caso... recomeçar. Tenho que terminar o Ensino Médio, pensar na faculdade, e esquecer de tudo que aconteceu. Quando eu chegar em casa terei que aturar duas pessoas que apenas fingem ligar para mim, não ligo para isso, mas vou ter que ouvir o mesmo blá-blá-blá, só que mais prolongado. Assim que eu chegar, farei questão de pedir que demitam o motorista, ele está atrasado, em minha dramática saída da prisão o motorista atrasa... Eu mereço. Avisto uma Lamborghini, e tenho certeza de que é uma das "preciosas" do meu pai, então caminho até a calçada esperando o motorista estacionar o carro. Meu pai sempre foi um cara convencido e esnobe, gostava de ser sempre o melhor em tudo, e de ter o melhor. Minha mãe não liga muito para estas coisas, mas ela é como uma marionete do meu pai, e isso me deixa incrédula. O carro foi estacionado com perfeição, e assim que vejo o motorista sair do carro já o repreendo.

- Ei, pode ficar ai dentro, eu abro a porta

- Como quiser senhorita Carter - Ele entra, e eu revirando os olhos entro também. Não gosto de toda esta burocracia, gosto de ser chamada pelo meu nome ou apelido, e não pelo meu sobrenome que é inclusive título da empresa do meu pai. Assim que entro no carro, coloco o cinto e olho para o motorista que estava me observando. Confesso que achei ele bonito, cabelos e olhos castanhos escuros, pele clara e suave, não faço a mínima idéia do porquê dele trabalhar como motorista, ele poderia ser até modelo, ator, ou mesmo aqueles médicos gatos. Desviei o olhar, e liguei o rádio, precisava escutar música pois aposto que depois de 5 anos, meus cantores e bandas favoitos devem ter lançado milhões de álbuns. Enquanto procuro uma estação, o motorista diz ligando o carro:

- Sinto muito em te contar assim, mas sua banda favorita se separou, cada um está seguindo carreira solo agora.

- COMO ASSIM?!?!?!- digo olhando fixamente para ele não acreditando no que acaba de dizer.

- Pois é. Faz 2 anos já, mas eles estão fazendo sucesso, não tanto quanto antes, mas estão.

- Que merda. -digo apoiando meu cotovelo na janela do carro, e colocado minha cabeça sob minha mão olhando para a paisagem lá fora.

- Como você sabe qual é minha banda favorita??

- Vi os posters no teu quarto.

- Eles ainda estão lá??

- Seus pais deixaram seu quarto intacto, tiraram apenas as roupas porque acharam que não caberiam mais.

- Pois estão errados, emagreci muito depois de tudo isso.

- É, eu percebi.

- E por que você entrou no meu quarto? - assim que disse isso, vi ele pressionar mais os dedos no volante do carro e engolir o seco - Eu te fiz uma pergunta, não vai responder?

- Eu queria saber um pouco mais de você, entender como você era e...

- Ah claro, você acreditou nos meus pais e achou que eu era uma louca delinquente.

- De forma alguma senhorita, eu apenas...

- Natalie, me chame de Natalie, e fique quieto por favor, não quero falar com ninguém, me deixe escutar música.

- Tudo bem sen.. Natalie, me desculpe... - Fiquei com dó dele depois, sei que fui um pouco grossa, mas eu precisava colocar tudo no lugar, estou imaginando o inferno que será quando eu chegar em casa, só de recordar a voz do meu pai ecoando nos meus ouvidos me criticando fico nervosa e impaciente. O trajeto foi feito em um completo silêncio, às vezes eu fazia questão de observar o motorista dirigindo, quando o carro passava em frente ao Sol e alguns raios iluminavam seu rosto, seus olhos castanhos que até então pareciam escuros, ficavam claros como mel, ele de vez em quando percebia que eu estava o observando e dava um mínimo sorriso de lado, eu não queria que ele pensasse que eu estava o admirando, então fechava a cara e desviava o olhar. Começo a observar as ruas por onde passamos, e estava tudo diferente, incrível como as coisas mudaram em apenas 5 anos. Pensei que não reconheceria minha casa, mas assim que vejo um coqueiro gigante com uma fita azul amarrada em sua volta, uma imagem da minha infância me veio a mente; eu estava ali, amarrando aquela fita azul na árvore, era verão e eu estava de férias, eu era tão feliz, eu e a ... Lauren... A Lauren...

The Prisoner Onde histórias criam vida. Descubra agora