Prólogo

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Quando a morte levou meus avós, ao mesmo tempo, eu tinha quinze anos e estava bem no meio deles segurando suas mãos. A janela do quarto do hospital se abriu e uma leve brisa entrou trazendo para dentro do leito um cheiro agradável de baunilha. Será que o céu tinha aquele cheiro? Será que vovô e vovó já estavam por lá?

Os dias seguintes foram de tristeza, principalmente para o meu pai, o filho mais novo deles. Uma semana depois quando a velha casa de madeira dos meus avós foi posta à venda, meus pais e eu fomos limpá-la e tiramos todos os móveis para que os futuros compradores vissem como ela era espaçosa e bonita por dentro, já que por fora precisava de uma boa pintura, para não listar outros possíveis reparos.

Fui limpar o quarto dos velhos, como eu os chamava carinhosamente, e ao contrário do leito do hospital, aquela grande câmara não tinha cheiro de baunilha, mas sim um forte odor de mofo que la se instalou depois que a casa ficou fechada por semanas inteiras, talvez mais de um mês, durante a desagradável estadia de vovô e vovó no hospital.

O tapete que ficava embaixo da cama ainda estava no quarto, era grande e estava muito empoeirado, o enrolei com um pouco de dificuldade e o rolei para perto da parede, ao voltar para o centro do quarto descobri que lá havia uma portinhola no chão que dava acesso a um porão provavelmente desconhecido pelos outros membros da família. Peguei uma lanterna velha que estava na entrada do porão e desci um lance de dez degraus de escada bem devagar para que papai não ouvisse nada. Andei até uma espécie de fornalha arredondada e explorei bem o local.

Em uma das paredes havia outra porta, porém bem menor que emanava uma irresistível luz de suas laterais. Eu estava atraído por aquela luminosidade, era como se ela pedisse para que eu a explorasse. Olhei para trás assegurando-me de estar sozinho e girei a pequena maçaneta lentamente.

Ao abrir a porta muitos papéis saltaram em minha direção acompanhados de um vento que de tão forte chegou a me empurrar para trás. Derrubei a lanterna assustado e quando os papéis pararam de voar fechei novante o espaço e dei uma breve olhada em tudo com a lanterna. Pareciam ser cartas, todas escritas com a mesma tinta e letra contorcida.

Não demorou muito para entender que se tratavam de histórias sobre pessoas diferentes, que nasceram com algum tipo de estranheza em um mundo nada perfeito. Logo vi que aquilo tudo só poderia ser algo de outro planeta e no dia seguinte voltei ao porão para ver se não havia deixado nada passar despercebido, mas a luz já não brilhava e a porta estava misteriosamente lacrada. Sorte que havia guardado todas as histórias comigo.

A estranha e infortunada sequência de eventos descritos nas cartas foram relatadas logo após o fim do mundo, as vezes com muito tato, como as poesias que voam livres pelas nossas imaginações, outras vezes carecendo de detalhes, rapidamente relatados pelo último sobrevivente do planeta distante. Provavelmente ele também veio a desaparecer junto com os demais habitantes, mas deixou para nós um pouco sobre este fantástico planeta.

Foi a descoberta mais inacreditável que já fiz e agora vou dividi-la com você! Vá fundo e explore cada linha, cada frase. Só vou logo avisando... Uma súbita tristeza pode lhe invadir caso venha deparar-se com alguns finais não muito felizes!

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O MENINO QUE NÃO PODIA CRESCER e outras histórias #Wattys2017Onde histórias criam vida. Descubra agora