Capítulo VIII

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O motivo é desconhecido até mesmo por mim.

Apenas a imagem da morte daquele rapaz por minhas mãos parece absolutamente repulsiva aos meus olhos.

Não pense que sou um assassino compulsivo, Charlie.

Em raros casos chego a matar.

Na maior parcela das vezes apenas satisfaço meu apetite por sangue e liberto o rapaz.

A morte acontece apenas nas vezes em que não posso me controlar, e não há ocorrências faz muito tempo.

O fato é que todos os que tirei a vida possuíam íris tão azuladas quanto as dele; minto. Não creio ter visto olhos mais azuis do que as que esse rapaz possui.

Em diversas circunstâncias tenho sonhado com o dono de tais olhos.

Nos meus sonhos, o momento da hipnose é sempre incerto: não se sabe quem cai no encanto de quem. Sou tentado a imaginar que sou sempre levado pelo feitiço dos lumes azuis.

Ainda sonhando, carrego-o pelas escadas do prédio mais alto.

Acho que anjos cantam uma ópera enquanto subimos.

Seus olhos sempre mirando os meus.

Observamos os vagalumes e sorrimos diante dos segredos que eles nos contam. A lua derrama sua luz rosada por cima de nós.

Quando chega a hora de morder o pescoço (que mais parece feito de porcelana, diga-se de passagem), nunca consigo consumar o ato.

A mordida sempre se transforma em um beijo suave que queima meus lábios.

Queima tanto que acordo com a boca em brasas, Charlie.

E com um leve incômodo por não ter sido real.

Socorro, mortinha. Hoje eu errei o ponto de ônibus e me perdi. Fiquei literalmente duas horas e meia rodando a cidade.

Harry bobinho, não é?

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