A ilustradora de sonhos

01º Minha sombra

Meu nome é Mia Hall, nasci em Oregon mas fui criada em Washington por pais adotivos Sara e Marcelus Hall. Tenho 17 anos, não sei realmente minhas origens já que eles insistem em não me falar nada sobre minha família biológica então prefiro acreditar que os Anderson me tiraram do abandono ou algo parecido.

Nesse momento estamos na velha caminhonete do meu avô, sempre com cheiro de canela e amendoín em seus estofados com uma manta velha de xadrez.

Eles estão conversando sobre algo desinteressante, poderia ser sobre trabalho, cantores dos anos 80 ou as velhas histórias de lobisomens que o vovô adora contar.

Sempre tive uma paixão por lobos desde criança, adorava desenhar nos meus cadernos de escola até a professora me pôr de castigo por não estar fazendo os deveres.

No meu aniversário de 13 anos ganhei um diário da minha mãe, mas nele eu só fazia meus desenhos, estava tão fascinada que chegava a sonhar todos os dias com isso. -Diziam que estava virando uma obsessão.

Minha vó me chamava de narcisista por sempre me olhar no espelho, gostava de me imaginar sendo um lobo. Não eu não sou uma doida, assim que fui crescendo percebi que algumas pessoas não compreendiam essa minha fascinação e então comecei a ganhar alguns apelidos como menina lobo e mogli então com o tempo comecei a deixar de lado toda essa "maluquice".

Agora tenho mais de cem músicas no meu Ipod, e desenho outras coisas além de lobos, afinal até que eu levava jeito pra isso.

As risadas no carro eram constantes, quando minha mãe tentava me incluir no assunto eu colocava mexas de meus cabelos castanhos sobre meu rosto pálido e fingia dormir, mas na verdade observava de canto o céu nublado e os grandes pinheiros a beira da estrada quase deserta.

-Emily você se lembra da Michele ? -Meu avô pergunta alongando o sorriso com seu bigode completamente branco, dava para ver sua expressão alegre pelo retrovisor.

-Michie, como posso esquecer ? –Michele é minha prima, mais conhecida como Michie, ela tem minha idade e posso dizer que realmente eu a detesto. Ela finge ser legal mas na verdade me detesta do mesmo jeito, sempre arruma um jeito de me pôr pra baixo.

-Faz um esforcinho ta ? -Minha mãe susurra segurando minha mão e dou um sorriso forçado.

-Chegamos.

-Ei mocinha deixa que eu carrego isso. –Meu avô praticamente arranca a mala de minha mão e sai levando para dentro de casa.

-Não se preocupe filha, será apenas por enquanto. –Meu pai fala dando um beijo rápido em minha testa e levando as malas para dentro. Esqueci de mencionar que minha mãe está grávida, está com cinco meses, é um menino, papai quer que se chame Charlie, mas ela quer que se chame Raphael, eles discutem sobre isso toda hora sempre perguntando minha opinião, mas tento ser imparcial então os ignoro dizendo que os dois nomes são bons e podiam ser combinados mas minha mãe acha que fica estranho "Charlie Raphael".

E lá estava Michele com seu sorriso perfeito, sua pele bronzeada artificialmente era esplendida na luz, enquanto eu parecia uma vela ambulante.

Não que eu fosse feia, e eu não sou. Mas em comparação a algumas pessoas de Oregon minha "beleza" não é muito bem recebida, eles diriam que é meio sem graça.

Cabelos castanhos batendo na metade das costas, olhos amarelados, pele pálida e corpo maleável.

Michie era o sinônimo de beleza que todos daqui admiram, pele dourada, cabelos ondulados batendo nos ombros, olhos verdes e corpo digamos que de modelo.

-Mia, que bom que chegaram. –Ela me abraçou repentinamente e nem me deu tempo de retribuir.

-Venha, eu mesma preparei seu quarto. –Ela sai me puxando escadaria a cima, quase tropeço e os barulhos daquelas pulseiras me deixavam nervosa.