{• Capítulo 1 •}

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"Corra e se esconda, vai ser ruim esta noite.
Porque aqui vem seu lado diabo.
Vai arruinar-me..."
- Devil Side, Foxes.




A noite estava mais fria agora do lado de fora da casa de Brooklyn. Minha amiga se despedia de minha filha, Alexia, enquanto eu sorria para aquela cena.

Eu havia sido mãe cedo, escolhido o caminho errado. Mas, não me arrependo de ter Alexia comigo, é o meu único motivo para seguir vivendo.

- Temos que ir, já está ficando muito tarde. - falei. Brooklyn me devolveu Lexi, segurei-a em meus braços e a envolvi no manto que eu havido trazido.

- Eu poderia lhe levar. Por que teima em não deixar?

Olhei para os lados. Balancei a cabeça e sorri para ela. - Não é muito distante.

Ela ainda parecia preocupada comigo, então apenas neguei com a cabeça outra vez e me despedi dela com um abraço. Dale, seu noivo, apareceu logo atrás dela. Acenei para ele e ele retribuiu meu gesto com um sorriso. Eles formavam um belo par de casal.

- Cuidado, Avery. Qualquer coisa, me ligue, por favor. - revirei os olhos.

- Ligo quando chegar em casa. Até mais tarde, e boa noite. - eles responderam à mim em uníssono, rindo logo em seguida.

Segui pela calçada. A minha respiração poderia ser vista no ar, graças à estação de inverno que nos encontramos agora em Liverpool. Lexi estava ruborizada, pelo frio que lhe atingia no rosto. Abaixei mais sua toca e a abracei mais à mim.

Parei de andar e olhei para todos os lados da rua, atravessei a avenida e segui um pouco mais rápido, já que saí do campo de visão de minha amiga e seu noivo. Meus cabelo me atrapalhava, batendo revolto em meu rosto. Soprei uma mecha para fora de minhas lentes do óculos.

Ouvi a risada baixinha de Lexi.

- Quer descer? Mamãe está cansada, meu amor. - ela balançou a cabecinha relutante. Suspirei de alívio, parando onde estava para que ela descesse de meu colo.

Alexia faria dois anos na próxima semana e eu não tinha dinheiro suficiente para que ela ganhasse um presente, e isso estava me consumindo. Sei que não pedirá nada muito chamativo, já que sempre gostou de ursos de pelúcia, mas quero que ganhe outra coisa.

Eu me sentia um fracasso com relação à ela. Às vezes, ela me pedia coisas, mas quando dizia que não podia dar, ela simplesmente sorria doce para mim e falava tudo bem. Ela era tão meiga e compreensiva, que não conseguia entender como ela aprendeu a ser assim.

As maiorias das roupas que têm são presentes que Brooklyn e Dale lhe dão, mas mesmo assim, quero lhe oferecer mais do que isso. Eu não quero ser um fracasso para ela.

Quando os meus pais morreram, eu cresci com a família de Brooklyn. Eles estavam sempre tão presentes em minha vida, que os confundia com os meus verdadeiros pais. Sendo que os meus pais biológicos, sequer sabiam a data de meu aniversário. E é por este motivo que não quero repetir o que meus pais me fizeram com ela; quero ser o mais presente o possível. Quero que tenha tudo que está ao meu alcance. Quero que seja feliz.

Atravessamos a outra avenida, Alexia correndo na frente me puxando pela mão.

- Calma, filha! - repreendo-a, ela escorrega na neve e quase cai, levando-me junto.

Ela me olha assustada. Sorrio para ela, lembrando do que me disseram sobre quando uma criança cair ou quase, sorrir que ela não chora. Pelo menos, com Alexia funcionou.

- Não corra mais, pode se machucar. - digo. - Venha. - carrego, apoiando-a em meus quadris.

Minha cabeça estava começando a latejar pelo cansaço que já me consumia. Continuei meus passos para fora o canteiro da rua. O vento estava um pouco mais forte, e meu rosto já ardia pelo forte bater. Alexia se manteve inquieta durante meu caminhar, e como minha cabeça já latejava, não queria descontar nela o meu nervosismo.

Olhei no relógio de pulso, agora eram exatas dez horas da noite. Eu não deveria ter saído tarde para visitar Brooklyn.

- Amor, fica quietinha. Mamãe já está com dor de cabeça. - ela sussurrou algo que não pude escutar pelo barulho de um carro passando. - O que foi?

Virei meu rosto para ela. Seus olhos castanhos esverdeados expressavam medo e curiosidade.

- Ali. - apontou.

Ao que olhei para trás, consegui ver duas sombras no prédio ao meu lado. Dois homens seguiam atrás de mim, um estava encapuzado e outro sem nada para lhe esconder a identidade.

- É tarde, não?

Consegui capturar a voz de um deles. Não sei bem quem deu risada, pois não me atrevi a olhar para trás mais uma vez, mas eu só queria sair dali.

Voltei para para o meu caminho. Nenhum barulho, todas as luzes dos condomínios estavam apagadas. Como sairíamos disso?

Meu corpo entrou em alerta, fiz o possível para esconder Alexia em meu colo. Minhas pernas se moviam pelo medo que corria em minhas veias; minha respiração estava muito mais ofegante e fazia o impossível para que Alexia não notasse minha expressão de pânico.

- Mama?

Lhe encarei e sorri para ela. - Vamos brincar? - ela assentiu, sorridente. De repente, senti que esse seria seu último sorriso. Eu não permitiria que fizessem mal à minha filha. Ninguém tocaria no meu maior tesouro.

- Vamos brincar de esconde-esconde, Ok? - Falo nervosa, a única coisa que conseguia pensar era nela, minha filha, minha preciosidade, não posso deixar que nada lhe aconteça.

- A mamãe conta - Solto ela, e tento bloquear o máximo, para que não vejam para onde ela foi. Eles se aproximam e minhas pernas voltam a ficar bambas, agora que percebi, não posso passar por isso de novo.

- U-um... D-dois - Os passos deles estão cada vez mais próximo, não quero que meu nervosismo transpareça, não quero que minha filha saia de seu esconderijo e venha me perguntar o por que de sua mama estar chorando.

- Diga, docinho, o que faz tão tarde na rua?

Um deles falou. Virei meu corpo para eles. Eu tinha de fazer algo para que Alexia permanecesse em seu lugar e não saísse de jeito nenhum de lá.

- Responda! - sibilou.

- Vo-Volto da casa de minha amiga. - tratei de lhe responder o mais rápido possível.

O encapuzado apenas me observava, em seu rosto havia uma marca gritante que lhe deixava mais assustador. Sua expressão era impassível, eu não poderia afirmar quais pensamentos lhe corriam atrás daquela máscara fria e assustadora que usava.

- Sabe, à essa hora, muitas pessoas ruins podem estar circulando na rua.

O rapaz que se mantinha falando comigo riu, porém o ato não alcançou seu olhar. Os olhos azuis claros estavam profundamente fitando-me.

- Com péssimas intenções... - suas mãos deslizaram pelo meu rosto, afastei o mesmo de seu toque, por nojo.

- Eu tenho que ir. - falei entredentes. Deu-lhe as costas, e caminhei pelo gramado da praça.

Meu cabelo fora puxado com certa força, trazendo minha cabeça para baixo. Rangi os dentes quando meu braço direito foi torcido em minhas costas. Um grito fino me escapou.

Meu coração se acelerou, ouvi um movimento vindo da direção que minha pequena correra e meus pensamentos me levaram a Alexia. Ela sempre fora curiosa por natureza. Não permita Deus, pensei com lágrimas se acumulando em meus olhos, não permita que seja ela.

Vejo apenas o lindo rostinho de Alexia em meio a escuridão sair um pouco de trás de um latão de lixo, lhe dou um olhar duro e seco, o mesmo de quando ela se interrompe uma conversa de adulto e sei que ela entendeu, pois segundos depois ela não está mais lá. Me permito suspirar um pouco aliviada, esperando que os rapazes não tenham a visto. Nunca agradeci tanto pela filha que tenho, ela nunca me deu trabalho, não seria agora que faria o contrário.

O rapaz abre a boca para me dizer algo; no entanto, este nunca o faz. E é quando menos espero, uma voz rouca e profunda soa ao longe. O sotaque britânico é muito forte, e sei que já ouvi-lo antes...

Oh, não...

- Deixem-a em paz.

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⏰ Última atualização: Jul 12, 2016 ⏰

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