Depois de anos trancafiado em um Banker pequeno e escuro, vou poder sair e ver como o mundo ficou. Se ainda existir um mundo. Me levanto, um pouco fraco, e caminho entre os corpos que ali estão apodrecendo, o cheiro de gente morta não me incomoda mais. Paro em frente ao corpo de um criança, seu nome era John a quem eu prometi que um dia depois da guerra ele veria a luz do dia novamente. Um promessa que nunca cumprirei. Sinto as lágrimas correrem. Perdi John por inanição. Muitos ali morreram por falta de suprimentos, como estou vivo ainda não sei. Saio de perto dele e me dirijo até a porta do Banker, aciono o botão que abre a porta, ela me dá acesso a uma escada longa. Não sei se terei forças para conseguir chegar ao topo.
- Vamos lá, Alexsander, você viveu até agora. Só mais um pouco de esforço. - Digo a mim mesmo e me impulsionando para cima.
Os últimos degraus vão surgindo e eu consigo abrir um sorriso de satisfação. Meus músculos do rosto doem com o gesto que não pratico há bastante tempo. Tenho que abrir mais uma porta de ferro, a força necessária que preciso fazer parece que vou arrastar um caminhão, meus músculos começam a reclamar mas enfim consigo e tenho que fechar meus olhos rapidamente, a luz do dia incomoda. De pouco em pouco consigo me acostumar à claridade e vejo o que restou do que eu chamava de mundo. O céu era de um cinza escuro, carros capotados a toda volta, mais e mais corpos por toda parte. Os prédios a minha volta estavam destruídos, alguns apenas com suas vigas metálicas. Me arrasto até um vidro espelhado e vejo meu reflexo. Não reconheço o rapaz que me encara no espelho, cabelos até o ombro preto e sujo, moreno e mais alto do que eu me lembrava e mais magro também. Desvio o olhar do reflexo rapidamente e olho mais uma vez ao redor. Não é apenas o meu reflexo que não reconheço. Tudo que eu conhecia em dois anos se foi.
