Riacho Profundo, Druida costeiro do Círculo da Lua

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Música: https://www.youtube.com/watch?v=gYH1SNJpbdg

Nasci em uma pequena aldeia humana ribeirinha, pessoas duras e afastadas da civilização, de uma cultura incomum aos costumes dos locais de grande aglomeração. No grande dia quando minha mãe deu à luz, todos da vila ouviram-na predizendo o nascimento, mas quando saíram para ajudá-la, ela não estava no círculo sagrado no centro da vila, ninguém entendeu e se separaram em grupos para procura-la, pois, seu companheiro havia morrido caçando como um grande guerreiro há muito tempo.


O xamã da tribo também havia saído com um grupo de busca, pois secretamente havia vislumbrado algo ruim para aquele dia, mas não havia contado a ninguém. Encontraram-na não tão longe da vila, pernas cortadas pelas vinhas que se aprumavam pelas raízes longas das grandes árvores, caída no chão e segurando sua barriga, lágrimas nos olhos. O grupo do xamã foi quem a encontrou e ao primeiro olhar dela para ele, sua boca balbuciava a palavra "Perdão" entre as contrações e respirações ofegantes.


Levaram-na para a vila, mas a corrida não foi o suficiente, eu nasci fora do círculo sagrado, um ultraje para as tradições e além disso, nasci diferente dos outros. Os traços mais afinados e as orelhas mais pontudas eram sinais claros de que eu não era humano, um ser que se assemelhava com a minha mãe em praticamente tudo, mas muitos dos meus traços raciais eram élficos, do meu pai biológico o qual minha mãe conheceu durante uma de suas viagens de reconhecimento após a morte de seu guerreiro. Eu não era elfo também e era o mínimo necessário para que a visão do xamã fosse confirmada. Com raiva e entre gritos da tribo, minha mãe foi arrastada pela vila enquanto me segurava, levada até o riacho que nos alimentava e lá, nos afogaram pedindo desculpas aos deuses pela maldição que fora trazida para a aldeia. Nossos corpos foram deixados no rio, o qual se encarregou de leva-los para longe e mesmo com o corpo inerte, minha mãe ainda me segurava.


Como devem imaginar, eu sobrevivi para poder contar-lhes essa história, fui criado por outras pessoas que encontraram os corpos e dedicaram um funeral digno à minha mãe, pessoas que entenderam o que minha vila ainda não havia compreendido, que a maldição não estava em ter um filho meio-elfo ou de qualquer outra raça, a maldição estava em tirar a vida dos seus, dentro do próprio rio que os sustentava.


Após crescido e aprendido as artes básicas de sobrevivência e do druidismo, voltei à aldeia por curiosidade, ela não existia mais, o rio havia se alargado e subido, inundando tudo. Vi vestígios de que o meu povo conseguira sair de lá, mas não encontrei sua nova localização. Descobri também, que eu não fui o único que fui até o vilarejo para ver o como estava, pois, após esse dia, fui seguido e por diversas vezes tentaram me caçar na floresta e eu sabia que alguém da aldeia havia me visto e queria terminar o que eles começaram. Provavelmente acham que a aldeia foi punida por eu ter sobrevivido e por sorte, consigo usar a floresta a meu favor hoje muito melhor que seus caçadores, fugi e dei graças a Silvanus que me deu a chance de viver e me permite ser um com a natureza hoje, como prova viva de que aqueles que respeitam a natureza são bênçãos e não uma maldição.


Eu não tinha interesse em encontrar meu antigo povo mais e também não podia ficar ligado para sempre ao círculo druídico que me ensinou, eu precisava sair e conhecer a natureza, entende-la melhor para que no futuro eu possa formar mais guardiões como eu. Eu sei que tudo o que acontece comigo faz parte de um plano maior de Silvanus para me preparar para o futuro e tenho certeza de que meus pensamentos e minha crença estão ligadas ao meu deus.

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⏰ Última atualização: Jul 16, 2016 ⏰

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