Por entre os meus dedos

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Estou sentada na cama que, noutros tempos, era tua também. Lembro-me das lutas e do amor que este colchão suportou. E, tal como eu, sei que sente a tua falta.

O teu cheiro já não ocupa este espaço. As tuas roupas estão empacotadas para que as venhas buscar algum dia. E as nossas fotografias estão escondidas para que, com essas memórias, não voltem também os sentimentos.

Como é que conseguiste ir embora? Fugir deste amor que nos prendia. Apagar esta chama que iluminava as nossas noites.

Não consigo pedir-te que voltes. Não é o orgulho que me impede mas a felicidade que demonstras quando outra sorri para ti. Era egoísta da minha parte puxar-te para mim, não era?

E nestes pensamentos sufocantes, por entre cigarros e copos de vinho, vejo-te a partir. Por entre os meus dedos, por entre os soluços do meu choro.

Tento dormir todo o dia para que não caia na realidade de não te ter, mas alguma força superior impede-me de adormecer para que não te veja um único segundo da minha vida.


Cartas para tiOnde histórias criam vida. Descubra agora