Eu era apenas uma criança. .

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Eu fechei os olhos e juntei as mãos para rezar. Implorei a Deus que não deixasse piorar. Eu, por mais esperta, não entendia o porque dele nos deixar. Ele dizia nos amar e quem ama cuida.


"Pai nosso que estás no céu "


Eu abri os olhos e ele gritou que voltaria por mim, que de mim ele não desistiria. Mamãe gritou mandando ele ir logo. Os vizinhos saíram de suas casas para ver o que acontecia, parados ao redor da cerca do quintal. O Gol de papai estava estacionado no quintal, e ele ao lado. Mamãe ficou uns passos de distância dele, e eu no seu lado.

"Santificado seja Vosso nome"

Papai começou a falar nomes que deixavam os vizinhos espantados.

- Se prepara Beatriz! Eu vou voltar com um advogado ! O melhor! - Bufou ele.

- Venha! Medo de você eu não tenho!

- Deveria.

"Venha a nós o Vosso reino"

Mamãe se virou a mim e disse que nunca me abandonaria como ele estava fazendo.
No mesmo instante, ele entrou dentro de casa para pegar o restante das malas e ela foi atrás. Só se ouvia os berros dela e os xingões dele. Ele saiu da casa com suas malas enormes e jogou no porta malas do carro. Ela correndo atrás .

Fechei os olhos novamente e continuei a rezar.

"Seja feita Vossa vontade, assim na Terra como no céu "

Às vezes, as vozes dos vizinhos sobre-saltavam às discussões de mamãe e papai. Dava para ouvir o que diziam perfeitamente " Que horror" "Nunca que eu faria isso" "Ela merece" " Eu faria o mesmo" .
Aqueles comentários só me deixavam mais confusa.

Mamãe e papai sempre me ensinaram a rezar quando eu sentisse medo, tivesse perguntas ou quando queria desabafar com alguém que não fosse eles.

" Por favor Deus, mande alguém para cuidar de nós!"

Papai caminhou na minha direção, mas mamãe o impediu se fixando na minha frente. Novamente eles discutiram, mas desta vez eu falei algo, eu dei uns puxões na camisa dela, a qual me olhou no mesmo instante.

Os olhos vermelhos e uma única lágrima escorrendo no olho direito. Parecia que ela havia secado de tanto chorar. Seus cabelos ruivos agora não tão volumosos com fios brancos facilmente visíveis. Seu olhar era de vergonha.

- Mamãe, por favor. . Eu quero o papai.- Ela deu um suspiro e saiu da frente. Caminhou para a varanda e ficou lá aguardando.

Papai me abraçou forte e me beijou na testa. Me disse coisas lindas, momentos bons que passamos ele jurou repetir e se despediu.
Enquanto ele ia embora, mamãe foi entrando para dentro de casa. Eu não sabia se ia atrás dela ou já fechar o portão que papai deixou aberto ao sair com o carro.
Mamãe era mais importante mas eu não iria saber o que fazer.

Eu fui fechar o portão e de repente vi uma luz. O sol parecia muito maior do que o normal.
O mais estranho, falava:

- Acorda, dorminhoca!

Não entendi nada, tentei toca-lo mas não alcançava, quando me deparei estava na minha cama, alguém abrindo as cortinas e o sol brilhando acima .

"De novo.. O que está acontecendo? "
Eu acabara de ter meu terceiro pesadelo em três dias seguidos.

- Ta bem? Parece, não sei.. Agitada ou preocupada. Pesadelo? - Perguntou a pessoa que abriu as cortinas, visto o rosto dela, Paola se aproximou e se sentou na beirada da cama.

- Sim, eu só.. Com meus pais de novo. Só que dessa vez eu não rezei pedindo um anjo da guarda ou algo parecido. Bom.. Eu pedi mas não foi tanto como nas outras vezes.

Ela se levantou e abriu a janela. Ela começou a organizar o quarto.

- Talvez isso queira dizer que Ele ouviu suas preces. - Zombou ela.

Eu virei o rosto para a paisagem da rua. Estar no quinto andar tem suas vantagens.
A cidade já acordada, sendo que era 6h30m. Pensei mais um pouco sobre o sonho, mas o barulho dos carros, das obras e pessoas me impediram de continuar.

- Nossa, se isso fosse verdade.- Suspirei.

Eu, sempre que ficava com uma música na cabeça, eu escutava e cantava até enjoar. A prece estava na minha cabeça.

- O pão nosso de casa dia nos dai hoje, perdoai-nos nossas ofensas, assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido e não nos deixe cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém.

Uma Faísca de Amor ( Incompleto )Onde histórias criam vida. Descubra agora