12 /06

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A verdade é que eu não estava nem um pouco com vontade de ir a aquela festa, minha vontade era ficar em casa de preferência na minha cama com um bom livro e chocolate quente. Junho não é um mês muito atraente. Frio! Quem gostava do frio? Eu que não, mesmo contra minha vontade terminei de me vestir, calcei os sapatos, passei uma maquiagem porque com a cara que eu estava não dava para sair nem até a esquina. Já estava na porta quando me lembrei do colar que eu havia ganhado de uma senhora que mais se parecia com um pigmeu, ela havia me dito que a jóia que pendia do colar era uma pedra estrela... Sinceramente não me importei a princípio.
- Espere preciso gravar uma coisa nesta jóia.- Disse-me toda sorridente
- "12/06 mistério"? Para mim isso significava só uma coisa, dia dos namorados e o meu é um mistério.

-Doze de Junho?- Perguntou a senhora estudando meu rosto.
- Sim. Hoje é doze de Junho, não é?- respondi.
-É , é sim - Sem mais entregou-me em um embrulho vermelho com fitas pretas.

Coloquei o colar com o lado escrito de forma que ficasse oculto dos olhares de curiosos . Peguei o prato de quitutes que eu havia preparado. Isso é regra em todas nossas festas de vizinhança, cada um leva um prato. O caminho estava iluminado por tochas, podia-se ouvir a música alta e gritos animados, isso era festa  Junina no condomínio Treze como era chamado nosso recinto. Um apelido carinhoso para aquela família maluca da qual eu e grande parte dos amigos pertencíamos. Deixei a bandeja em cima da mesa destinada para os doces, afinal a única coisa que eu pensei foi um doce de limão, rápido e prático, eu não tinha muito tempo para pratos elaborados afinal eu não era tão boa nisso.
Muitas pessoas estavam presentes, algumas eu não conhecia, sinceramente eu ainda queria voltar para minha casa. Aos poucos aquele ambiente contagiante foi me dominando. Senti necessidade de registrar tudo, tirei do bolso o aparelho celular. Eu já disse a vocês que eu e a tecnologia somos inimigas número um? Definitivamente nós duas não damos certo, mesmo assim decidi que hoje ela iria colaborar, era eu ou ela.
Registrei o riso alegre das crianças, a dança maluca de um casal que era o centro das atenções, um bêbado que tentava cantar a qualquer custo, minha mãe com seus óculos discretos e sua lata de cerveja nas mãos, as pessoas sentadas nas cadeiras organizadas uma do lado da outra, também rindo e feliz. Eu me senti um pouco deslocada. O que eu estava fazendo ali? Afastei esse pensamento e me deixei ser preenchida pela felicidade do Condomínio Treze.
Ao fundo uma fogueira crepitava dando vida ao ambiente, algumas pessoas passavam por mim com vários pratos e guloseimas. Entre um clique e outro eu o vi, ajustei o ângulo da câmera. Ele olhava para mim enquanto tirava uma foto com os amigos, mas era em minha direção que ele olhava. Um mistério.
Então, clique! Guardei aqueles olhos enigmáticos, tão jovem ,mas de alguma forma tão maduro. Quem ele é? Caminhei entre as pessoas que dançavam, me aproximei o suficiente para que eu pudesse observa-lo melhor.

-Ei, você não vai beber alguma coisa?

Virei-me e encontrei minha tia com uma lata de cerveja estendida em minha direção, recusei educadamente e continuei caminhado em direção ao que me chamava atenção. Cabelos negros, olhos que pareciam em busca de algo que passava despercebido a outros, se meus cálculos estavam certos ele deveria ter um metro e oitenta no máximo. Porte de uma pessoa que não se deixava incomodar, ao contrário, ele me intimidava, mas eu jamais deixaria que ele soubesse disso eu também tinha meu orgulho. Não tinha? Muito! Encontrei Clara e a puxei para uma conversa.

-Ei, Clara! Quem é o novato ali?- indiquei com um leve gesto.
- Ah aquele? É amigo de alguém aí.

Que maravilha, ela me ajudou muito dessa forma. O jeito seria descobrir por mim mesma. Ah, quer saber? Essa coisa de ser discreta não vai dar em nada, se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. E foi o que eu fiz.

- Posso?- Indiquei a câmera para verbalizar o que eu queria fazer. E ele me olhou diretamente nos olhos. Era como descongelar o pólo Norte inteiro.

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