Capítulo 01 - Novas Pessoas

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   Naquele dia acordei especialmente cedo. Estava ansioso para fazer minha inscrição para o processo seletivo da escola que queria estudar já fazia um tempo. Eu sempre fui muito estudioso e, naquele ano, estava mais do que nunca focado nos estudos. 1º ano e eu estudando feito louco para tentar passar na prova da escola que eu queria entrar, pois é a escola de ensino médio mais importante da minha cidade. 

  Levantei rápido e já fui em direção ao banheiro fazer minha higiene matinal. Depois de limpo, dentes escovados e cabelos penteados, desci para tomar café e já encontrei minha mãe sentada na mesa, tomando o café. Roubei uma de suas torradas e ela me deu um tapa na cabeça. 

  -- Tu não toma jeito nunca, né menino? Que horas a Mel vem para vocês irem fazer a inscrição?  

   Mel, apelido de Meryli, era minha melhor amiga da escola. Ela era uma garota alta e com corpo de modelo. Seus cabelos loiros caiam longos pelas costas e ela usava aparelho nos dentes, o que lhe acrescentava um certo charme. Ela era o tipo de garota fofa, amiga e simpática. Um pouco histérica e feliz demais, devo admitir. Eu e ela eramos os melhores da sala de aula, tirando as melhores notas e sempre participativos. Os típicos nerds.

  -- Ela falou que uma hora da tarde ela passa aqui, mas ela ta sempre atrasada.-- Disse dando de ombros. 

   O resto da manhã correu normalmente, aproveitei pra ver televisão e atualizar o facebook. Naquele dia ocorreria a feira cultural do meu antigo colégio. No meu antigo colégio, todo fim de ano os professores e o grêmio discutiam e selecionavam um tema que todas as turmas teriam que trabalhar de forma diferente e expor os trabalhos. Era sempre uma zoação sem fim e eu talvez apareceria lá para rever meus antigos amigos e professores. 

   Uma e meia da tarde Mel apareceu em casa, ela também estava ansiosa para fazer sua inscrição. Avisei minha mãe e a mãe dela levou a gente até o local das inscrições. No carro, íamos conversando.

  -- Então, que matéria tu vai cursar?-- Disse eu, curioso. Nesse colégio, eles ofereciam um curso superior, para que os alunos já saíssem com alguma formação, então ao invés de três anos de Ensino Médio, nós teríamos quatro. 

  -- Edificações. E você?-- Disse ela, animada como sempre. 

  -- Também. Parece que seremos concorrentes então. Vai ter que se esforçar muito pra ser melhor que eu.-- Falei brincando e ela me deu um fraco soco no ombro. 

   Logo chegamos no nosso destino, fizemos nossas inscrições, pagamos e saímos dando pulinhos pelas escadas do prédio, feito duas crianças. O pessoal engravatado e os alunos, muito disciplinados, nos lançavam um olhar de reprovação. 

  Na volta, pedi para a mãe de Mel me deixar na minha antiga escola. Ela atendeu o pedido, me despedi das duas e entrei no colégio, me sentindo em casa. Ia vendo meus antigos professores e abraçando-os, mostrando o papel da minha inscrição, que logo ficavam orgulhosos de mim. Ia vendo alguns antigos colegas também, que não via a quase um ano. Encontrei o que era meu melhor amigo na época que estudei lá e comecei a andar com ele, vendo os outros trabalhos e colocando o papo em dias. Logo ele me apresentou dois amigos que estavam visitando também. Os dois eram um pouco mais baixos que eu. Eles eram irmãos e o mais velho tinha a mesma idade que eu, 16 anos. Branco, cabelos castanhos em um corte curto, boca desenhada e olhar de sapeca. Sua camiseta colada me permitia ver o corpo dele: Peitoral avantajado e barriga reta, chapada. O tipo de cara que me atraía. Seu nome era Gabriel. O seu irmão, mais novo, era da mesma altura que ele, sendo um ano mais novo. Sua pele era um pouco mais escura, um sorriso tímido e olhos castanho, seu cabelo era preto e caia em uma franja no seu rosto, estilo garoto inocente. Seu nome era Lucas.

   Eu já tinha entendido minha sexualidade já fazia algum tempo, e não tinha problemas com isso, ficava tanto com meninas quanto com meninos. Já havia também contado para os amigos mais próximos, porém, até então não tinha assumido para minha família. Os únicos que sabiam era a Mel e aquele amigo meu, Felipe, que tinha encontrado naquela feira e me apresentado os dois irmãos. Felipe também era bissexual e já havíamos ficado algumas vezes.

   Eu, Felipe, Gabriel e Lucas ficamos fazendo graça na feira até acabar, quando então resolvemos sair e andar pelo bairro, sem nada para fazer mesmo. No caminho, discretamente, Felipe me contou que estava afim de Lucas tinha um certo tempo, mas que ele e o irmão eram héteros. 

   -- Eu acho que não.-- Disse, duvidando da sexualidade dos dois. 

   -- Pois eu tenho certeza que sim.-- Disse Felipe, incrédulo.

   -- Quer apostar que em até três dias provo que os dois não são héteros?

   -- Com você, eu não aposto nada.-- Disse ele e eu ri, pois ele sabia que nunca perdia uma aposta.

    Daí em diante eu foquei em observar os dois e provocar para tentar descobrir algo. Gabriel claramente me atraia. Resolvi então ser um pouco mais invasivo, então logo soltei. 

   -- Felipe, lembra daquele cara que fiquei na festa de fim de ano do ano passado?-- Ele logo sacou o que eu estava fazendo e os outros dois me olharam curiosos. 

   -- Você fica com caras?-- Gabriel perguntou, perplexo. Nessa hora eu o estava carregando em minhas costas, a brincadeira de cavalinho. Ele desceu e me olhou, com curiosidade no olhar. 

   -- Sim, sou bi. Tem preconceito?-- Ele logo abriu um sorriso, o mais lindo que já tinha visto. 

   -- Não, não. Sempre quis ter um amigo bi, mas até então não conhecia ninguém.-- Ele falou, e eu abri um sorriso malicioso para Felipe. Lucas logo se manifestou também.

   -- Eu sempre tive vontade de ficar com caras, para experimentar e tal, mas, sei lá. Tenho 90% de vontade e 10% de coragem.-- Lucas disse, ele parecia animado e tímido ao mesmo tempo. 

   Dei uma olhada maliciosa para Felipe, novamente e abri um largo sorriso. Ele entendeu. 

   -- Era pra ser dois dias, foi menos de duas horas.-- Disse, Felipe entendeu e os outros dois ficaram boiando, com cara de curiosidade. 

   Continuamos brincando e conversando na rua, até escurecer, quando resolvemos deixar os dois em suas casas e voltarmos para as nossas. No caminho, combinamos de ir para uma festa encontrar outros amigos meus no dia seguinte. A festa era um pouco longe de nossas casas, no centro da cidade e a irmã de Felipe, Susana, iria nos levar. Ela tinha 25 anos, mas se enturmava facilmente comigo e com Felipe. A garota havia terminado seu casamento e assumido publicamente que era lésbica. Felipe deu total apoio, mas o restante da família toda a condenou.

   -- Se eu não ficar com ninguém amanhã, vou morrer. Ir pra festa e não beijar alguém é triste.-- Eu disse, ainda provocando. 

   -- Lá a gente dá um jeito nisso.-- Gabriel, disse com um sorriso tímido e malicioso ao mesmo tempo.

   Já sabia que o dia seguinte prometia, então as 20:00 deixamos os garotos em suas casas, Felipe me deixou em casa e depois foi para a sua. Terminamos de combinar tudo pelo Whatsapp e logo, as 23:00 fui dormir, louco pelo dia seguinte.

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⏰ Última atualização: Dec 24, 2017 ⏰

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