Quando ele pegava a bola, o tempo parava. Os jogadores paravam.
Meu coração parava.
Desprovido de qualquer tipo de esforço, Shintaro moveu deliberadamente a mão direita e virou-se para o contra ataque do oponente, cinco segundos antes da bola entrar com perfeição em seu aro.
Três pontos.
O louvor foi ouvido nas arquibancadas, enquanto a multidão escandalizava:
Shutoku!Shutoku!Involuntariamente, sorri de canto.
Três minutos depois, nos curvavamos e ouvimos a saudação do público.SHUTOKU 167 x 43 SENSHINKAN
Admito, aquele foi um péssimo jogo; perdemos algumas chances de cestas e todos do time pareciam desinteressados na jogada em equipe. Era duro e vergonhoso admitir, mas até eu não conseguia me achar na partida. Dos seis jogadores, apenas um mantinha concentração e sabia o que estava fazendo, e esse era Midorima Shintaro. Não perdeu uma bola, não falhou um passe.
Isso era o mínimo que todos esperavam do lançador da Geração dos Milagres: A perfeição que acompanhava os prováveis seis melhores jogadores de basquetebol do Japão. Todavia, o ajeitar dos óculos de Shintaro mostrava que ele não se importava com nenhuma expectativa.
Aquele olhar vageou por toda a quadra até se encontrarem com os meus, fixando-se na sua expressão rígida e fria. Ele estava bravo. Engoli em seco e pedi licença ao técnico, que me dava sermões a respeito da minha péssima jogabilidade. Midorima não se mostrou disposto a movimentar-se, pois ficou parado enquanto eu fazia o trajeto dos bancos até a saida da quadra.
O ar ao redor do jogador parecia mais pesado. Se quis falar alguma coisa, não o fez. Ele me encarou profundamente, como que tentando decifrar algo, até eu perceber que ele queria confessar algo.
Mas o que quer que fosse, preferiu não dizer, pois seguiu em frente em direção ao vestiário do time; e lá o clima estava horrível.
As reclamações do técnico do time ecoaram por todo o ambiente, da esquerda até a direita, retumbando em meus ouvidos. A maioria dos jogadores a tudo ouviam cabisbaixos, enquanto eu e Shintaro assistiamos ao show de sermões de Masaaki Nakatani de cabeça erguida. Ousei olhar sutilmente para o lançador, e quando o fiz, senti seu olhar direto e frio sob mim. Senti uma pontada de nervosismo.
Esse tipo de situação eu nomeei "última cesta". É um momento de grande tensão no jogo, e a última cesta da minha vida era quando Midorima me lançava um olhar rígido e simplesmente me ignorava depois.
Ele parecia desconfortável ao meu lado, e ao perceber meus olhos em si, ajeitou os óculos e fixou-se na nuca de Miyaji, frente a ele. Abaixei a cabeça e vagueei para pensamentos distantes dali. Distantes daquele cenário de vergonha. Havia um motivo que justificava minha falta de concentração. Ele era alto, reservado, superticioso e recebia as considerações do treinador à minha direita.
Nos últimos dias, Midorima Shintaro havia enlouquecido minha cabeça. Para piorar, isso era constante a todo o tempo. Independente das minhas ações - eu poderia estar jogando ou resolvendo cálculos para uma atividade – ele estaria lá, ocupando minha mente.
Era incontrolável, principalmente pelo fato que eu queria que fosse assim. Sorria ao imaginar seus cabelos verdes sendo desbravados pelas minhas mãos nervosas; sentia minha voz embargar depois de ouvir ele declarar o quão satisfeito estava por nossa boa amizade.
Seria apenas aquilo, não é?
Mesmo não gostando nada quando ele me tratava assim, eu não me sentia importante o suficiente para brigar pela atenção dele. Também não era como se eu quisesse falar com ele depois do ultimo final de semana.
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Noite De Fogos
Fanfiction"Uma vez inclinado em direção ao rosto assustado de Shintaro, e eu senti. Senti seu coração acelerado. Senti sua língua tocando a minha. Senti os fogos dentro de mim." Fanfic - Kuroko no Basket - MidoTaka