Quando chegou aos territórios da tribo dos Drolfs, a alva que cobria seu corpo até os pés e sua barba, bigode e cabelos longos brancos como a neve formavam um contraste enorme com a escuridão que Trevas tinha imposto em todos os cantos.
Sem a luz poderosa e quente do sol, aquela floresta, que antes era formada por uma diversidade enorme de árvores, plantas, flores e frutos, havia se transformado em uma vegetação rasteira e, em muitos cantos, sem vida. Algumas poucas árvores sem folhas e frutos, apenas com seus galhos secos e retorcidos se mantinham em pé.
Não bastasse essa visão horrorosa, ele percebeu algo que o gelou por dentro: penduradas nos galhos mais fortes das poucas árvores, estavam jaulas com animais e até mesmo crias de alguns Gryfs. Seu companheiro de jornada, o cuteleiro Beots mais antigo de todo o império Mabelah o fitou com um ar de desespero e horror no rosto.
– Isso não é do feitio dos Drolfs – murmurou.
Quando tentou acalmar seu cuteleiro, que carregava, nas mãos, a caixa onde estava guardado o metal que veio do céu, surgiram no meio da escuridão os dois olhos vermelhos característicos dos Drolfs.
- O que vocês fazem aqui? – com a voz rouca e cansada, soando como um uivo no meio daquele silêncio, perguntou Wulft, o príncipe sagrado dos Drolfs, que se aproximou dos dois viajantes nas suas quatro patas com a rapidez usual desta raça.
- Você deve ser Wulft – disse o Senhor com a voz calma e suave – Estamos aqui porque precisamos de suas instalações para forjar a espada que necessito para desafiar Trevas.
- Por que acredita que conseguirás? Vários já tentaram, inclusive meus melhores guerreiros e nenhum voltou para cantar vitórias, prova definitiva que já perdemos essa luta.
- Quem disse que quero voltar ou cantar vitórias. Trevas faz a parte dele, eu farei a minha. Você deveria honrar sua raça e fazer a sua. Isso que vemos é degradante. Guardar animais para fome, eu compreendo, mas crias. Isso é um crime.
- Se tivesse que sustentar o pouco que sobrou de minha raça, entenderia.
- Mas se disse que a luta está perdida, para que tudo isso?
Wulft ficou sem reposta, olhando firmemente para aqueles dois forasteiros que apareceram do nada e ainda questionavam suas atitudes, porém não conseguia reagir às palavras daquele ser alto e que clareava tudo a sua volta com sua roupa, face e pelos claros como a luz.
- Wulft, não estou te julgando, não é minha função e nem minha ideia. Estou aqui com Ledilian, nosso melhor cuteleiro, para forjar a espada que carregarei para enfrentar Trevas. Preciso da sua instalação, pois sei que dentre as melhores espadas, muitas delas foram fabricadas aqui. Já trouxe o cuteleiro, já tenho o metal que veio do céu. Preciso da sua instalação e de mais um pequeno favor.
- Não sei o motivo de ajuda-lo. Temos fome e poucos recursos – falou com a voz rouca, mas sem a fúria e a raiva de antes.
Senhor explicou que o metal que veio do céu foi guardado por muitas eras desde que foi recolhido pelos seus ancestrais para que fosse usado no pior momento que pudessem passar. Este metal passou de geração em geração e guardado com ele para que fosse usado agora – era o metal mais duro e mais resistente já encontrado em todos os cantos.
Continuou explicando que encontrou Ledilian para que pudesse fazer a espada da forma que ela necessita ser forjada. Somente um cuteleiro antigo e com toda a arte inserida em sua mente e sua alma, poderia forjar a espada de forma a ser a melhor e mais perfeita possível.
Ainda citou que de todas as instalações para a forja, a melhor e mais bem conservada seria aquela que está na tribo dos Drolfs, uma vez que dali saíram as últimas espadas e demais armas que serviram para que os guerreiros Drolfs fossem desafiar Trevas, infelizmente sem sucesso.
- Façam, então, o que quiserem – respondeu Wulft, com uma voz de desilusão e virando de costas para os andarilhos.
Neste momento, Senhor colocou sua mão esquerda sobre o ombro de Wulft e, mais uma vez, falou com sua voz suave:
- Ainda precisamos de você para mais uma ajuda.
- Que posso ajudar? – perguntou Wulft com certa incredulidade.
- Seu sangue - o sangue dos Drolfs era de um azul turquesa brilhante e considerado poderoso e venenoso para as demais raças que moravam naquelas Florestas. Este sangue era o que impedia a raça Drolfs de efetuar qualquer miscigenação com as demais raças, bem como o que fazia com que eles conseguissem viver por eras e eras, muito mais do que qualquer outro ser.
- Por que acredita que conseguirá vencer Trevas? Se com o nosso sangue fosse possível vencê-lo, acredito que nossos guerreiros sangraram muito ao enfrentá-lo e já estaríamos comemorando vitórias, dançando e cantando sob a luz do sol, e preparando nossas futuras gerações para eras mais felizes.
- Wulft, vou repetir de forma rápida e que você entenderá. Tenho o metal, o cuteleiro e vossa instalação. Com seu sangue misturado na forja da espada, ela levará a força e o poder da vossa raça que dará maior letalidade à lâmina.
- Acredita que isso será suficiente?
- Com tudo isso, só faltará o que possuo. Sou eu que levo a fé e a esperança de todos, pois está nas escrituras e nas histórias contadas por eras e eras em todos os cantos. Essa fé me carrega e me dá forças. Eu a tenho e só eu posso carrega-la, pois, todo esse peso estará imbuída na espada que forjaremos.
Com estas palavras, Wulft se virou novamente e os encarou já com um olhar mais esperançoso, acompanhando-os até a cutelaria.
Na cutelaria, a fornalha foi acesa e, com o calor do fogo, os poucos Drolfs que ainda restavam se juntaram para apreciar a fabricação. O metal que caiu do céu foi para a fornalha, e Ledilian deu diversas pancadas no metal para compactá-lo.
O metal foi retirado da fornalha e fez a primeira resfriada, voltando logo após, para mais uma vez amolecer e para Ledilian fazer as dobras e prensá-lo com as ferramentas necessárias.
No processo de laminação, antes de Ledilian efetuar as marteladas precisas na bigorna, o Senhor disse a Wulft:
- Agora preciso de seu sangue.
Sob o olhar atento de todos que acompanhavam o processo, Wulft fez um pequeno corte em um dos seus dedos e fez pingar algumas gotas de seu sangue azul turquesa sobre a lâmina, e após isso, com extremo cuidado, Ledilian afinou o corte da espada que se banhou com o sangue e tornou a lâmina da espada mais venenosa e perigosa.
Os demais passos para a forja da espada foram executados com toda a arte e todo o cuidado possível por Ledilian, que abriu um sorriso enorme e falou com a voz embargada de felicidade:
- Está pronta, Senhor, já pode verificar.
Senhor, então, segurou a espada pelo punho e a levantou para que todos pudessem vê-la. A espada era linda e parecia forte, pesada, extremamente afiada e perigosa.
Todos se curvaram lentamente em direção ao Senhor que ainda mantinha a espada levantada e seus olhos fitando cada área de sua lâmina. Era possível ver seus olhos sendo refletidos no metal da espada.
- Agora ficaremos aqui, torcendo pela sua vitória – disse Wulft.
- Meu caro Drolfs, não penso em vitória ou derrota, penso que Trevas devolverá a todos aquilo que tomou de todos: o sol, o calor, a luz. - com essas palavras, todos se ajoelharam e saíram da volta do Senhor.
Ele mais uma vez agradeceu a ajuda de Wulft, se virou para Ledilian e retornou à sua jornada. Antes de partir em definitivo, Wulft ainda pediu para que dois guerreiros, que haviam ficado na tribo para proteção, o acompanhassem e ajudassem na luta ou em qualquer outra ação que fosse necessária.
Assim, eles tomaram a trilha que os levaria ao istmo central, onde Trevas estava, agora com a espada que seria a salvação.
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Espada
FantasyTrevas dominou o mundo e somente a espada forjada pelo Senhor e com os materiais necessários será capaz de trazer a luz de volta.