Era manhã de domingo, 21 de dezembro - seis meses depois da minha tentativa de suicídio. Deixei o cigarro queimar no cinzeiro enquanto assistia a "Oktober", de Eisenstein. Estava incrivelmente entediada, sem ideia do que fazer. Sem ideia do que escrever.
Sem ideia de como continuar a escrever.
Me vejo no computador, anotando apenas pequenas frases. Eu acho, eu acho totalmente, que um bloqueio criativo deveria ser registrado, assim como toda a minha dor. Meu tratamento com a depressão estava adiantando, e eu parecia mais feliz.
A minha única necessidade era a de entender, exatamente, o que aconteceu. Voltei a praia.
Me entorpeci sob as águas do mar, águas essas onde um dia irei me afogar. No sentido metafórico e não literal. Ou nos dois sentidos. Sob a areia, meus pés se misturaram, se afundaram. Não era a todo sonho. As ondas eram obliquas e azuladas, misturando-se com o céu.
Quando estava sentada ali, numa ventania nostálgica, senti que o tempo nunca ia passar. Tive vontade de desaparecer por ali, mesmo. Minhas ondas deixaram de ser ondas há muito tempo para se tornarem minhas, só minhas.
Assim como minhas palavras, somente minhas.
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LITIO #Wattys2016
General FictionUma história sobre depressão, escrita e poesia, inspirada na lírica de Sylvia Plath e na música Lithium, do Nirvana