Prológo

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Novembro de 2005.

- O que você queria falar comigo?- Izac me olhou por cima dos óculos fundo de garrafa dele, que como sempre estão na ponta do nariz.

Eu sempre quis entender pra que servia os óculos se ele nunca usava certo.

- Sim – dei o meu melhor sorriso tentando olhar nos olhos dele.

Sempre tive o problema de não conseguir olhar por mais de 5 segundos nos olhos das pessoas e isso sempre me irritou.

- Gostaria de avisar... – respirei fundo mantendo os olhos no dele- Que ano que vem vou me mudar- falei devagar na expectativa de identificar alguma emoção nele - E na verdade, sempre escuto falar que para pedir demissão tem que pedir antes, só queria fazer certo. -terminei de falar rápido, na verdade mais rápido do que esperava e sorrio vitoriosa por ter falado tudo sem gaguejar.

- Vai pra onde?- ele levantou colocando a revista que lia na mesa- Espero que seja pra fazer algo realmente bom, não é como se eu fosse gostar de perder uma funcionária como você.

Sempre gostei do jeito que ele lidava com as coisas, sempre tão profissional. Isso com certeza deveria ajudar a não deixar minhas emoções falarem mais alto.

A verdade é que mesmo sabendo que eu nunca teria progresso naquele trabalho, e sabendo que se eu continuasse ali a única coisa que eu faria seria sorrir, agendar reservas por telefone e levar pessoas até a mesa, eu gostava de trabalhar ali. Não era o melhor emprego, nem o melhor salário, mas eu realmente gostava dali, gostava de sorrir e receber pessoas, e gostava de me vestir de modo elegante, o que era necessário naquele trabalho, gostava de Izac e de todos que trabalhavam lá também. Eu realmente iria sentir saudades de lá quando fosse embora e sei que seria difícil de me acostumar à nova rotina. Afinal depois de cinco anos trabalhando em um mesmo local, me sentia no direito de ter sentimentos por ele.

- Vou me mudar, eu decidi... Bom, na verdade minha tia me convenceu a tentar algum curso e ir pra New York, na verdade acho que é uma tentativa de se livrar de mim- ri com a ideia – Eee...acho que vai ser melhor também, não quero dizer sair do seu restaurante, isso não, eu gosto de trabalhar aqui, gosto muito- parei corando. Merda, por que eu sempre tenho que falar coisas que significam outra coisa? Eu realmente não ia gostar de sair de lá. – Eu quis dizer...

- Eu sei o que quis dizer Eloise- Izac me interrompeu e parou de pé em minha frente- Também concordo com sua tia, essa cidade é boa, boa pra quando você aposentar! Não tem o que fazer aqui, eu tive sorte abrindo o restaurante afinal pessoas precisam comer fora às vezes, mas, se eu tivesse saído daqui quando tinha sua idade tenho certeza que estaria bem melhor agora... - ele declarou em tom pensativo e suspirou- Enfim, veja certinho o dia que vai sair e me avise para eu organizar o seu fundo de garantia a tempo de sua saída- o encarei por um tempo surpresa e decidi não discutir sobre o fundo de garantia. Afirmei com a cabeça dando meu melhor sorriso profissional possível.

- Sim, sim – concordei feliz- Eu nem contava com isso pra ser sincera, mas obrigada, de verdade, você não sabe como foi bom trabalhar aqui...

-Para!- a voz alta dele me interrompeu e o olhei confusa- Nada de despedidas Elo- ele me surpreendeu com um abraço forte- Ainda não é ano que vem e no fundo eu sei e espero que quando se aposentar no futuro, você volte e venha comer aqui. - ele me liberou de seus braços sorrindo- Boa sorte no mundo real.

- Obrigada – sorri sem jeito saindo de lá.

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 Mudança faz parte, reviravoltas a parte.Onde histórias criam vida. Descubra agora