Como antes e antes de antes, o bosque se estendia a sua frente. Era iluminado pela lua cheia no alto do céu azul profundo, que jogava sua luz pálida em fachos pelas árvores. Novamente se encontrou naquele cenário peculiar, cercada pelos sons noturnos e pela brisa suave que embalava as folhas mais leves e finas.
Encontrou-se olhando, outra vez, para aquele par de olhos azuis – nem claros, nem escuros demais – que a fitavam com a mesma intensidade de momentos passados. A sensação já lhe era familiar, seu coração batia pela expectativa do que aconteceria em seguida e não mais pela surpresa.
— Nos encontramos outra vez! — Sua voz soou num tom quase divertido, sem medo ou receio da criatura a sua frente.
A resposta que recebeu foi um rosnado de pequeno porte, que mostrava os dentes brancos e afiados. No entanto, não era uma ameaça e, sim, a maneira de concordar com as palavras dela.
Então, antes que mais palavras fossem trocadas por rosnados, o lobo de pelagem negra e pontilhada por pequenos brilhos, que lembravam o céu noturno cheio de estrelas, saiu correndo na direção oposta a dela ao fugir para dentro do bosque e desaparecendo na escuridão.
E, como todas as outras vezes, ela o seguiu. Sabia, na sua parte mais profunda, para onde estava indo, mas a névoa etérea do sonho não a deixava descobrir realmente até chegar lá.
Correu por entre as árvores, tendo pequenos vislumbres da pelagem aqui e ali, mostrando seus pequenos brilhos por entre arbustos ou por trás de troncos. Ouvia seu chamado na noite, um uivo que ecoava até chegar ao seu coração e o fazer pulsar mais rápido numa sensação de quase rasgar seu peito.
Logo mais a frente enxergou o limiar do bosque, fazendo com que todas as fibras do seu corpo pulsassem na expectativa do que viria. Podia sentir um arrepio percorrer seus braços e espinha e uma estranha felicidade brotar repentinamente, como se não houvesse mais espaço para se conter.
E quando cruzou o limiar de árvores, deparando-se com o precipício, todos aqueles sentimentos foram substituídos por nada mais do que covardia e medo. Mesmo quando via seu lobo continuar correndo e saltar sem receio, se mesclando a paisagem escura, ela não conseguia seguir em frente, não conseguia nem sequer um pequeno passo a frente.
Nada!
Apenas se deixava envolver pelo sentimento de falta que lhe abatia naquele momento e caía novamente na escuridão profunda.
Abriu os olhos de repente e deparou-se apenas com o ambiente já conhecido do seu quarto. Encarou o teto com seus olhos já acostumados a escuridão e ficou pensando sobre aquele sonho, que vinha se repetindo por uma semana seguida. Se perguntava porquê sempre hesitava no último momento, sendo que era apenas um sonho.
E mesmo sendo apenas um sonho, ela estava totalmente ciente de tudo o que acontecia, como se estivesse acordada e sempre se lembrava de todos os detalhes, por menores que fossem.
Continuou olhando o nada em particular, apenas pensando no seu lobo e o que aquele sonho poderia significar. Nunca lhe acontecera de reviver sonhos antes, desde que poderia contar, cada noite era algo diferente ou apenas o nada.
— O que será? — Indagou a si mesma, então se virou na cama e fechou os olhos.
Não demorou para que voltasse a dormir, dessa vez sendo puxada para a escuridão do sono. Sem imagens borradas ou vívidas, em cores ou monográficas, apenas uma tela em preto.
Fazia uma semana que a tinha visto no metro. O olhar que trocaram não durou mais que apenas alguns segundos, porém foi o suficiente para que soubesse que era ela. Não conseguia tirar seu rosto do pensamento, recordando dos olhos curiosos e lábios levemente curvados enquanto lia.
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O Lobo
WerewolfComo é cair no amor? Emma não sabia disso até se encontrar com Patrick e juntos se desvendaram em seu próprio universo.