Just Like Sex

01. Harley Davidson

ATENÇÃO: A referência para este conto pode ser encontrada entre o capítulo 09 e 10 de Just Like Animals.

Referência: o conto se encaixa em alguma parte da história.

A noite estava escura e um tanto quanto friorenta.

A estrada diante de seus olhos estendia-se em sua infinidade, impossibilitando os olhos do rapaz de enxergar seu final com perfeição. Não havia um vestígio sequer de luz no lugar, portanto, a única solução era ser conduzido somente pelo farol da Harley que deslizava apressadamente pelo asfalto, escorregando para muito longe de Los Angeles, a cidade que guardava tantas mágoas sobre sua vida pessoal.

Ethan não sabia bem onde estava e para onde aquele caminho desconhecido o levaria. Só sabia que distanciar-se era a melhor alternativa para que conseguisse algum tipo de sanidade, sem que cometesse alguma besteira contra qualquer situação que ousasse aparecer em sua frente àquele momento.

Como se tivesse recebido uma grande pancada na cabeça, sem que conseguisse se lembrar com nitidez dos acontecimentos, sentindo apenas flashes doloridos, ele tinha, no fundo da consciência, o conhecimento de que algo não muito bom o havia dispersado de casa, para longe de sua mãe sofrida, para longe de seu pai sádico e agressivo, para longe de seus problemas e seus demais derivados complexos. Era como num relampejo de um sonho atribulado... Ele estava onde estava e só sabia que era o local certo, sem que se lembrasse da origem de como, quando e por quê andava por ali.

A moto corria acelerada pela estrada e Ethan não tinha a menor intenção de reduzir a velocidade, fazendo-o somente quando identificava alguma curva que se aproximava; ao contrário, ultrapassava os 120 km/h e aproveitava o vento forte que batia em seu rosto, imaginando a brisa fria da noite como um pano de limpeza que extinguia toda e qualquer sujeira de sua mente. As árvores cobriam os arredores da estrada e faziam um belo trabalho em tampar a visão da cidade, que ficava muito além do horizonte que Ethan conseguia alcançar com os olhos. Algumas falhas entre os galhos de muitas folhas mostravam o lampejo de iluminação de Los Angeles para o garoto, mas ele ignorava completamente como se a cidade não existisse, como se nada existisse além dele e suas lembranças mais intensas que envolviam grandes olhos azuis e lábios em formato de coração.

Ele sabia que era corriqueiro de seu cotidiano pensar e desejar por Breeze Vaughn o tempo que fosse, mas algo em sua mente gritava que tinha algo fora de seu devido lugar, como se ele não estivesse ali por um acaso do destino. Isso só fazia com que ele ficasse mais confuso sobre o caminho que tomava e onde ele o levaria.

A moto continuava a correr em alta velocidade enfrentando, agora, uma curva tempestuosa e difícil.

— Tenebrosa. — Ethan rugiu, olhando para trás rapidamente, encarando a curva com ódio. Odiava obstáculos desnecessários em estradas, principalmente quando a dita cuja não fazia parte de seu conhecimento.

Resolveu que a melhor solução a ser tomada era reduzir um pouco a velocidade antes que sua cabeça fosse prato principal de alguma coisa no meio daquele grande nada de estrada cheio de árvores. Sabe-se lá o que estaria à espreita naquele matagal inconsequente.

Andando, agora, com mais cuidado, olhava aos arredores para tentar, ao menos, reconhecer o local onde estava. Desistiu de reparar em qualquer identificativa quando, sem que ele pudesse esperar, mais à frente, um corpo tomou proporção diante do farol de sua Harley. Sua primeira reação fora frear com o máximo de pressa que ele conseguia, deixando que as rodas da moto cantassem um pouco sob seus ouvidos. Franziu o cenho fortemente e abriu os olhos o máximo que conseguia para que conseguisse reconhecer o que exatamente estava em sua frente. A fresta do capacete nunca se tornara tão estreita, e a velocidade da adrenalina em seu coração nunca havia sido tão maçante.