Quando Vem De Deus É Diferente [ Amor, Fé & Superação ]

Capítulo 39

Respiração profunda, olhos fechados e mil pensamentos, todos sobre ele. Será que tomei mesmo a melhor decisão? eis a questão. Coloquei as mãos sobre o peito e falei com Deus buscando uma direção e conforto.

"Meu amado, eu tenho sofrido tanto, queria entender o propósito de tudo que estou vivendo, sei que nem sempre teremos todas as respostas, e que precisamos sempre confiar em ti, mas de qualquer forma eu tenho medo, me perdoe, eu tenho medo de que a tua vontade seja que eu não esteja mais aqui muito em breve. Tudo tem sido difícil Deus, eu só quero viver, ter uma vida normal outra vez, mas parece algo fora do meu alcance, parece tão impossível, sinto minha fé tão pequena para conseguir algo tão grandioso. O que será que escrevestes no diário da minha vida? coloque a tua vontade em meu coração, e me faça confiar sem temer, sem sofrer, manda embora tudo o que tem me feito mal e me faz feliz de novo, mostra-me o teu poder, eu não quero duvidar da tua grandeza. Abra meus olhos para ver o que eu não estou vendo, mas preciso ver. Pensando que daqui a alguns meses eu não esteja mais aqui, decidi me afastar de Nicolas, mas não sei se fiz a coisa certa, me dói na alma tê-lo longe, nem sei se consigo enfrentar isso sem o seu apoio, tudo que eu mais queria era que as coisas ficassem bem e eu pudesse correr para os braços dele dizendo que, agora sim podemos ir longe e vivermos tudo que sonhamos meu amor, mas eu estou aqui presa nesse lugar morrendo cada dia um pouco mais. Não sei o que fazer Senhor, me ajude, eu não aguento mais, me sentido alguém andando às cegas, me guie meu pastor. Sei que tenho andado distante, por breves momentos me senti desamparada e até deixei de orar algumas vezes, mas ainda estou aqui, ainda sou a mesma, tira todo esse peso que eu sinto, muda toda essa situação, tu és a minha esperança."

[...]

O dia amanhecia e eu acordava com mal estar outra vez, boca seca, um pouco de dor pelo corpo e cansada como se não tivesse dormido absolutamente nada durante a noite. Ao lado direito do quarto meu pais dormiam tranquilamente, minha mãe no sofá e meu pai na poltrona, não quis acordá-los e permaneci quieta.

Aquele seria mais um dia infeliz, mais um dia em que eu sentiria dores terríveis, mais um dia que eu sofreria com a falta de Nicolas, mais um dia que eu teria que enfrentar o meu medo, minhas dores e a minha trágica realidade.
Nem mesmo as músicas que tanto me acalmavam faziam o mesmo efeito de antes, me encontrava sem rumo, sem saída, sem jeito, sem vida.

E eu que pensei que a vida seria longa, que muitos seriam a soma dos meus dias, hoje vejo quão rápido foi chegar até aqui, parece que foi ontem que estava andando pela praia, ou caminhando na praça de mãos dadas com Nicolas, mas tudo passou como um sopro, e de repente todo aquele sonho se tornou um pesadelo. No fundo senti algo tentar me acalmar, mas em meio a confusão de sentimentos a minha única certeza era que o câncer estava me matando. É no mínimo desesperador imaginar sua própria partida, é horrível saber que talvez em instantes ou em apenas alguns dias você pode deixar de existir e virar apenas uma memória.

Encarei seriamente a pequena parte do céu que conseguia ver pelas janelas do quarto, sem dizer uma sequer palavra ou mover algum músculo, o silêncio dominava todo aquele espaço, menos minha alma, que dava tantos gritos por dentro como se pedisse por socorro, era tanta calma por fora e uma mente barulhenta por dentro.

Levantei cuidadosamente para ir ao banheiro, acreditei que conseguiria sozinha e consegui mesmo com dificuldade, lavei o rosto e ao levantar o rosto percebi o primeiro vestígio de pelado na cabeça, era hora de comprar lenços, segurei o choro e me encostei de costas ao espelho, não queria me olhar mais, eu estava feia, sem cor, de olhos fundos, não tinha brilho em mim mais, parecia outra Isabella ali naquele espelho, isso só me magoava mais. Tentei voltar ao quarto, mas estava sem equilíbrio, as coisas giravam ao meu redor, me esforcei para chegar na cama mas fui ao chão antes que conseguisse alcançá-la.