A Primeira Vez Que Fumei Maconha

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Presente de aniversário, enrolado numa fitinha vermelha, dentro de um envelope. Ganhei de um dos meus amigos cabeludos, aquele tipo que mora no Baixo Gávea. Na hora, com toda aquela minha paranóia de careta, pensei: "Esse cara deve achar que eu tenho cara de doidona."
Foi dentro de casa, sozinha, tudo escuro, olhando o mar. Muita tosse, garganta quente, cheiro bom, tomei água! Segura a respiração, boca seca, o mar tá bonito... Tô me sentindo esquisita, formingando, vou tomar água de novo. Descobri que as ilhas Cagarras parecem dois seios disformes. Pensei em sexo, violeta, chocolate exótico. Pensei em erotismo. Nunca pensei que o mar pudesse fazer com que eu me sentisse tão gostosa. Ihhhhhh! Vou tomar banho. Nunca imaginei que o banheiro fosse tão longe. Caramelo, sorvete de chocolate com calda. O telefone toca... Saio Correndo. Fudeu: é a minha mãe! Não vou conseguir falar, não me sinto capaz de conversar, ainda mais com minha mãe! Enrolei uma toalha na cabeça e outra no corpo. Atendi o telefone. Alô? Era a Ana.
- Tô indo para o ensaio, quer uma carona?

- Quero Sim, claro. Obrigada por ter me ligado. Pegar um ônibus agora ia ser o fim. Mas você é minha amiga, não ia me deixar na mão. Obrigada. (Ihhhh, tô falando demais!)

- Tô passando daqui a dez minutos, fica no calçadão da praia.

Ai meu Deus! Correr agora vai ser impossível!. Pessoas como eu não podem fumar maconha, eu ja sou lerda, se continuar vou virar uma ameba.
A casa escura, nem olhei no espelho e desci cheia de coisas na mão. Marshmallow, banana caramelada, ai que vontade! Atravessei a primeira rua. As pessoas pareciam sorrir para mim, a cada minuto. Só assim doidona é que fui descobrir como o ser humano é belo, e até o mais triste deles pode abrir um sorriso no meio da rua para você. Atravessando a segunda rua, descobri que a simpatia do ser humano se tornara uma coisa obsessiva. Toda e qualquer pessoa que passava me olhava e parecia rir um pouco mais que sua simpatia natural. De repente tudo virou uma paranóia só. Carros buzinavam e um homem soltou uma gargalhada enorme. Tudo era tão lento e tão rápido. Parada no calçadão da praia, de mochila e botinha, meu corpo começou a gelar. Fui pegando no meu corpo lentamente, com medo de chegar à cabeça. Lá estava ela, verde-água, cafona, enrolada no meu cabelo.
Nesta hora tive a completa noção da realidade. Uma menina ridícula, doida, Sozinha, de toalha verde-água enrolada nah cabeça. Respirei fundo, e resolvi agir como se nada tivesse acontecido. Muito lentamente e na maior pose, eu fui voltando pra casa pensando assim: "Quem sabe eles não acham que é do modelo? Tem tanta gente cafona no mundo!" E desta vez os seres humanos pareciam sacanas e irônicos. Cheguei em casa (uffa!) e de de cara com o meu porteiro:
- Seu Aroldo, como é que o senhor não me avisa que eu desci com uma toalha enrolada na cabeça?.

- Ué, dona Ingrid, como é que eu vou imaginar que não é da sua roupa, né?

Ele era cafona. Cheguei em casa, muito séria, muito deprimida. Tirei a toalha, pedindo a Deus que isso tudo fosse só uma dessas "ondas" do baseado. Essa realidade provocou gargalhadas gerais em muitas rodas de amigos e um bilhete da mamãe que não imaginava haver um baseado no meio disso tudo.
"Filha, você me preocupa. Alguém que no seu perfeito estado sai de casa com uma toalha na cabeça não tem condições de atravessar a rua. Nem andar sozinha. Você me preocupa. Realmente. Precisamos conversar. Sua Mãe."
Aquele dia era o dia ideal para me apaixonar pela primeira vez. Mas eu não sabia disso e fui para uma festa; na verdade, nem queria muito ir. Sei exatamente como estava vestida: uma calça muiti justa, amarelo fosforescente, com a bunda toda aparecendo. Uma blusa com o escrito Rata De Praia, rosa fosforescente, e também um lencinho verde amarrado no pé.
Era uma festa exatamente como qualquer outra: cinco ex-paixões, sete novas possibilidades de paixão, três grandes amigos apaixonados, des meio-paixão, meio amigo, meio-ex, meio possibilidade nova. Ou seja, 25 homens interessados! Eu dançando no meio desse harém com cara de quem não quer nada com ninguém. Dançando, olho para a imagem de um menino sentado no sofá, de chinelo, bermuda e cara muda. A carinha muda me olhava, olhava bastante, tremendo mole. Ele era bonito demais. Mário era o nome dele. Já conhecia de ouvir falar. Ele era o monstro de uma amiga minha. Mas o monstro da minha amiga me olhava, e o monstro era lindo. Fui sair do salão. Baixei os olhos, depois a cabeça, prendi o cabelo molhado no alto só para estar fazendo alguma coisa com as mãos enquanto passava por aquele lugar tenso. Passei, e ele disse sem inibição: "Essa menina é muiti gata!" só não sai correndo porque seria muito ridículo.
Dez minutos depois uma amiga veio falar comigo:
- Carol... Sabe o Mário?
- Sei, um loirinho bonitinho.
- Quer ficar com você lá na piscina.
Até hoje me lembro da bochecha dele acariciando a minha. A paixão por ele tinha uma grandeza que nunca mais senti. Fui para a piscina, ele veio andando, fiquei olhando ele vir. Sentou ao meu lado e disse:
- Quer ficar comigo?
- Sim.
E ele me beijou. O beijo achei muito estranho. Era bom, mas aquela língua atrapalhava um pouco.

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