Capitulo 1 - Sozinha

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Tudo estava regredindo, o que há alguns meses era bom, hoje se tornara meu pesadelo diário.

- De novo aquele sonho. - Digo levantando da cama e olhando-me no espelho do guarda-roupa.

- Sabe, eu não sei se fico com medo ou não, ter uma sereia invadindo seus sonhos seria legal, mas uma sereia com asas de anjos é totalmente estranha e assustador. - falava comigo mesma olhando-me no espelho vendo meu reflexo nele e sabendo que estava ficando doente, e aquela doença medico nenhum entenderia.

- Então, vamos enfrentar mais um dia de aula, Megan? - pergunto-me olhando nos olhos daquele espelho.

"Você é louca" - responde meu subconsciente.

"A culpa é delas, estou louca por estar tão sozinha" - pensava em resposta.

Fiz minha higiene e dei-me meu delicioso banho e retornei ao meu quarto, vesti meu uniforme e comecei a pensar em com quem passaria este recreio... Deixei de lado, não queria chorar logo cedo. Estava pronta, penteei meu cabelo e fui verificar meu celular, minha vida virtual estava cada dia mais forte.

"Como tudo mudou tão rápido, não é mesmo?" - falo mentalmente baixando um aplicativo no celular.

"Não era você quem queria novas amizades, Megan?" - pergunta meu consciente irônico.

"Sim, mas não queria que elas passassem a me odiar".

"Elas não te odeiam" - diz ela em resposta.

"É claro que elas me odeiam!" - Grito em pensamento. E ela fica quieta.

"Obrigada" - respondo em tom de ironia.
Saio do quarto, pronta para enfrentar mais um dia, minha mochila, um livro bom, meus fones, meu celular e meus pensamentos eram as minhas armas de guerras contra a solidão.

Esquentei meu café no micro-ondas que fora preparada na noite anterior. A musica alta que emanava em meus ouvidos impedia-me de pensar em algo concreto.

Meu gosto musical era tão desigual quanto eu mesma. Lembro-me de discutir inúmeras vezes com elas por conta disso. Ouvia rap, ouvir Filosofia do Boteco era algo que me fazia pensar bastante, o tom suave do começo e o vicio com as bebidas alcoólicas que eles diziam era algo real, ter o vicio de beber não era por qualquer coisa, na musica eles deixam claro que bebem por algum motivo, entenderia como se fosse por eles serem Cafajestes, mas eu apenas pensava na musica, isso era o bom, o rap me impedia de pensar em outras coisas era o suficiente para me manter em concentração apenas nela.

Bebi meu café e sai de casa.

A todo o momento na única coisa que conseguia pensar era na musica que preenchia meus pensamentos, era o meu refugio, pois onde estava, aquele ônibus repleto de crianças e adolescentes que se dirigiam aos seus respectivos colégios, era o perigo para a minha perdição, seria o local perfeito para humilhar-me.

"Elas estão aí" - manifestasse novamente meu consciente.

"O que quer que eu faça? Você sabe que eu já tentei recomeçar, mas elas não me aceitaram novamente" - respondo meu consciente abaixando a cabeça.

Por estar tão sozinha falava comigo mesma, criava diálogos na minha mente que pareciam tão reais.

Era questão de segundos para desprender-me das musicas e passar a pensar nelas novamente.

Faltava pouco para chegar ao colégio, consegui então um lugar para sentar-me enquanto ouvia 4e21 prestava atenção na letra rápida que se passava e olhava através do vidro as arvores que se iam, era incrível como na natureza tudo era perfeito, sem erro algum, e que por culpa de nos humanos, estava se acabando aos poucos.

"Você precisa se libertar daquilo que você tinha com elas" - volta meu consciente a dizer.

"Pensas que eu não sei disso? Minha energia interna esta se acumulando mais e mais dia a dia, esta se tornando insuportável viver dentro de mim, a solidão esta me dominando, eu preciso de alguém em quem eu possa descarregar" - digo ao meu consciente soltando um longo suspiro ao perceber que já havíamos chegados ao colégio.

Espero todos saírem e saio, elas estavam na minha frente enquanto subia para dentro da escola.

"Que bom que esta sabendo se controlar" - diz meu consciente.

"Não é fácil sabe? Minha vontade era de sair empurrando-as e pisando em cima delas, mas não tenho coragem, elas já foram um dia minhas amigas, a quem eu tinha a liberdade de poder dizer verdadeiramente 'eu te amo', mas agora eu estou sozinha acumulando tudo dentro de mim" - penso já sentindo meus olhos arderem.

"Você não esta sozinha Megan, você tem a Julia e a Laura, lembra que elas te acolheram bem? E também tem o Miguel e o Diego, lembrando que o Diego também pertence a isso".

"Mas não é a mesma coisa, eu não consigo encostar em nenhum deles que dói, você sabe" - digo ao meu consciente.

"Isso é tão lamentável... nem com o Diego sua aura se sente bem?" pergunta ela insistindo.

"Não, levamos um bom tempo para tocar-nos, é estranho" - digo pensativa novamente.

Já me encontrava atrás do colégio pensando, decidi ler ate o sinal bater. Nem tive tempo de tirar o livro da mochila e ela bate.

"Você tem uma sorte que nossa" - reaparece ela na minha cabeça. Não respondo.

Essa era a parte mais dolorida de todas, tirar os fones e dar livre acesso aos meus pensamentos.

O pior de tudo era olhar pra elas e lembrar tudo, dia a dia, das risadas, das palhaçadas que fazíamos das brincadeiras que elas tinham, dos inúmeros concelhos que elas me pediam, ate chegar ao momento que estamos hoje, afastadas.

Levanto do chão e vou ate a minha fila

- Oii - digo a Diego e Miguel.

- Oiiii - Responde Diego.

- Olá amiguinha - responde-me Miguel.

Eles eram melhores amigos, e quando a Julia e a Laura contaram pra ele que o Diego era do mundo ao qual eu pertencia, ele havia ficado em choque, mas aceitou numa boa.

Todos os amigos dos outros aceitavam isso numa boa. Exceto elas.

Vejo Julia e Laura vindos, brincando e conversando, era como eu era com elas.

- Dói pensar que eu tinha uma amizade assim. - digo pra Diego olhando pra Laura e para Julia
- Tinha? - Ele pergunta supresso.
- É, eu tinha. - respondo abaixando a cabeça.
- Não. Não tinha. - Responde-me ele com a voz mais forte
- Claro que sim. - digo sem entender nada ao que ele se referia.
- Entenda Megan, amigos de verdade não vão embora, aconteça o que acontecer. Eles sempre ficam. - responde ele.

Era tudo o que eu precisava ouvir. Minha mante fora abalada.

Sai discretamente e dirigi-me ao banheiro, fui ate a ultima porta e tranquei-me lá. Chorei. Chorei com a verdade que havia ouvido. Chorei por ser fraca. Chorei por ser assim. Chorei por elas terem me deixado, mas após chorar por tantos motivos, recompus-me e sai daquele banheiro.

Recomeçaria dali, minha decisão estava tomada, estava sozinha, precisava me reerguer sozinha.

Limpei meus olhos, e sequei as lagrimas que haviam caído.

"Estava na hora da Megan fria entrar em ação"

A Menina Dos Olhos VerdesOnde histórias criam vida. Descubra agora