A DAMA DO COLISEU

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   CAPÍTULO I

 “Galiae est divisa in partes tres”  

                    Gaius Iulius Caesar

As florestas misteriosas da Gália estavam agitadas. Muitas haviam sido queimadas pelos guerreiros gauleses liderados por Vercingetórix. Na tentativa de aniquilar o exército de Júlio César, as aldeias resistentes sacrificavam suas próprias casas. O sustento da gente que se rendera ao domínio romano agora jazia no solo seco e sem vida. Com isso, deixavam para trás um recado: “se não houvesse liberdade gaulesa, não haveria sobrevida para os forasteiros de Roma”. 

     Cingetórix enviava mensageiros por toda a Gália Narbonense, invocando reforços, alardeando ideais há tempos adormecidos. Ele havia servido no exército romano a convite de César, logo após a morte de seu pai, Celtil, um poderoso líder averno. Logo percebeu que o cônsul de Roma deixaria a cargo dos avernos a eleição de um novo líder, consequentemente, a sucessão do poder naquela região. O general romano considerava essa postura estratégica. Garantida a colaboração com Roma, deixava os nativos exercerem suas funções de líderes. Tudo dentro das leis que ele próprio, cônsul das Gallias, aprovava. Cingetórix deixou o exército romano levando consigo táticas e manobras avançadas de guerra. Esse era um dos riscos que César empreendia ao integrar gauleses entre seus homens. O gaulês voltou para os Avernos, mas logo foi expulso, pois seu tio, enxergando no sobrinho as mesmas aspirações monárquicas do irmão, tratou de bani-lo. Mas àquela altura, Vercingetórix já havia dividido seu povo e decidiu subjugar seus oponentes começando pela espinha dorsal: Gaius Iulius Caesar.

    Naquele fevereiro de 52 a.C., aquartelado na Gália Cisalpina, norte da Itália, César se surpreendeu com a proporção da insurreição liderada pelo gaulês averno. Parecia que alguém havia subestimado os rumores da revolta e agora, a pleno vapor, ela chegara até César. E o general precisaria empreender esforços rapidamente numa direção. A inércia levaria o inimigo às fronteiras das províncias promissoras, há muito pacificadas. A Gália Narbonense, que há mais de um século rendia tesouros aos cofres de Roma, estava ameaçada. Ele sabia que uma retirada forçada sem o tempo hábil para as estratégias militares deixaria muitos de seus homens amotinados. Era possível também que fosse a Bourges, onde, avançando em marcha forçada, chegaria dentro de pouco tempo.

    César rendeu uma pequena homenagem à Optimus Júpiter, o adorado deus romano. Sacrificou um de seus corpulentos cavalos e recebeu de Marte, o deus da guerra, um sinal: o sangue do animal abatido escorrera na direção da Gália Narbonense. César recebera informações de que Cingetórix havia dizimado milhares de cidadãos romanos em Cenabo,  queimado casas, matado crianças e tornando escravos de seu exército os poucos sobreviventes. Os Carnutos apoiavam o averno. Era esse o perfil do guerreiro gaulês, tudo ou nada. Deixara claro que não haveria mais acordos ou rendições por parte de seu exército. Para tanto, usou de crueldade decapitando e mutilando desertores. Aqueles que se mantinham cativos e fiéis a Roma seriam seus inimigos e por isso, mereceriam a morte. O significado de seu nome, por si só, trazia um legado indelével: “chefe dos grandes guerreiros”. Talvez por isso e por se sentir no direito sucessório da monarquia averna, nada o faria recuar. Somente a derrota.

      Foi um momento decisivo para os gauleses; por um longo tempo não veriam liderança como aquela, estavam cansados das guerras e das mudanças de poder que os fizera perder filhos, esposas e terras não só para os romanos como para as facções espalhadas pelas Gálias. A maioria preferia render-se ao mais forte, o Exército Romano. Além disso, César costumava cumprir suas promessas. Proteção territorial, leis, acordos com a República. Em contrapartida, os povos dominados pagavam impostos, fornecendo víveres quando preciso, e lhe ofertavam escravos. O cônsul de Roma manteve sua política nesses moldes durante seis anos. Recebia de bom grado os desertores de povos insurgentes, oferecendo-lhes confiança e mostrando os benefícios dessa escolha. Ele precisava erradicar o domínio de Roma e seu poder sobre o povo celta. A Gália, ou Gálias – em razão de suas divisões religiosas e políticas – ainda precisariam se render, na totalidade, à República de Roma. Vez por outra, indícios de resistência vindos de líderes isolados o faziam revolver seus homens até lá. Quando a situação se mostrava sob controle, ele deixava a cargo de alguns tenentes a mantença da ordem. Era seu plano, e assim que se sentisse confortável para partir, seguiria até o nordeste da Gália, em direção à Germânia, e empreenderia sobre aquele povo a força de seu exército. Queria ampliar o domínio de Roma e, consequentemente, seu próprio poder.

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⏰ Última atualização: Nov 08, 2013 ⏰

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