Rastro

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Primeiro dia de trabalho, o dia que eu espero a quatro anos com ansiedade. Eu acordei uma hora antes do meu celular despertar. Logo após eu ter me arrumado, eu desci para o café. O café relaxou meus músculos que estavam rígidos pelo nervosismo, o cheiro me acalma. Minha mãe desce as escadas procurando alguma coisa em sua bolsa preta.

Ela é uma mulher linda e adorável, sua pele negra é encantadora, seu cabelo volumoso é extremamente chamativo. Seu rosto fino estava virado para sua bolsa.

-Katherine- ela me chamou pelo nome e não pelo apelido, isso não é bom- onde está a minha carteira?

Ela finalmente olhou para o meu rosto.

- Você não vai trabalhar parecida com um boiadeiro- disse ela desaprovado minha roupa.

Eu não me importo muito com a minhas vestes, não faço questão de está bonita para alguém, nunca me importei com o que achariam de mim.
Uma camiseta branca, por cima uma blusa xadrez desbotada, assim como o meu jeans azul, e por fim minha bota de couro marrom.

- Gostaria de saber o por que a sua mãe comprou isso para você- ela disse colocando um pouco de café em seu copo térmico- odeio quando Malia faz isso.

Malia é a minha outra mãe, Malia e Sonia me adotaram aos meus 4 anos, nunca soube como elas me acharam, já que eu nunca estive em um orfanato. Malia sempre me deu tudo que eu gostava de ver nas vitrines nas lojas, até mesmo essas botas de couro.
Sonia é professora, enquanto a outra é enfermeira. Sempre senti orgulho das duas.

- Vá agora mesmo trocar essa roupa- mandou Sonia, ainda procurando sua carteira.

-Mas eu gosto dessa roupa- fiz um protesto com a voz fina de uma criança mimada.

Ela olhou no fundo dos meus olhos, e depois de alguns segundos de olhar fixo, ela cedeu.

- Só troque de calçado, só isso- seu tom era de cansaço.

Sorri e subi as escadas de volta para o meu quarto, troquei a bota por meu tênis vermelho, e da janela vejo Sonia entrar em seu carro e ir para o trabalho, normalmente ela se despede, mas é dia de prova e ela está extremamente estressada.
Após me olhar no espelho, e ver meu nervosismo a flor da pele, respiro fundo e pego meu capacete preto e desço para a garagem.

La se encontra o meu passa tempo favorito, minha lambreta verde. Eu a achei jogada nos limites do bosque, quando soube que não tinha proprietário, eu perguntei a minha mãe se eu poderia reformar e ficar com ela, Sonia como sempre foi contra, mas Malia apoiou totalmente. Hoje ela já está completa, linda e polida . Sentei e liguei, dei partida, e o barulho da uma certa emoção como se eu fosse competir em uma corrida de lambreta.

A cidade é calma, nunca houve muita movimentação nas ruas, a única vez que eu vi um número em massa de pessoas na rua, foi quando houve um grande apagão.

A cafeteria é escura, sua placa em forma de uma grande xícara que um dia foi branca, hoje já é verde, coberta pelo limo, as janelas sempre com as bordas imundas, mas ninguém ligava, dava um toque de exótico. Mas o serviço é maravilhoso, e os pães melhor que eu já experimentei.

Deixei a lambreta em uma vaga entre dois carros, guardei o meu capacete de baixo do banco, e entrei no Caffé. Paredes vermelhas, com iluminarias amarelas, mesas escuras de madeira, acompanhadas de cadeiras acolchoadas, e no fundo, o balcão. O lugar está cheio, para o horário. Além do balcão, o sr.Brilhante, o chamo assim desde pequena, sua careca brilha a luz amarela do ambiente. Ele é amigo das minhas mães desde que sempre, ele me enchia de doces que o balcão poderia oferecer. Quando ele me viu passando pela porta, fazendo o pequeno sino soar, ele abriu um enorme sorriso.
-Katherine- ele veio e me abraçou- chegou bem na hora.

Ele me pegou pelo braço, e me levou para atrás do balcão, lá ele me disse como eu devo servir, abordar clientes e que eu poderia ficar com as gorjetas que deixarem no balcão. Ele me entregou uma bandeja de plástico preto. Seu rosto redondo está suado, ele provavelmente trabalhava em dobro antes da minha chegada.

Comecei com medo de derrubar os copos e xícaras, mas logo peguei o jeito. Segui as recomendações do sr.Brilhante, e tudo realmente foi mais agradável e fácil.

- Já pode ir para o seu intervalo, Katherine- S.B disse fazendo um sinal com a mão para que eu deixasse a bandeja no balcão- trabalhou muito bem.

Em seu rosto eu posso ver uma possível preocupação, ou posso está enganada, mas praticamente me expulsou do café dizendo que trabalhar muito não faz bem, e que meu intervalo deveria ser longo e o tempo que eu precisar. Saí sem intender o motivo daquilo, mas eu estou extremamente orgulhosa pelo dinheiro que já ganhei de gorjetas.

Eu não tinha amigos com quem eu poderia contar as novidades, o que eu tinha morreram no ano passado, eu acho, eles estão desaparecidos, seus corpos não foram encontrados, então a novidade do meu emprego e a empolgação fica só para mim.
Depois de comer um pacote de doces e beber um refrigerante, o tédio começou a me incomodar. Eu sou a única garota sentada em um banco de madeira no parque. O vento está frio e forte, depois que ele se colidiu contra o meu rosto, uma dor de cabeça levemente incomoda surgiu e logo depois desapareceu... Isso não pode está acontecendo de novo.

Voltei a passos apressados para o Caffé, torcendo que nada aconteça novamente. A primeira vez que isso aconteceu...essa dor, foi quando uma menina e suas amigas estavam puxando meu cabelo na tentativa de arrancar os pequenos laços que o enfeitavam, essa dor veio tão repentinamente que eu achei que o motivo era a agressão que eu estava sofrendo, mas depois da dor, as meninas foram jogadas contra o balanço e o escorregador, uma ficou desmaiada e as outras duas somente sangrando. A segunda vez foi em uma tentativa de assalto, o assaltante puxou a bolsa da Sonia fazendo ela gritar, eu tentei ir atrás, mas ela me segurou, só o vi se afastando mas antes de sumir de vista, ele largou a bolsa e deitou no chão agoniado pelo o fogo que o engolia, a polícia não soube explicar como isso aconteceu, mas eu sei que é culpa minha.

O Caffé está vazio, foi o que deu para ver do lado de fora, quando eu entrei, algumas luzes na parede estão apagadas, há um silêncio absoluto do lugar.

-Sr. ...- Parei antes de dizer, não sou mais criança- David ? Você está aí ?

Ninguém me respondeu. Fui para trás do balcão, há uma pequena mancha vermelha perto da porta que dá para a cozinha, quando eu a abri, vi que a mancha continua como um rastro. Ia para muito mais além do fogão, quase chegando a saída de emergência, o cheiro é nauseante.

David, está jogado no chão, com a cabeça apoiada no fogão. Sua garganta está cortada, e sua perna quebrada. Não pude deixa de evitar o grito, fiquei imóvel, o choro veio logo em seguida.

-Desculpe querida - uma voz feminina veio da porta de emergência- você o conhecia ?

Parada na porta de emergência que eu não percebi que tinha sido aberta, uma mulher está parada me observando com um sorriso largo no rosto. Ela usa um vestido que me lembra da aula de história sobre o século XVIII, o vestido é preto e liso, seu cabelo castanho já com alguns fios brancos estão presos rigidamente em um coque. Seu rosto é fino e moreno, boca pequena e rosada, seus olhos são grandes e verdes avelã.

- Realmente ele foi muito querido- ela deu dois passos para frente, seu vestido se arrastou no sangue- porém tinha um assunto pendente a tratar com ele.

Dei meia volta e tentei correr para o balcão, mas a porta se bateu, eu tentei abrir novamente, mas tentativa em vão.

- Não é educado dar as costas no meio de uma conversa.

Quando eu voltei a minha visão a ela, a última estava a centímetros de mim. Como ela se moveu tão rápido ?

-Desculpe querida- ela disse ainda com o sorriso- não é nada pessoal, mas vocês viu de mais.

Em uma de suas mãos, uma das facas que pertencia a David.

- Não- gritei,pondo meus braços a frente do rosto para me proteger.

Senti a dor novamente, sinto minha pele aquecer, ouvi um urro de dor, e quando eu abri novamente os olhos, a mulher estava caída, e a geladeira amassada.
Pulei o seu corpo e o corpo do David e sai pela porta de emergência e fui até a minha lambreta, não peguei o capacete, só dei partida e fui para o hospital com o coração acelerado e tentando raciocinar o que havia ocorrido.

SallemOnde histórias criam vida. Descubra agora