A Lebre

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Fui para a varanda da casa, fiquei sentada em uma das poltronas e passando a mão sobre a tatuagem. O que minhas mães iriam dizer sobre isso ?
  Fico pensando no que aconteceu, faço muito isso, fico imaginando se um dia eu já pensei que minha vida mudaria tão drasticamente. Um dia eu estou trabalhando em um café local e no outro eu sou levada a uma academia de uma espécie de policiais que seguem suas próprias regras.
   Eu posso ouvir as vozes vinda lá de dentro, Mikael discutia fortemente com o seu irmão e com o restante do conselho. Eu pareço ser um animal em extinção que eles lutam para saber quem vai ter minha cabeça pendurada na parede como um troféu.
  Um vento varreu o jardim, balançando os arbustos e árvores, até chegar na varanda, meu cabelo se sacudiu.
- Isso costuma significar boa coisa- Érica está esgotada no marco da porta entre aberta- o vento não bate nessas árvores já faz anos, os pássaros se foram já faz muitos anos.

-Quando eu cheguei aqui eu reparei isso- falo- mas por que eles se foram ?

- Eles se foram logos após a segunda guerra mundial. Sabe, não foi só os mortais que entraram em guerra em 1939.

Ela se aproximou e se sentou no braço da poltrona e continuou.

- Em 1937, uma bruxa tentou tomar o poder do conselho. Ela fez um massacre, seus seguidores em maioria são criaturas que são proibidos de entrar em nossos domínios. A bruxa matou a rainha Clarice, e o príncipe recém nascido. Em 1938 a guerra vai a Ásia, onde os feiticeiros, bruxos e caçadores entraram em guerra. Em 39 a guerra chega em nossas portas, a destruição que causamos foi disfarçada pela destruição que o mortais fizeram. Foi uma decepção quando Caçadores trocaram as Academias por poder e posse, feiticeiros e sacerdotes aliados se viraram contra nós ... decepção.

Érica olha para além do jardim, seus olhos não piscam, como se a lembrança da guerra estivesse passando a sua frente como se fosse um espetáculo de teatro.

- Qual era o nome dela- pergunto para quebrar o silêncio.

- Não sei, na verdade ninguém sabe ao certo, ela tinha vários nomes e ninguém sabe qual é o verdadeiro.

-Como ela morreu ?

- Não sabemos se ela morreu, em 1946 ela foi presa pelo seu irmão que foi um caçador.

- Foi ?

- Sim, ele morreu a alguma semanas atrás, você o conhecia muito bem, ótimo caçador e ótimo amigo.

- David ?

  Fui tomada pela última imagem dele na cozinha. Até que chegou aquela mulher... Quem era ela ?

- Quem o matou- pergunto um pouco nervosa - a quela mulher ?

- Vaiollet, seguidora fiel da bruxa que causou a guerra, ela estava sobre a nossa guarda a sete anos, como ela conseguiu escapar ainda não sabemos, mas reforçamos a segurança . Obviamente ela queria se vingar do homem que pôs a sua líder na cadeia, e conseguiu.

  Do fundo do jardim, um latido grave. Um cão São Bernardo saiu de trás de um arbusto. Seu pelo bem escovado brilha de tão limpo ao sol da manhã.  Ele correu até a varanda e se aproximou de Érica, deitou aos seus pés. Érica passou a mão em sua cabeça, o que parece que o deixou feliz.

- Olá, Siro- disse Érica ao cachorro.- Como foi a caçada ?

Do mesmo arbusto que o cão saiu, Ace surgiu com uma aljava na cintura e um arco nas costas e com  algo nos braços cruzados. Um pequeno coelho castanho claro.

- O que você tem em seus braços Ace? - perguntou Érica se levantando do braço da poltrona.

- Parece um coelho - digo.

- É uma lebre- responde Ace- eu encontrei a mãe e os resto dos filhotes mortos, provavelmente por uma raposa ou algo do tipo.

- Ele está bem ?- pergunto.

Odeio ver animal ferido ou morto.

- Ele está ótimo- disse Ace sorrindo para mim. A parte grisalha do seu cabelo brilha ao sol.

- Nem tanto- disse Érica- ele está com um corte na orelha, nada grave mas é melhor limpar. Vocês dois podem usar a ala hospitalar para isso.

- Claro- disse Ace- poderia me acompanhar, Katherine?

- Ta bom- sorri.

No hall, olho para direita e na sala de jantar, o conselho estão sentados conversando  e bebendo chá. Mikael olhava atentamente os movimentos do irmão, Julianna acrescentou algo a sua xícara, será que é bebida alcoólica?

Ace e eu fomos para a sala de estar,  no fim da sala, um  grande espelho sujo e com manchas pretas. Ace o empurrou e a moldura de pedra do espelho afundo na parede, e abriu como uma porta. Um grande salão, o teto circular com um afresco de um mar agitado, peixes, animais estranho que não sei identificar e um navio pirata, a imagem é muito realista. A muitas camas bem forradas com lençol brancos, do lado de cada cama, um criado mudo e um armário com portas de vidro, cheios de frascos de vários formatos e cores. Uma cama está desarrumada, Kill deve ter a usado recentemente. Fomos para uma cama arrumada e que fica perto de uma das grandes janelas estilo gótico de catedrais.
   Ace colocou o animal na cama e pediu para que eu o segurasse para não fugir.

- Sabe, não vai adiantar fazer um curativo- disse ele molhando algodão no álcool- ele não vai sobreviver quando podemos de volta lá fora.

- Por que voce não fica com ele ? - pergunto franzindo a testa, em um tom que fica óbvio que estou implorando.

- Não posso, meio que já tenho um cachorro.

- O Siro é seu ?

- Não, A Sira é da Érica, porém ela deu a luz a 5 filhotes no dia que você chegou. Eu cuidarei de um para me ajudar nas caçadas e coisa do tipo.- ele olhou nos meus olhos e sorriu novamente. E outra, uma lebre não me tem utilidade.

- Mas não pode abandonar um animal indefeso assim sem mais nem menos- digo acariciando as grandes orelhas do animal.

- Então fique com ele- Ace vai até o armário novamente e volta com uma faixa branca, que ele enrrola na orelha ferida- animal é una ótima companhia neste lugar, muito mais do que as pessoas. E você pode treinar ele.

- Há como treinar uma lebre ?- pergunto.

- Sim, treine primeiro para não sair de perto de você sem a sua ordem, eles são ligeiros. Ele irá se acostumar com você alguma hora. 

  Ele olhou para o meu braço, e seu sorriso se fechou.

- Bem vindo ao clã Pavão- ele puxou a manga da blusa e o desenho do mesmo pavão do meu braço estava no dele. 

SallemOnde histórias criam vida. Descubra agora