Dormindo entre os livros

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- Liz, eu... -

Eu já sabia exatamente o que estava por vir.

- Você...? -

Simon me analisou com os olhos verdes, parecia tentar se acostumar com minha nova imagem, antes os cabelos eram descoloridos, e agora exibiam um tom quente de vermelho.

- Vamos... Ser apenas amigos... -
Ele disse por fim e eu tive a certeza de estar certa sobre a mudança.

Bem, eu tenho uma mania: Sempre que não dá certo com alguém, eu mudo meu cabelo. Acho que é uma forma de dizer: "Ei, veja! Não sou mais aquela Liz, eu mudei e você não faz parte do meu universo novo!"

- Tudo bem. Amigos, então. -
Eu disse por fim, após constatar que Simon não tinha mais nada a acrescentar.

Mas quer mesmo saber? Todo esse lance de "amigos", nada disso aconteceria, era apenas um eufemismo para "Acabou aqui, vamos nos evitar a partir de agora". Mas... Você sabe o que é mais estranho nisso tudo? Eu não me sinto mal. Claro, acho que estou levemente triste, com aquela sensação de perda, mas não é como as mocinhas dos livros se descrevem ao se afastarem de seus namorados, como se algo nelas faltasse, eu estava bem.

Assim, eu me despedi, não tinha mais nada a conversar e eu precisava me organizar, no dia seguinte começaria mais um ano letivo, meu primeiro dia como estudante do segundo ano do ensino médio.

Cheguei em casa logo depois da minha mãe, gelei um pouco ao ver o carro dela parado na garagem. Ela e meu pai trabalham juntos em uma clinica odontologica, eu sou filha única, ou seja, sempre tive tudo que pedi e fui extremamente cuidada e mimada. No geral, mamãe era uma mulher muito compreensiva e com espírito jovial, mas meu pai... Bem, ele é um tanto conservador, quase enlouqueceu na primeira vez que mudei o cabelo, foram apenas mechas loiras, mas tive que ouvir um longo sermão sobre como sou linda exatamente da forma como eu nasci, sem alterações. O fato é que agora os dois estão habituados as minhas subitas oscilações na cor do meu cabelo.

Entrei em casa tentando parecer o mais normal possível, mas agora eu tinha a sensação de que um farol vermelho pairava sobre minha cabeça, mamãe dirigiu o olhar para mim e imediatamente me olhou como... Bem, como uma mãe que acabara de saber sobre o fim do namoro da filha.

- Oh querida... Você e Simon... -
Ela deixou a pergunta pairando no ar, enquanto me pressionava secretamente com aquele par de olhos castanhos tão compreensíveis.

- É... Hm, não deu certo, eu acho. -
Foi tudo que eu quis dizer, não havia necessidade para entrar em detalhes, então fui logo na direção do meu quarto, mas ela bloqueou minha passagem e abriu os braços para me consolar com um abraço, eu não precisava daquilo, mas estava claro que não conseguiria escapar assim fácil.

- Meu bem, quer conversar? -
Não, eu não queria conversar com minha mãe. Eu não estava triste, eu só queria ir para meu quarto e fazer uma super maratona de filmes ou de animes, talvez ate ver um dorama inteiro em uma única noite, da forma como eu fazia antes de ter de dividir meu tempo entre um namorado e meus hobbies.

- Eu estou bem, mãe. Só quero ir para o meu quarto. -

Falei, enquanto ia me libertando do abraço protetor e esmagador dela, e sem dizer nada, ela me deixou ir.

Outra observação importante: Toda garota tem uma melhor amiga. E eu, certamente tinha a minha. Maggie e eu nos conhecemos desde sempre, nossa amizade começou no primeiro dia da pré-escola e só tem se fortalecido desde então, nem mesmo o diretor ousava nos deixar em salas separadas, só Deus sabe o que aconteceria se acontecesse. Então, ao me trancar no quarto eu puxei o celular e disquei o numero dela, um gesto que já era quase automático. Maggie atendeu no terceiro toque.

Diário De Observação de Elizabeth JonesOnde histórias criam vida. Descubra agora