Se não tem pão, que comam brioches.

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Rachel nunca se considerou uma ativista, mas também não fazia parte do grupo que se fazia de cego, surdo e mudo.

Estudante o sexto período de Ciências Sociais, ela tinha consigo a seguinte frase: “O povo e o boi não sabem a força que tem”, sendo assim ela sempre defendeu suas convicções, sem se deixar levar pelas opiniões da massa.

Carlos, por sua vez, era do tipo explosivo; seu lema sempre foi: “Se não brigar pelo o que acredito ninguém o fará por mim.” E com isso Carlos sempre se ia à frente das manifestações e reivindicações do Diretório Acadêmico da Faculdade de Ciências Sociais.

Ambos estavam na mesma sala, e com opiniões sempre tão divergentes, não era de se estranhar que viviam se engalfinhando pelos corredores.

No decorrer do ano letivo, o professor de Ciência Politica propôs um trabalho em grupo cujo tema seria Revolução Francesa. Ao ver o tema do trabalho, Rachel se sentiu com a sorte grande, pois em sua época de colégio a Revolução Francesa foi seu momento histórico favorito. A força da massa, em derrubar o poder francês da época foi o que a motivou a ter consigo a sua frase preferida. Ela sempre se viu em meio às batalhas da época, e isso a deixava um pouco incomoda, porque ela sempre pensou que as manifestações podem ter consequências muito diferentes das que são propostas.

Como o trabalho seria em grupo, o professor fez o sorteio dos membros, e para infelicidade de Rachel e felicidade de Carlos, eles estariam no mesmo grupo. Carlos viu ali a chance de mostrar a Rachel que ela deveria se posicionar quanto ao que ela acredita, e Rachel sabia disso. Para ela estava instaurada ali uma batalha que ela não sabia se queria lutar.

Com os grupos definidos, e com seu espírito de liderança; Carlos resolveu marcar a primeira reunião para discutirem a linha a ser tomada no trabalho, para o próximo sábado. Rachel tentou por todos os meios possíveis adiar esse primeiro debate, para poder estudar todas as nuances da Revolução Francesa, e rebater as propostas idealizadas por Carlos, mas com a maioria do grupo achou melhor começarem logo. Rachel se viu sendo voto vencido, e Carlos ganhou sua primeira batalha.

Naquele mesmo dia Rachel já começou a estudar para defender seu ponto de vista, o que nem sempre coincidia com a da maioria. À noite vendo os telejornais, pois é a única coisa que ela vê na TV, por diversas vezes ela se viu ‘torcendo’ para a polícia e o pelotão de choque, quando os baderneiros e bandidos se infiltravam em manifestações que estavam ocorrendo naquele exato momento em seu país. Manifestar é uma coisa; bagunçar a vida de toda uma cidade e região é outra, Rachel pensava enquanto imagens de destruição e saques iam sendo exibidas na TV. Ela também se emocionava, e ficava orgulhosa de sua geração quando via os protestos pacíficos e os jovens de sua geração se faziam ouvir. Em meio a tantos pensamentos, Rachel adormeceu e teve um dos sonhos mais fantásticos.

“Rachel corria, ela não sabia para onde estava indo, mas ela sabia que precisava fugir”. Ao longe ela ouvia sons de cachorros latindo e tiros sendo disparados. Seus pulmões ardiam, ela já não aguentava mais correr, mas algo a impulsionava a ir sempre em frente.

Ela vestia roupas características do século 17, seu vestido simples, de camponesa, era levemente armado nas saias, e seu espartilho lhe aperta tanto o tronco que ela sentia que seu coração sairia pela boca ao qualquer momento.

Ao longe ela ouvia uma voz masculina que gritava: ‘Corram, ela não pode ter ido longe; afinal não passa de uma mulher. ’ Ao ouvir isso seu sangue ferveu, ela teve um breve desejo de voltar, mas sabia que se voltasse correria risco de ser presa e ficaria sem poder defender seu ideal. De repente, quando parou para se recuperar um pouco, sentiu uma mão tampar-lhe a boca e de súbito foi puxada para dentro de uma porta, que tão logo foi fechada, ficou camuflada entre as trepadeiras que se erguiam pelo prédio.

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⏰ Última atualização: Nov 11, 2013 ⏰

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