flawless

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  Meu corpo afundava no líquido negro, o céu estrelado parecia não ter fim. Estava nua, minha pele fervendo de calor. Eu me mexia mais do que deveria, meus braços se agitavam tentando urgentemente me trazer de volta a superfície, mas nada tinha efeito. Estava me afogando e não havia nada que eu pudesse fazer, meu coração desacelerava e minha respiração agora não passava de um ritmo lento.

 De repente, meus olhos captaram algo. Um rosto. Mas a água parecia enevoar minha visão. Parecia estar fazendo esforço para dizer alguma coisa e quando finalmente entendi, a voz não soou distante como deveria. Foi como se estivesse dentro na minha mente, suave e aveludada, chamando meu nome.

Lucy. 

Acordei gritando, perdendo o resto do meu leve sono.

Bridge; manhã de 15 de Dezembro 

  Quando o sinal tocou, foi como se uma injeção de adrenalina corresse pelas minhas veias. A aula parecia ter durado horas, mas era a impressão que uma aula de álgebra II causava em mim. Me levantei da cadeira com a maior pressa do mundo, mas acabei deixando toda a turma sair antes de mim. Acenei de leve para o professor, na esperança de que ele se lembrasse do meu rosto e me desse alguns pontos por simplesmente ser simpática, já que a minha classe não era muito de ter educação. 

  Enquanto andava em direção ao portão do colégio, parei no meu armário guardei todos os meus livros dentro, tirando um peso das minhas costas e da minha mente também. Quando todo o seu esforço nos estudos resultava em notas medianas ou terríveis (ah, a famosa álgebra II), chega uma hora em que cansa tentar. Tranquei o cadeado e respirei fundo, uma felicidade ingênua crescendo em mim. 

- Lucy. - A voz de Anna não passava de um sussurro em meus ouvidos enquanto senti suas mãos envolvendo minha cintura. Perto demais. -  Quer sair comigo hoje? Sinto tanto a sua tanta...

Inacreditável. Ela estava mesmo cogitando aquela possibilidade, apesar de tudo o que ela tinha feito na última semana. 

Anna era o tipo de garota que você imaginava quando pensava em uma líder de torcida. Gostosa (descrevendo-a com uma palavra vulgar), com um namorado que usa gel no cabelo e é atleta e com um complexo de superioridade bem grande. Mas na minha cabeça, ela era um pouco melhor que aquilo. Pelo menos era do que eu tentava me convencer. As coisas entre nós eram boas, no fim das contas. Eu nunca me envolvi emocionalmente com ela em um nível perto de amar ou algo do tipo, ficávamos sempre que tínhamos chance e em todas as festas que íamos. Ela parecia extremamente insatisfeita com o namorado, mas é claro que ninguém poderia saber daquilo e muitos menos que ela se envolvia comigo. Uma garota. 

Qualquer um pensaria que eu sou horrível por colaborar com esse adultério, mas eu sinceramente detestava demais o namorado dela, Kurt, pra que eu desse a mínima. Também gostava muito de ficar com Anna e ela havia se tornado uma amiga pra mim, até semana passada. Tudo o que eu sentia por ela agora era raiva. 

- Não consigo acreditar que você veio falar comigo! - Sorri, mas não era um sorriso feliz. Era ironia, coberta de desprezo. - Você deixou que ele me humilhasse, com um discurso homofóbico e nojento! O pior foi que eu acreditei que você pudesse gostar de mim, como amiga, assim como eu gosto de você. Mas parece que a sua capacidade de se importar com alguém não existe, Anna.

- Lucy... - Ela parecia sofrer e piorava cada vez que tentava falar mas as palavras não saíam. Assisti-a dar um passo para trás, com o rosto cada vez mais vermelho e os olhos cheios de lágrimas que resistiam ali. - Desculpa. Prometo que vou dar um jeito nisso. Eu prometo. 

- Duvido muito. - Respondi, mas amoleci um pouco com a reação dela. Não esperava por aquilo. - Eu vou indo, Anna. 

Ela assentiu, os olhos presos no chão. Senti seus olhos me engolirem enquanto eu caminhava em direção a saída.

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⏰ Última atualização: Aug 16, 2016 ⏰

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