ALCOÓLATRA E O MENINO DE AZUL
Roberto Pelegrino
1ª Edição
Brasil
213
Editora Zap Book
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Ficha catalográfica elaborada pelo editor)
Pelegrino, Roberto
Alcoólatra / Roberto Pelegrino.
1ª ed. – Campo Grande Zap Book, 2013.
ISBN 978-85-916001-2-0
1. Literatura brasileira. 2. Ficção. I. Título.
CDD-869.3
Índices para catálogo sistemático:
1. Literatura Brasileira. 869.3
Primeira parte
A tentativa
Pedro Ferreiro, cansado de lecionar o dia todo, andava pelas ruas de Itaquera abarrotadas de gente, naquela hora. Com passos curtos, cabeça baixa, pensava no que fazer. A sua garganta seca, como de costume, o convidava para beber muita cerveja. Todas as tardes, após deixar o trabalho de professor em escola pública da Zona Leste de São Paulo, ele passava no bar do Zezão, bebia até cambalear e chegava à sua casa já bem tarde da noite, e, ainda, embriagado. Naquele dia, desejava chegar mais cedo a sua residência, que, nos últimos tempos, mais parecia um palco de luta do que um verdadeiro lar. A ideia de jantar com as filhas, reconciliar-se com Marly e voltar a compartilhar da mesma cama com a esposa crescia em seus pensamentos. Porém, duas situações impediam o recomeço de uma nova etapa na vida conjugal: a primeira, o maldito vício de beber quase até cair; a segunda, o seu desempenho sexual, que passava por um período pior que o péssimo. Já se passavam mais de duas semanas que Marly abandonou a cama do casal e dormia em quarto separado. Ele sabia que deixava a desejar como esposo, como homem, como pai e, nos últimos tempos, a sua carreira profissional só piorava. Continuar bebendo e perder o casamento, ou mudar de vida? Não existia outra opção. Ainda caminhando, meteu a mão no bolso e tirou a carteira em que se encontrava a receita médica amassada que poderia, talvez, ser a solução do seu problema.
Ainda no caminho de casa, ao passar em frente de uma farmácia, Pedro olhou para os lados e não notou a presença de nenhum amigo ou conhecido por perto. Seguro por não ver ninguém do seu círculo de amizade, entrou de cabeça baixa, sem olhar para o balconista e entregou uma receita médica amassada.
− Ele olhou sobre os ombros e viu que Inácio, o Mãozinha, um companheiro de bar que possuía esse apelido por ter um braço atrofiado, o olhava com ares de gozação. Com dúvidas sobre se o amigo viu ou não a caixa do medicamento para impotência sexual, Pedro meteu-a no bolso mesmo antes do balconista embalar.
− Vou contar para o pessoal lá no bar que tipo de vitamina você comprou. KKKKKKk−gargalhou Inácio.
Com o remédio no bolso, apesar do desapontamento com Inácio há pouco, a ideia de uma noitada com Marly ainda crescia em sua cabeça. A última tentativa de sexo aconteceu não fazia mais que duas semanas, essa tentativa ficou pela metade e não agradou nem a ele, nem à esposa. De tão embriagado que se encontrava naquele dia, Pedro, no dia seguinte, por incrível que pareça, mal conseguia lembrar-se se o ato sexual foi consumado ou não. Marly dizia-lhe que a bebida roubava-lhe o interesse e a potência sexual e que ele, por mais que se esforçasse, não mais a satisfazia e ela não mais faria amor com um bêbado. A esposa avisou-lhe que somente voltaria a compartilhar da cama no dia em que ele deixasse de beber. A partir do dia em que Marly disse que não mais se deitaria com ele, Pedro entrou em desespero, passou a beber ainda mais, e os episódios de ciúmes aumentaram. Uma noite, ao notar que dormia sozinho, passou a esmurrar o colchão e morder o travesseiro. Mesmo embriagado, conseguiu lembrar-se dos bons tempos de recém-casados, período de muitas carícias, de paixão e de sexo farto e ardente. Aqueles bons tempos só existiam nas recordações; agora, Marly e ele viviam períodos de xingamentos, de troca de acusações e empurrões. O casal mais parecia dois irmãos briguentos, que compartilhavam do mesmo teto.