Capitulo Único

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Naquela semana eu havia começado a fazer exercícios, na tentativa de aliviar todo aquele estresse e raiva que havia dentro de mim. Começava correndo todas as manhãs, com meus fones de ouvido e tênis de corrida.

O sol daquela manhã de sexta-feira estava escaldante, o que era comum naquela cidade. Eu decidi mudar a rota, o percurso antigo sempre tinha as mesmas coisas e as mesmas pessoas, eu precisava de novas sensações. Sai correndo sem rumo, o vento forte batia em meus cabelos e faziam um barulho engraçado. Nada além da música envolvente nos meus ouvidos conseguia prender minha atenção, mas, entre o intervalo de uma música e outra, me senti em um lugar extremamente familiar. Continuei a correr. Havia apenas um simples carro parado ali, e logo um moço esguio e bem afeiçoado desceu dele, com um enorme buque de margaridas, aquelas eram suas flores preferidas.

Ele parou em frente a bela casa azul, com um enorme canteiro de rosas a frente. Ela sempre foi apaixonada por flores, não é atoa que ela era uma. Ele tocou a campainha, e logo ela saiu, com a cara de sono mais linda de mundo, seus cabelos presos em um coque complexo, completamente emaranhado, seu rosto estava inchado, o que mostrava claramente que ela havia acabado de acordar, seus olhos azul piscina brilhavam descomunalmente, ela estava emocionada, coisa fácil de se acontecer, pois minha flor sempre foi sentimental. Seu enorme sorriso apareceu, eu amava aquele sorriso. Ela falava coisas que eu não entendi, mas provavelmente ela estava reclamando por tê-la a acordado tão cedo, ela odiava isso. Logo pegou o enorme buquê e o beijou, ele gritou o quanto a amava para toda a vizinhança ouvir, sem se importar com absolutamente nada, mas, algo ali arrancou de vez meu coração, que já estava completamente machucado: ela também disse que o amava.

Senti meu corpo todo sangrar, continuei correndo, só que agora em direção à minha casa. Lágrimas escorriam em meu rosto, mas o vento as secava rapidamente.

O canteiro de margaridas que havíamos plantado há alguns anos não parecia ter mais vida, me dirigi até elas e as despedacei, como ela despedaçou o meu coração. Em poucos minutos toda a minha casa estava coberta pelas flores brancas, sem vida.

E lá estava eu, sentado no chão do meu banheiro que já havia presenciado vários momentos felizes nossos, agora estava coberto por terra, flores e lágrimas. O enorme espelho estava em minha frente, eu tentava enxergar o que eu não tinha, será que eu não tive a capacidade de fazer ela feliz? Será que ela foi feliz ao meu lado?

A pequena lâmina de barbear parecia sorrir para mim, ela era a minha única fonte de alivio no momento. Eu cortava meus pulsos na tentativa de sentir alguma dor mas meu corpo parecia anestesiado, não conseguia sentir nada. Eu a prometi que nunca mais me machucaria dessa maneira, mas ela prometeu me amar para sempre, se ela não cumpriu sua promessa por que eu cumpriria a minha? Não seria justo. Em poucos minutos o meu corpo inteiro já sangrava, cortes por todas as partes.

A dor vai curar essas lástimas, o soro tem gosto de lágrimas. As flores tem cheiro de morte, a dor vai fechar esses cortes.

Aquela pequena lâmina foi minha porta de entrada, eu queria sentir dor maior do que ela me fez sentir, mas parecia impossível. Com certeza, meu coração estava sangrando bem mais do que o meu corpo.

Na cozinha, a maior faca me convidava para um mundo de eternidade. Ela parecia entender todas as minhas dores, e saber todas as minhas fraquezas. A peguei em minhas mãos e comecei a observá-la. Aquela faca brilhava tanto quanto os olhos da minha flor, e ela estava em meu coração, por que aquela faca também não poderia ficar? Cravei a enorme faca em meu peito, sem a menor dificuldade. Sangue jorrava em minha mão, e eu sorri ao vê-lo. Meus olhos se fechavam lentamente, minha visão estava ficando embaçada. Senti meu corpo gelar e um escuro total surgir. Doeu, mas nada chegará aos pés da dor que eu senti por ela.

Eu prometi te amar para toda eternidade, e agora eu sei que irei cumprir. Espero que seja feliz, e, eu te amo minha flor. E, nunca esqueça, as flores de plástico não morrem.

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