Nunca imaginei que um dia eu pudesse presenciar aquilo. Mas eu estava, me venderam, negociar meu amor em troca de pilhas de barras de ouro. Desumano, isso fora e é totalmente desumano. Não que seja muito a minha cara viver por dinheiro, mas minha família estava na falência e me venderam, me senti humilhado, mas não tanto quando descobri com quem iria me casar, ninguém mais, e ninguém menos que Tiago, filho do Embaixador. Porém, isso não me deixou revoltado, não mesmo, eu apenas não entendia, por que iria me "casar" justo com ele, com o cara que deixou marcas empreginadas em meu ser, tanto fisicamente como, psicologicamente.Depois de ponderar sobre meus atos da vida, estava conversando com meus pais, sobre algo do meu suposto casório.
- Vocês entenderam? - Perguntei.
- Não. - Responderam em uníssono... Meus pais e eu estávamos conversando sobre minha viagem, e de como eu queria que as coisas fossem. Recolocando os óculos no rosto, suspirei e comecei a falar denovo.
- Eu não quero dormir no mesmo quarto que ele, antes do casamento, e acima de tudo quero distância das mãos dele em mim, e vou pedir ao Embaixador para que troque a fechadura do meu quarto para que eu possa ter paz e sossego. - Falei pela milionésima vez, e parece que eles entenderam.
- Bem, isso é estranho. Já que vocês irão casar, e também, terão uma vida sexual, imagino eu. - Mamãe disse calma. - Filho, eu sei o quanto pode ser difícil, e como é. Mas pense bem, você e ele terão que formar uma família, você mesmo já aceitou a cirurgia que permitirá que coloque um ovário em você. - Sorriu delicada. - Pense bem, antes da cirurgia você pode fazer "amor" com ele... - Gesticulou com as mãos.
Suspirei e levantei. Apontei o dedo indicador em seus rostos.
- Não teremos uma vida sexual! - Andei até as escadas e subi correndo pelo corredor até chegar ao meu quarto.
Tirei meus óculos e coloquei-os em cima do criado do mudo. Deitei na cama e rolei de um lado para o outro, imaginando como seria minha vida em outro lugar, minha vida seria estranha. Bem, mais estranho não poderia ficar... Engano, sempre pode.
- Senhor, telefonema da casa do Embaixador. - Uma empregada apareceu com o telefone me entregando e saindo do quarto.
- Gabriel falando... - Disse e ouvi um pigarreio do outro lado. Já sabia quem era, e sabia que agora viria várias reclamações e informações desnecessárias.
- Sou eu, Tiago... Liguei para falar que amanhã irei a sua casa lhe buscar, ordens de meu pai, espero que esteja com as malas prontas, e claro, que esteja apresentável, não use essas coisas que você costuma usar, coloque uma calça Skinny jeans e uma camisa social, preta ou branca, sabe que meu pai gosta de cores leves.
- Só isso? - Perguntei, me arrependendo.
- Claro que não. - Ouvi-o rir. - Terás que colocar umas roupas de frio, começou o inverno aqui, e quero que saiba que papai atendeu ao seu pedido, ou melhor ao pedido de seus pais, já mandou trocar a fechadura do nosso quarto para que possamos ter privacidade...
- Espera ai. Nosso? Possamos? Eu falei para que eu ficasse em um quarto exclusivamente meu, e que trocasse a fechadura para que EU pudesse ter privacidade. - Falei rápido e ríspido.
- Como?
- Isso mesmo... - Falei alto.
- Então, seu pedido foi negado. E contente-se com o que pode. Ou o que deve. - Falou calmo.
- Como pode agir assim, depois de tudo que me fez?! - Gritei levantando-me da cama começando a andar de um lado para o outro.
- Isso é passado, você deveria ter esquecido, assim como eu estou fazendo, eu mudei. Você sabe, já pedi perdão, e você me perdoou. Então, por favor, deixe o passado no lugar dele.
Desliguei o telefone arremessando ele na parede.
- DESGRAÇADO!
