Capitulo I - Visitantes

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Chovia muito, não deveria haver ninguém nas ruas, é comum que em noites assim as pessoas prefiram o conforto de seus lares, mas todo o devaneio de uma noite densa é quebrado por uma silhueta que se movia rápido como os espectros da escuridão, ele cobria a cabeça com sua maleta, tentava manter seca a única parte de seu corpo que a agua não atingiu. Olhando com atenção podíamos ver um homem que trabalha longe de sua casa e foi pego por uma mudança de tempo no fim de seu expediente, talvez até mesmo um chefe de família que anseia por um banho quente e sentar para jantar com seus protegidos.

Não demorou a chegar em casa, a porta estava destrancada, sua chegada já era esperada, parou na frente da porta esfregava os cabelos negros e curtos esperando uma boa parte da agua escorrer

Ouviu batidas familiares no chão de madeira de sua casa, eram calcanhares, o som acelerado deixava obvio as perninhas curtas de quem corria em sua direção, era nítido a ansiedade de quem o esperou a tarde toda.

De um dos cômodos da casa saiu um garoto, atravessou a sala o mais rápido que pode, corria com a intenção clara de se jogar no colo do rapaz, mas hesitou. O garoto que tinha os olhos quase cobertos pelo seu cabelo longo parou a um passo da porta, talvez dois pelo tamanho de suas pernas, estava surpreso.

- Pai! Você ta todo molhado!

Antes que o rapaz pudesse dar qualquer explicação, uma moça veio falando de dentro da cozinha - É claro que seu pai está molhado, se ele me ouvisse... - ela encostou na porta e abriu um sorriso motivado pelo prazer da razão, ela tinha os cabelos compridos e negros, o sorriso deixava mais explicito os olhos levemente puxados

O rapaz sorriu um pouco envergonhado - me lembre de te ouvir da próxima vez

- De novo? - a moça ergueu a sobrancelha esquerda

- Me lembra que eu pedi pra você me lembrar

A moça riu.

- Engraçadinho, se apronta logo, eu já terminei o jantar.

...

Após o jantar o rapaz aproveitou um tempo com seu garoto, que durou pouco, pois logo começou um programa especifico que a família acompanhava na TV, o rapaz e sua esposa estavam sentados no sofá, o garoto preferiu o carpete.

Já estavam na metade do outono, o contato físico tendia a amentar com os dias frios que chegavam, aquele lugar para aquele homem, era aonde ele mais queria estar, o conforto perfeito.

Mas derrepente, todo o êxtase do ambiente foi quebrado por um inesperado "ding-dong".

Era estranho receber visitas a essa hora da noite, uma família que optou a morar longe de seus parentes nunca espera visitas de vizinhos ou amigos sem aviso, muito menos a essa hora

O marido e a esposa se olham na esperança de uma resposta que não veio de nenhum dos dois, enfim no segundo toque o rapaz se dirige até a porta e ao abri-la se depara com uma figura incomum

Era um homem bem mais alto do que ele, 1,90 m por palpite, a capa de chuva não podia esconder sua magreza e por ser preta destacava a ainda mais sua palidez, cabelos da mesma cor que sua capa, suas olheiras eram tão profundas a ponto de se perguntar a quanto tempo esse rapaz não dormia

- Boa noite senhor - uma voz grave, porem rouca como de um doente invadiu a casa - vi que sua casa está à venda, poderia conhece-la? - o rapaz abriu um sorriso animado mostrando sua fileira de dentes tortos

Realmente a casa estava à venda, ele com sua esposa havia tomado essa decisão, a vida no centro da cidade era mais convidativa do que a de um bairro afastado, seria melhor para seu filho quando começasse a escola e evitaria algumas chuvas de fim de expediente para quem trabalha no centro.

Parte 1 - O princípio das doresOnde histórias criam vida. Descubra agora