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Hoje é sexta-feira. Já fazem duas semanas que fui solta. Neste meio tempo, tratei de reorganizar minha vida e observar em silêncio, minhas presas. Não fazem ideia de que estou de volta a cidade, e isso facilita bastante as coisas.

O dia está terminando, decidi vir ao parque. Há pessoas ali, no outeiro do gramado, fazendo um piquenique, pouco depois do lago. Os idosos alimentam os patos na água, com migalhas de seus sanduíches de pão branco entupidos com geleia de amora. Açúcar? A maioria deles deve ter um diabetes descontrolada. O sol brilha, reluzindo sobre a superfície do lago e do céu alaranjado, típico de um fim de tarde. Olhe só todas estas pessoas. Felizes e relaxadas. Prontas para aproveitar seu final de semana. Vejam como são descuidados, eles nem imaginam que eu os observo. Vejo as pequenas crianças se afastando de suas mãe, distraídas demais com um bate-papo com as amigas, para perceberem. Depois elas notam que seus pequenos se afastaram muito e soltam aquele potente grito de um genitor super protetor, seguido por tapas na criança, e mais gritos preocupados. Nunca entenderei este jeito cômico e estranho que algumas mães possuem.

Por enquanto, estou satisfeita. Estão todos seguros, hoje. Meu foco é outro, e ele estará na principal boate da cidade, esta noite. Será a oportunidade perfeita.

* * *

Após a breve caminhada no parque, caminhei até o hotel que ficava perto dali. Guardei algumas roupas, produtos básicos de higiene e as coisas de sempre em uma mochila e reservei uma entrada para o show da noite, na boate central. Não me recordo do nome daquele local, só sei que era horrível. Também levei um traje de papel de fantasia que comprei antes da viagem de ferias de verão, vários pares de luvas cirúrgicas descartáveis, uma touca de banho simples e alguns sacos plásticos de lixo, para cobrir meus sapatos. Eram meio barulhentos, mas funcionavam. Por fim, um dos itens mais importantes, uma seringa nova. Tudo coube na pequena mochila arrumada simetricamente. Sai do hotel pela saída dos funcionários. Não havia luz e nem câmeras, era o caminho perfeito. Fui até a boate caminhando,sem pressa alguma.

Por coincidência, enquanto me aproximava, eu o vi entrando na boate. Eu poderia reconhece-lo de longe. Sim, ele valia mesmo minha atenção especial.

Quando me dei conta, já estava no meio da multidão pulsante de humanidade fedorenta e imunda, corpos se esfregando e mim, derramando suas bebidas. Alucinados a batida da música, como se estivessem drogados. Me pressionavam com sua imperfeição doentia ao mesmo tempo inflamando meus sentidos sensíveis. Eu queria agarrar cada um deles, pega-los pelo pescoço, esmagar traqueia após traqueia enquanto os mortos começavam a se empilhar a meus pés. Foi uma luta me controlar ali. A força do instinto dentro de mim falava alto, mas depois um pavor me pegou, um pavor que nunca senti na vida. Um medo, de que minha verdadeira identidade estivesse a ponto de ser revelada a todos, de uma só vez.

Pesadas gotas de suor corriam sinuosas por minhas costas, guiadas por meus músculos tensos e paralisados. De algum jeito, consegui mexer as pernas lentamente, abrindo caminho pela multidão de adoradores barulhentos até chegar ao bar e olhar o espelho imenso pendurado atrás do balcão. O alívio correu por mim, reduziu meus batimentos cardíacos e esfriou o suor quando pude reassumir o controle sob meu corpo.
O tempo de observação havia acabado, era hora de ir atrás do alvo.

Logo, eu o vi saindo da boate. Jordan gritava suas despedidas, mas parecia estar só. Andou despreocupadamente sob a rua pouco iluminada, enquanto mexia em seu celular, desatento. Eu o segui rápida e silenciosamente para o outro lado da avenida e esperei por ele. Quando se aproximou, avancei. Ele me viu, mas não pareceu nem um pouco surpreso. Retribuiu meu sorriso quando o abordei.

- Já faz um tempo... -

- Sim, bastante tempo. - respondeu ele, ainda sorrindo, aproximando-se de mim,para me enxergar melhor.

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⏰ Última atualização: Aug 23, 2016 ⏰

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