One-shot

405 13 37
                                    

Na sala de operações especiais, todos os dez homens estavam aflitos; uns roíam as unhas, outros afrouxavam as gravatas. Observavam em silêncio as imagens reproduzidas por um refletor preso ao teto. Nelas estavam William Bonner e a sua não-esposa olhando com nervosismo para a câmera em modo zoom mirada em seus olhos tênues. Ambos se entreolharam antes de anunciarem o tão esperado resultado das eleições.

"Eu não vou suportar ouvir isso", choramingou um dos homens. "Você vai ter que tentar", disse o outro, apoiando a mão amiga sobre o ombro do rapaz. O silêncio e a tensão voltaram a se estagnar, deixando todos ali dentro suados. Antes do anuncio, a porta fora aberta em um solavanco, roubando o olhar de todos.

Bolsonaro, vestido em um terno feito com balas usadas na Segunda Guerra Mundial, costurado por criancinhas escravas em uma usina chinesa, entrou na sala em silêncio, apagando a luz que diminuía a qualidade das imagens.

Os murmúrios e cochichos começaram, parando assim que um dos homens se levantou. "Bolsonaro", falou ele. Bolsonaro, em um sorriso sádico, arrancou a escopeta de um dos seguranças e apontou o cano para o homem que voltou a se sentar. "Quantas vezes já falei para me chamarem de Bolsomito? ", berrou ele.

Os homens engoliram suas salivas e abaixaram suas cabeças, até mesmo William Bonner. "Desculpe, Bolsomito", corrigiu o rapaz assustado, "é que sua roupa ainda está com a etiqueta". Bolsonaro olhou para o terno e arrancou o pequeno papel escrito HELP. Os homens o olharam por um instante, voltando a encarar a mesa em sequência.

"Vamos para o resultado", falou William da tela. Os tambores rufavam enquanto ele ajeitava o cabelo, deixando todos mais apreensivos. "E parece que temos um empate!", falou surpreso. Atrás de si surgiu um gráfico altamente tecnológico que era dividido em três partes. No primeiro, havia o rosto de Bolsonaro com o número 11; ao lado estava Lula, com o mesmo número; e, por último, mas não menos importante, havia um pequeno quadrado branco com número gritante de 70 milhões que representava os eleitores que votaram em branco no segundo turno.

"Não é possível", gritou Bolsonaro, dando um ataque de pelanca. "Os números não mentem, William", falou a jornalista de nome desconhecido, organizando os papéis em branco sobre a bancada. "Isso é extremamente inédito", disse William em um suspiro apreensivo.

Do outro lado do Brasil, em um luxuoso sítio em Atibaia, Lula assistia ao Jornal Nacional enquanto Dilma pintava um quadro de seu rosto. A mulher, distraída com a beleza do jornalista da televisão, acabou mesclando o rosto dele ao de Lula, fazendo uma verdadeira desgraça que futuramente chamaria de arte. A parabólica estava atrasada e ele ainda não sabia o resultado da eleição.

A imagem chuviscada e cinza travava constantemente, deixando-o mais apreensivo. Fora então que os resultados apareceram, fazendo-o gritar de susto. O pinguço espremeu os olhos e tentou visualizar se tinha ganhado ou perdido, mas não entendia nada, nem mesmo o motivo de tentar coçar o umbigo com o dedinho inexistente. "Pelo amor de Deus, cumpanheira", falou ele impaciente, "quais foram os resultados? ".

"Lula", falou a mulher nervosa, "eu acho que esse é o momento para eu revelar um segredo". Lula sentiu a dramatização na voz dela, então catou um maço de notas de cem do bolso e usou para limpar o suor das axilas. "Eu...", pausou dramaticamente, virando o rosto para o chão, "também sou analfabeta".

O velho suspirou em comoção, mas depois surtou ao se lembrar de que ainda não sabia o resultado final. Em um mortal para trás, Lula correu até um de seus seguranças com o rosto pintado de vermelho, puxando-o até a televisão antiga. "Cumpanheiro, eu ganhei? ", perguntou esperançoso. O agente olhou para a televisão, depois para a Dilma e, por fim, para as notas de cem largadas no chão.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 30, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

0013 - Operação: DominaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora