Um

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Hoje é o dia em que todas estão eufóricos para conhecer suas novas colegas de corredor. Todas menos eu.
Enquanto Eduarda conta os segundo à espera de nossa futura companheira eu me preparo para fugir dessa recepção.
Não tenho o mínimo de ânimo para dar boas vindas a pessoas "inocentes" a este verdadeiro inferno.
Sim, inferno. Não como naqueles filmes de suspense ou de terror, isso vai de acordo com a percepção de cada pessoa, mas pra mim torna-se um inferno pois não temos liberdade de expressão aqui dentro, temos diversas regras e o pior de tudo, não podemos visitar nossa casa todo final de semana. Saímos apenas uma vez no mês e quando nossos pais autorizam.

Meus pais me internaram aqui no ano passado, e como desculpas eles disseram que eu precisava me introsar mais com as pessoas já que eu nunca tive uma amiga para levar em casa e passar a tarde juntas ou até mesmo estudarmos. Pra mim as garotas que conheci eram colegas e outras nem isso.
Em todo o ano que se passou eu obtive uma certa proximidade com a Eduarda mas meu amigo mesmo é o meu diário que aguenta minhas crises, suporta minha solidão e meu drama diário — já que Eduarda nem sempre está comigo pelo fato de que cada uma tem seu próprio quarto e nem sempre temos as mesmas aulas no mesmo horário, porém, sempre que podemos dormimos no quarto da outra, apesar de ser proibido dormirmos nos quarto de nossas colegas. Mas de que adianta proibir se todas nós sabemos que as regras daqui de nada adiantam se soubermos fazer tudo bem feito.

E é isso o que eu faço. Todas as noites, assim que o sinal soa às dez e vinte da noite eu fujo para os fundos do colégio onde há um portão e um muro alto proibindo a passagem de qualquer pessoa para dentro aquela área. Qualquer pessoa menos eu, que pulo o portão e fico na beira do rio escrevendo em meu diário.

— Não vai descer? — Duda pergunta entrando no quarto e eu nego com a cabeça.

— Vou dar uma volta no colégio, não quero precisar me esbarrar com mais patricinhas patéticas. — falei baixinho com o queixo apoiado nas mãos que estavam sobre a janela do quarto.

Duda assentiu e saiu do quarto me deixando sozinha.

Me Afasto da janela e vou e direção da minha cama, pego meu diário em baixo de meu travesseiro, me sento na escrivaninha ao lado da cama e começo a escrever...

"Hoje faz um ano que vim parar aqui, como eu poderia estar feliz se em todo esse tempo não consegui fazer amizade, não conheci pessoas que demonstram se importar comigo e que consigam lidar com minha teimosia. Os professores pareciam bem entusiasmados essa semana já que todo ano o salário aumenta de acordo com a quantidade de novatos que entram no colégio.
Pra mim nada disso tem importância, e só espero que a próxima garota que ficar no quarto 10 no quarto não seja fresca ou chata."

Paro de escrever por alguns segundos e sinto minha garganta sedenta. Guardo meu diário embaixo do braço e vou me desvencilhando dos diversos alunos que passam pelos corredores do colégio até chegar na cantina.
Pego um copo de água e bebo.
De longe vejo Alice e suas amigas trouxas, cochichando entre si.

Sinto repulsa dessas garotas.

Tento me afastar do colégio discretamente para que ninguém note para onde estou indo.

Blue [Romance Lésbico]Onde histórias criam vida. Descubra agora