Um barulho ensordecedor faz-se ouvir por todo o quarto e eu só quero atirar o despertador contra a parede. Ontem foi uma das noites mais exaustivas de sempre. Nós discutimos, esperneamos, ele voltou a bater-me e eu chorei. Fiz as malas mas, mais uma vez, desisti...
Acabamos por fazer as pazes e agora aqui estamos nós: deitados na mesma cama, com o seu braço à volta do meu corpo mesmo que eu tente manter uma certa distancia entre nós.
Levanto me após uma pequena luta entre mim e a força do seu braço e arrasto-me até à casa de banho logo depois de pegar numa camisola de lã branca e uma saia preta rodada. Estou na universidade de Belas Artes.
Tomo o meu banho coberta pelo cansaço mas quando reparo nas horas acordo do transe tentando compensar o tempo perdido ao deslizar para dentro das minhas roupas a uma velocidade estonteante. Seco o cabelo ondulado antes de o alisar completamente.
Ajeito desajeitadamente as repas antes de colocar o gorro do Jamei sobre o meu cabelo. Eu tento me despachar para não ter que o confrontar logo pela manha. Ele vai fingir que está tudo bem e no fundo isso é bom. Quer dizer é e não é, pois eu acabo por pensar que vivo num manicómio ou algo semelhante a.Tenho a responsabilidade de lhe deixar um bilhete a desejar um bom dia apenas para evitar futuras discussões. Vivo num apartamento pacato com dois andares que lhe pertence. Eu apenas vivo aqui porque Jamei assim quer e também porque lá em casa as coisas não estão muito bem.
Eu pego nos livros de desenho e coloco-os dentro da minha pasta antes de procurar freneticamente as chaves do meu carro. Eu rapidamente compreendo que Jamei as escondeu, receando que escapasse durante a noite ou até mesmo durante o dia. Ele poderia adivinhar que eu não iria muito longe sem o meu carro.
Sem outra alternativa, decido ir a pé ou então apanhar um dos transportes públicos.
