Uma britadeira parecia estar tentando encontrar o caminho da China através da minha cabeça. Senti a luz do sol através das minhas pálpebras e me encolhi, cobrindo minha cabeça com a colcha. Eu não estava nem perto de pronta para acordar. Aliás, que dia era hoje mesmo? Acho que sábado. Uma pontada atrás dos meus olhos me avisou que ia ser difícil eu me lembrar. Refazer os passos é sempre o caminho a seguir. Eu me lembrava de ter saído na noite anterior com o Cherr, meu futuro ex-melhor amigo que havia sumido e me deixado sozinha no meio de uma boate completamente lotada.
Qual era a boate mesmo? Uma nova, de que todo mundo estava falando. Só me lembro das luzes e do bar, onde passei a maior parte da noite de que me lembrava. Eu tinha que parar de beber whisky. Minha garganta doeu. Não só ela, na verdade, qualquer pequeno movimento que eu fazia com o corpo doía. O que eu tinha feito, arrumado briga com um caminhão? Aquilo com certeza ficaria roxo. Minha boca parecia o deserto e me estiquei para o criado mudo, tentando alcançar o copo de água e a aspirina que o Cherr sempre deixava quando esse tipo de coisa acontecia. Milagrosamente, o álcool não tinha efeito nele, o que eu dizia ser uma bênção, e ele uma maldição, mas o que importava era que era ele quem sempre acabava cuidando de mim. Mas não dessa vez, hoje não havia copo nem remédio. Urgh eu ia ter que levantar. Meu estômago fez um barulho terrível, concordando.
Abri os olhos debatendo se deveria ou não tentar comer algo, e fui cegada pelos mil sóis que refletiam através da parede de janelas de vidro a minha frente. Eu definitivamente não estava no meu apartamento. Eu devia ter imaginado que aqueles lençóis ridiculamente macios não eram meus, eles não pareciam em nada com meus desbotados paninhos comprados em loja de departamento. Todo o local gritava luxo, se os lençóis não te convencessem, havia os móveis e a vista. Meu deus, a vista! Sem sair da cama eu podia ver o topo dos prédios vizinhos, que tinham a mesma aparência cara que o cômodo em que eu estava. Algo me veio à mente e eu tremi ao constatar que estava nua. Não me entenda mal, eu não sou puritana, mas preferia saber ao menos o nome dos caras com quem dormia. Ele não estava em nenhum lugar que eu pudesse ver, e pânico começou a borbulhar no meu estômago quando pensei no preço daquele lugar. Saltei em direção ao telefone no topo de um dos criados-mudos espelhados que ladeavam a cama gigante em que eu estava. O telefone chamou uma vez e a voz de uma mulher soou através da linha.
— Recepção.
— Este quarto está pago?
— Não entendo o que a senhora deseja saber.
— Se alguém, que não se chama Nora está pagando pelo quarto em que eu estou! — Respondi, subindo minha voz uma oitava a cada palavra.
— Ah! — Ouvi o som de teclas sendo apertadas. — O quarto está no nome do Sr. Hogarth. — Respirei fundo, aliviada. Pensei em perguntá-la o primeiro nome do tal Hogarth, mas meu orgulho me venceu. Eu não ia deixar ninguém achar que eu não sabia nem o nome do cara com quem tinha dormido. Era a verdade, mas ninguém precisava saber.
— Obrigada. — Disse e desliguei o telefone.
Meu estômago urrou, exigindo ser atendido. Olhei ao redor, mas não vi minhas roupas em lugar algum. Me enrolei em um dos lençóis e fui em direção a uma das quatro portas do quarto. Uma delas era de vidro e parecia ir para uma varanda, outra eu abri e havia um closet lotado de roupas, todas masculinas e com a aparência cara. Pensei em pegar uma camisa emprestada, mas acabei desistindo pensando no rim que teria que deixar para trás caso estragasse algo. A porta seguinte era a de um nada humilde banheiro. Meu apartamento caberia quase todo dentro dele. Tinha tudo o que se tinha direito, desde duas pias com torneiras pretas, á um espelho gigantesco e uma jacuzzi envolta em madeira negra que parecia mais uma piscina. Considerei um banho, mas antes eu precisava de comida. A última porta dava para uma sala que tinha a mesma aparência tecnológica e impessoal do quarto. Comecei imediatamente a ouvir a voz alterada de um homem. Ele estava de costas para mim, na frente de uma parede como a do quarto, toda de vidro. Ele vestia apenas calça jeans, e estava descalço. Tinha ombros largos e seu corpo era definido em todos os lugares desejáveis. O cabelo preto e curto estava bagunçado, como se tivesse acabado de acordar, o que devia ser verdade. Sua pele branca estava levemente bronzeada e suas costas pareciam a de uma estátua renascentista, tão definida que era. A luz que vinha de fora fazia uma aura ao seu redor o fazendo parecer um Adônis moderno.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Ele Não É Meu Milionário - Degustação
ChickLitNora Bailey é uma estudante de música dedicada, que trabalha em um clube burlesco para ajudar a pagar as contas médicas da mãe doente. Uma vida calculada na ponta do lápis, até o dia em que Nora bebe além da conta e acorda na cama de um desconhecido...