Acho que já haviam se passado uma ou duas horas desde que eu sentara à beira da minha janela em nosso apartamento de New York. Kurt e Santana haviam saído. Admirava os dois pela coragem, afinal, a neve não caía e sim, desabava sobre a cidade. Até mesmo as aulas em NYADA haviam sido canceladas e eu resolvera ficar em casa, sem nem ao menos saber o porquê, enquanto Kurt e Santana saíam para desbravar a cidade embaixo daquela neve infernal.
Começava a acreditar que a minha decisão não fora realmente produtiva e, muito menos, saudável. Eu era Rachel Berry. Ficar sozinha com meus pensamentos era o mesmo que me permitir uma profunda análise psicológica. Eu realmente ficava estranhamente pensativa quando calada. Talvez, Santana estivera certa ao sempre dizer que eu falava demais para não pensar em meus próprios problemas e demônios.
A que ponto eu e minha consciência chegamos: eu dizendo que Santana Lopez está certa em seus comentários maldosos e maliciosos. Ela que jamais escute isso ou, muito menos, cogite essa hipótese. Eu não seria capaz de conviver com ela e seu egocentrismo por eu, finalmente, admitir que ela esteve sempre certa a respeito de um defeito meu. Aliás, que fique claro, eu sou Rachel Berry e costumo ser perfeita, até mesmo, em meus defeitos.
Levantei-me da poltrona próxima a janela e, extremamente agasalhada, percorri a sala em minhas meias de lã, apanhando o último livro que Quinn me indicara na última vez que conversamos.
Outra constatação sobre Rachel Berry, sozinha em casa enquanto uma pesada nevasca acaba com todos seus planos: ela tende a pensar muito nas pessoas, principalmente em Lucy Quinn Fabray.
Enquanto me sentava e procurava a página de minha última leitura, meus pensamentos foram parar junto dela. Eu sabia que desconhecia o motivo de sentir tanta falta dela, mas eu me enganava perfeitamente bem ao pensar que era porque Quinn era o mais próximo que eu tive de uma melhor amiga e que eu sentia falta de um pouco de intimidade com alguém. Não que Kurt fosse um péssimo companheiro, ele era o melhor quando não estava pensando e sonhando com Blaine e Santana... Ela ainda era a filha de Satã e só sabia ser prestativa e sensata quando realmente via que alguém passava por uma situação bem ruim.
Eu não estava mal, só com saudades. E Quinn... Quinn era simplesmente Quinn. Com aqueles olhos verdes que conseguiam me interpretar e me deixar calada e com aquele jeito que conseguia me passar segurança, mesmo debaixo do sarcasmo e da ironia. Ela era única e eu queria que ela estivesse aqui para conversarmos, mesmo que passássemos horas discutindo entre vermos um musical ou um dos seus filmes chatos. Ou, mesmo, para ela me orientar em minha leitura de "O Grande Gatsby".
O estranho em minha relação com Quinn Fabray foi a rapidez com que saímos do ódio latente e corriqueiro para uma amizade que ninguém mais entendia a não ser nós mesmas. O que era de fácil compreensão para nós era extremamente difícil para os outros até mesmo aceitarem.
Confesso que eu fiquei assustada no começo e demorei a perdoar tudo que aconteceu entre nós no ensino médio... Mas a faculdade veio. A solidão em New York também, Cassandra July e sua autodestruição me atingiram, Brody quebrou meu coração... E, em todos os momentos, ela esteve comigo. Foi Quinn quem atendeu minhas ligações quando eu chorei e duvidei do meu talento após uma aula com Cassandra e foi ela quem me consolou quando descobri o que Brody fazia depois de viajar por 130 km, debaixo de uma chuva torrencial na estrada.
Eu sabia de tudo aquilo, só que, conforme eu lia as páginas do livro e não absorvia uma palavra sequer do texto... Eu me forcei a lembrar que Quinn desaparecera. Quinn simplesmente sumiu depois do que acontecera com Finn. Eu não a vira em Lima e ela sequer mandou condolências ou apareceu por lá para ser consolada ou consolar alguém. Eu não me atrevi a ligar para ela na época, nós duas tínhamos uma ligação fortíssima com Finn e eu sabia que ambas estavam quebradas pelo que acontecera... Uma precisava da outra. Mas ela não apareceu e eu tive que lidar com tudo sozinha, pela primeira vez, desde que começamos a nossa amizade.
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I Choose You [FABERRY]
Fanfiction"Você sempre esteve ali, me esperando enquanto eu insistia em todas as escolhas erradas até, finalmente, escolher você."