Without Heart

“Não somos seres humanos a viver uma experiência espiritual, mas seres espirituais a viver uma experiência humana”- Pierre Teilhard De Chardin

Eu caminhava sobre meus tacões, me fazendo relativamente mais alto do que eu era na verdade. Minhas meias pretas com rasgões deixavam a palidez da minha pele sobressair. Minha saia vermelha baloiçava conforme os meus passos, assim como meu cabelo naturalmente loiro que suas pontas roxas quase batiam em meu rabo. Meu top preto apenas tapava meus seios, deixando minha barrida sarada e branquinha à mostra. Meu casaco de ganga movimentava-se conforme meus braços, deixando minha mala de ombros também baloiçar. Meus lábios vermelhos condiziam com a saia e com minhas unhas exageradamente grandes. Meus olhos castanhos carregados de lápis preto e rímel igualmente preto, olhavam sobre o papel que carregava em minha mãos e as portas das salas. Sempre com a cabeça erguida, eu procura minha sala. Que daqui a nada devia estar tocando.

Todos os olhares estavam sobrepostos em mim. Tanto femininos como masculinos. As mocinhas falavam umas com as outras, me olhando de lado. Deveriam estar comentando sobre mim. Pouco ou nada me importa. E os meninos me olhavam com malicia, comentando também com seus amigos.  

Em minha face não havia qualquer tipo de expressão. No meu olhar não havia qualquer tipo de brilho. Somente em meu corpo é que havia elegância.

Sou a Blake Keys, mais conhecida como “Without Heart”.

Não vejo a hora de sair desse inferno de colégio. Meus pais me obrigaram a vir para aqui estudar, dizendo que era o melhor pra mim. Mas eu sei o que eles queriam. Queriam ver-se livres de mim. Meus pais sempre preferiam Dylan, meu irmão mais velho. Sempre foi um garoto de sucesso na escola e agora está ajudando meu pai, na empresa de minha família.

Se eu estou com ciúmes? Nenhum pouco.

Eu não dou nem ao trabalho de impressionar eles. Mesmo eu sendo bem melhor que Dylan, eu não me vão esforçar pra mostrar isso, não vale a pena. Meus pais estão demasiado orgulhosos dele, para eu estragar essa felicidade. Eu estou pouco me fudendo para o que meus próprios pais pensam de mim. Eles têm a vida deles e eu tenho a minha. Eu não vivo pra impressionar. Eu vivo pra que me impressionem. O que é difícil.

- Babe – sussurraram em meu ouvido tentando suar sexy.

Mas eu já estava habitua a que ele fizesse isso. E pra mim, aquilo foi mais bufar em meu ouvido do que sussurrar, o que em nada isso era sexy.

Jaden meu infiel namorado.

Nosso namoro dura a dois anos. Mas nunca nos beijamos ou sequer transamos. Comigo é preciso muito pra isso acontecer. Já que eu não tenho coração. Só namoro mesmo com ele por interesse. Graças a ele posso ir a todas as festas que fazem em uma casa abandonada, um pouco afastado do colégio.

- Oi – falei seca abrindo meu cacifo, pousando lá todos os livros que eu não precisaria pra essa primeira aula, seria filosofia.

Ele me abraçava por trás. Então agarrei seus braços e me soltei dele com brutidão. Ele odiava que eu fizesse isso, mas eu também odiava que ele me abraçasse.

- Mal-humorada?

- Vir pra merda desse colégio não aumenta o humor a ninguém – revirei os olhos.

- Me diga o que é humor pra você?

- Saber me fazer rir – disse como se fosse óbvio.

- Você nunca ri do que eu digo.

- Porque você não sabe me fazer rir.

- Porquê que é tão difícil você ser como as outras garotas?