CLOSER

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Eu te avisto do outro lado do bar. Tantos outros lugares, tantas outras noites, mas acabamos aqui. Se você não tivesse se virado eu poderia nem ter te reconhecido, seu cabelo está pintado com uma cor normal agora. Ou talvez você só parou de pintá-lo de uma cor diferente a cada três meses e castanho seja a cor natural dele. Será que você tem tentando ser uma garota normal agora na cidade grande? Se garota normal é o que os filmes nos vendem, não está dando certo. Ainda dá para perceber no jeito como você repousa o copo no balcão e pede outra dose, no jeito que ri e olha para suas amigas que continua a mesma, que não é uma boa moça da cidade pequena tentando desesperadamente não ser.

Não reconheço suas amigas, espero que essas sejam melhores que as antigas. Me lembro da noite em que sai com sua turma, sei que disse que foi legal conhecê-los, mas eu nunca mais quero vê-los outra vez. E, por sorte, tem sido assim pelos últimos quatro anos.

Quatro anos.

Viro meu terceiro copo de uísque.

                                                                                                 ** 

Eu te vejo quando estou voltando do banheiro e meu corpo para por um momento. Reconheço sua pele queimada do sol — incrível como parece que você está queimado do sol em qualquer época do ano — e o cabelo castanho desarrumado. Estou louca ou ainda consigo me lembrar de como é escorregar os dedos por eles?

Vejo minhas amigas de longe, elas estão conversando animadas, espero que não sintam minha falta, você continua tão lindo quanto no dia em que nos conhecemos e eu preciso me aproximar. Preciso dizer alguma coisa, saber se ainda se lembra.

— Lucas – eu paro ao seu lado. Você não vira de imediato, acho que não te descobri aqui primeiro.

— Alicia — você diz meu nome devagar — E aí?

Consigo lembrar do gosto dos seus lábios.

— Nunca pensei que te encontraria aqui.

— Nem eu.

Seus olhos — mais verdes do que castanhos essa noite — me percorrem meio descaradamente. Parece que não mudou nos últimos quatro anos.

— Você está bonita.

Eu agradeço e sento na cadeira ao seu lado. Falamos idiotices. Você conta que está hospedado aqui, está passando alguns dias, não diz para quê, não diz quantos dias e eu não pergunto.

— Eu vim encontrar umas amigas. Moro do outro lado do rio. — Conto e você só assente.

— É mais a sua cara. — Você pondera e roda seu copo no balcão.

— Voltou a beber?

— Eu precisava ocupar meu tempo com alguma coisa... depois que você foi embora. — Você toma o último gole da sua bebida e recusa outra quando o barman pergunta. Claro que se lembra.

Eu absorvo sua punhalada.

— Não achei que já estivesse tão alto.

— Eu não estou — engole como se estivesse com um gosto amargo na boca —. Estou mais sóbrio do que gostaria.

Você sempre está.

— Eu nem lembro porque eu te larguei — digo e te encaro, até quanto você aguenta? — Eu estava louca.

Você ri, o mesmo riso debochado.

— Você era louca, Alicia. Você era louca.

Quero dizer que você era sexy e continua sendo e que eu perdia a cabeça, mas não digo nada. Eu devia esperar por toda essa tensão. Eu devia me despedir, ir embora. Está tarde, amanhã é sábado, mas preciso pagar algumas horas no meu trabalho, não deveria estar aqui mais, mas não consigo parar com você.

CloserWhere stories live. Discover now