Tahadhari

Prólogo

O homem correu, tropeçando nos próprios pés por algumas vezes, em desespero. Seu corpo magro tremia e seus pulmões ardiam pelo esforço incomum de correr por grandes distâncias. 

Seu nome era Ta'ziyah. Era um dos mensageiros dos 5 Reis, um mjumbe, encarregado de ir de vila em vila e recolher informações e leva-las para o Salão dos Reis na Capital.

Voltava da Tribo da Costa com uma comitiva de cinco guerreiros designados especialmente um por cada rei para protege-lo durante suas viagens, tanto de ida quanto de volta. Em sua maioria suas viagens eram tranquilas. Todas as tribos eram receptivas para com o mensageiro, além do mais, era uma posição de respeito. Porém, naquela noite, durante o caminho de volta para a Capital, o problema não havia sido com uma tribo ou qualquer guerreiro irritado. 

Havia montado acampamento com seus homens em uma clareira bem iluminada pela luz da lua. Estavam próximos ao Monte Wambua, batizado duzentos anos atrás, em homenagem ao primeiro rei das Cinco Tribos. Lá, quando escurecia, o tempo chegava a ser quase frio, apesar do clima comum ser o tropical. Diziam que no topo do Monte chegava a fazer ainda mais frio. Era possível ver a neve que cobria o topo do lugar mesmo do chão.

Ta'ziyah saíra da vista de seus protetores por poucos instantes e quando voltara já não havia mais nada. Eles haviam simplesmente desaparecido. A lenha que colheram para a fogueira se encontrava jogada no chão, como se tivesse sido atirada ao chão às pressas e o homem andou envolta do acampamento por alguns minutos, sem conseguir entender o que havia acontecido ali.

Porém, ele descobriu quando os pássaros vieram.

Ao longe pareciam uma nuvem. Eram tantos juntos que conseguiam deixar o céu da noite mais escuro ainda, como uma gigantesca nuvem de chuva. Porém, ao se aproximarem, os gritos dos animais se tornavam cada vez mais altos.

Apesar disso, os pequenos pássaros não eram o mais assustador, e sim o que voava acima deles. Era uma sombra com asas, diria o mensageiro, se pudesse descrever o que via. Apenas o corpo da criatura já tapava grande parte da floresta, impedindo que a luz da lua iluminasse as árvores, tornando tudo ainda mais escuro. Suas asas eram tão grandes que poderiam derrubar um pequeno exército com apenas um simples movimento e tinha garras. Garras longas e de aparência afiada.

E voavam alto, aqueles pássaros, descendo cada vez mais. Descendo na direção do homem, que observava, estático, sem conseguir fazer um movimento sequer.

No último momento o mensageiro pareceu recuperar sua consciência e começou a correr. Correu tão rápido quanto pode, sem parar, por minutos que pareceram horas.

Apesar disso, não foi rápido o suficiente. Os pássaros o alcançaram primeiro, fazendo-o cair no chão, enquanto agitava os braços em desespero, tentando livrar-se dos animais.

"Saiam! Saiam!" gritava, com a voz esganiçada de pavor, sentindo os animais bicarem seus braços e pernas, o barulho das asas batendo e dos gritos dos animais o deixando louco.

Então eles foram embora. O deixaram no chão e voaram para o alto novamente, como se tivessem perdido repentinamente o interesse no mensageiro. Ta'ziyah teve um momento para respirar aliviado. Ainda assim, durou pouco.

Assim que olhou para frente, viu que a outra criatura se aproximava. Gritou ao conseguir enxergar os brilhantes olhos vermelhos da criatura e se arrastou pelo chão, apavorado, tentando se distanciar. 

A última coisa que viu, porém, foi o grande animal descendo rápido em sua direção antes das garras afiadas atingirem seu rosto, furando seus olhos e deixando-o cair na escuridão.